Laudo aponta ‘avaliação inadequada’ do piloto em acidente que matou Marília Mendonça

Por Fabio Grellet – Jornal Estadão

Cenipa divulgou relatório após um ano e meio investigando as causas da queda do avião; família da cantora isenta piloto de culpa

Após um ano e meio investigando o acidente aéreo que matou a cantora Marília Mendonça e outras quatro pessoas, em 5 de novembro de 2021, na cidade mineira de Piedade de Caratinga, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão ligado ao Comando da Aeronáutica, concluiu que não houve falha mecânica e que o piloto contribuiu para o acidente, ao decidir qual seria a manobra feita para o pouso no aeroporto mineiro. A trajetória feita pelo avião o levou a atingir um cabo para-raios de uma linha de transmissão de energia da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).

Por lei, a função oficial dessa investigação não é atribuir culpa ou responsabilidade a quem quer que seja nem comprovar qualquer causa provável de um acidente, e sim propor medidas para tentar evitar que os acidentes se repitam. Antes da divulgação do relatório, também nesta segunda-feira, 15, o advogado da família de Marília Mendonça eximiu de culpa o piloto Geraldo Medeiros, que tinha 56 anos e experiência de 33 anos na profissão.

Ao discorrer sobre “fatores contribuintes” para o acidente, o relatório registra que o “julgamento de pilotagem” contribuiu para a queda da aeronave. “No que diz respeito ao perfil de aproximação para pouso (em Minas Gerais), houve uma avaliação inadequada acerca de parâmetros da operação da aeronave, uma vez que a perna do vento foi alongada em uma distância significativamente maior do que aquela esperada para uma aeronave de ‘Categoria de Performance B’ em procedimentos de pouso”.

Investigações concluíram que não houve falha mecânica no avião
Investigações concluíram que não houve falha mecânica no avião Foto: CORPO DE BOMBEIROS-MG

Segundo o Cenipa, a aproximação da aeronave para pouso “foi iniciada a uma distância significativamente maior do que aquela esperada” e “com uma separação em relação ao solo muito reduzida” (o avião estava mais baixo do que deveria, naquele ponto). O relatório cogita a hipótese de que a tripulação estivesse “com a atenção (visão focada) direcionada para a pista de pouso em detrimento de manter uma separação adequada com o terreno em aproximação visual”.

Segundo o relatório, o cabo para-raios com que o avião se chocou inicialmente não precisava de sinalização, porque estava fora da área considerada zona de proteção do aeroporto e das superfícies de aproximação ou decolagem e tinha só 38,5 metros de altura. Por isso, segundo o Cenipa, “não representava um efeito adverso à segurança”.

A investigação do Cenipa contou com uma equipe multidisciplinar composta por 30 militares e civis do órgão, entre eles especialistas em Fator Operacional (pilotos e mecânicos de aeronaves), Fator Humano (médicos e psicólogos), Fator Material (engenheiros), bem como Assessores Técnicos Consultivos compostos pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) e pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

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