Presidente superestima próprias virtudes, sabedoria política e poderes; resultado até aqui é enorme dificuldade para governar

Por William Waack

Lula não se deu conta ou não quer admitir a falta que faz um Estado-Maior com gente capaz de peitá-lo. É notável a diferença de inteligência política entre quem ele consultava havia 20 anos e o pequeno grupo atual ao qual empresta seus ouvidos – se é que empresta.

Lula com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG); presidente enfrenta dificuldades na articulação política
Lula com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG); presidente enfrenta dificuldades na articulação política Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

No primeiro mandato seus principais auxiliares tinham noção muito melhor do grau de resistência social e do grau de resistência no Legislativo ao presidente e ao PT. Os dois tipos de resistências aumentaram exponencialmente no período, na evolução de processos e fenômenos político-sociais já fartamente discutidos.

Mas Lula só parece enxergar – se é que enxerga – a resistência parlamentar. Lula nunca parece ter abandonado a noção de que 300 ou mais picaretas pululam na Câmara, e com os quais sempre soube lidar. Julga que é só operar melhor a concessão de emendas, cargos e ministérios.

Não parece estar funcionando, a julgar pelos maus resultados recentes no Congresso. Mas a reação de Lula às derrotas é insistir no lado “operacional” (aplacar as demandas dos parlamentares), ignorando que o Congresso é hoje, em larga medida, uma expressão da resistência social ao governo do PT.

Exemplo de onde vem essa resistência estava na Agrishow. Não, não se trata do confronto pela vitrine política, mas de valores. Fora do palanque, dezenas de milhares de pessoas participaram de “MBA a céu aberto” (Marcos Fava Neves) de tecnologia, com enorme quantidade de participantes de faculdades de ciências agrárias, colégios agrícolas, cooperativas, associações, sindicatos rurais, numa busca febril por aumento de produtividade e competitividade.

Os fracassos do governo no Congresso ao atacar a privatização da Eletrobras e o Marco do Saneamento têm muito mais a ver com essa “resistência social” do que com a “picaretagem” de parlamentares. Fora a ofensa aos poderosos chefes das Casas Legislativas ao tentar rever matérias aprovadas no Congresso.

O mesmo fenômeno está embutido no PL das Fake News. Sem dúvida é demanda da sociedade por alguma regulação do inferno das redes sociais. Mas, por extraordinária inépcia política do governo, matéria de enorme abrangência acabou vista como “bandeira de luta”, sobretudo do PT, e ferramenta para encurralar o adversário (que leva a dianteira na guerra digital).

Nesses primeiros meses de governo, Lula subestimou o tamanho e a natureza das resistências que enfrenta. E superestimou as próprias virtudes, sabedoria política e poderes. Até aqui o resultado é enorme dificuldade para governar, correr riscos desnecessários e embicar o País em mais uma oportunidade perdida.

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