Reforço aéreo
Por
John Lucas – Gazeta do Povo
Caça F-16 na base aérea Fighter Wing Skrydstrup, pertencente à Força Aérea Real Dinamarquesa (RDAF)| Foto: EFE/EPA/BO AMSTRUP DENMARK OUT
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Durante a cúpula do G7, realizada este mês, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, decidiu liberar o envio para a Ucrânia da arma que o país europeu tanto desejava: caças F-16.
Apesar da decisão, o governo americano, por meio do Pentágono, informou que a transferência dos jatos não deve ocorrer de forma imediata, mas sim a médio ou longo prazo. Nesse período, as forças militares da Ucrânia devem passar por um extenso treinamento para aprenderem a utilizar o jato na sua defesa contra a invasão russa.
Ainda não se sabe exatamente quais modelos serão enviados, nem se serão os mais recentes ou os de fabricação mais antiga, nem a quantidade exata.
Na última quinta-feira (25), o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, sinalizou que o treinamento dos pilotos ucranianos deve ser iniciado dentro das próximas semanas. Segundo Lloyd, o envio dos caças à Ucrânia “fortalecerá e melhorará ainda mais as capacidades da força aérea ucraniana a longo prazo e complementará os acordos de segurança de curto e médio prazo”.
Na terça-feira da semana passada (23), Josep Borrell, alto representante da União Europeia para a Política Externa, chegou a afirmar que o treino de pilotos ucranianos havia começado na Polônia e outros países aliados. No entanto, o ministro da Defesa da Polônia, Mariusz Blaszczak, disse que o treino ainda estava na fase de planejamento.
Por um tempo, os EUA se negaram a enviar caças para a Ucrânia por temerem que tal atitude escalaria o conflito para um confronto direto entre a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e a Rússia. No entanto, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, assegurou a Biden que as aeronaves não seriam utilizadas além da fronteira com a Rússia.
Em março, a Eslováquia enviou para Kiev sua primeira leva de caças MiG-29, composta de quatro unidades da aeronave de fabricação russa. Um mês depois, foi a vez da Polônia apoiar o país vizinho, enviando caças de mesma fabricação. O governo polonês, no entanto, não divulgou a quantidade que foi enviada. Com a decisão, Polônia e Eslováquia se tornaram os dois primeiros países da OTAN a contribuir com a força aérea ucraniana no conflito.
O fato é que o treinamento deverá ser complexo e contará com os pilotos ucranianos mais experientes, já que serão eles que deverão pilotar os F-16 futuramente. Além disso, é provável que o processo de treino seja coordenado pela Holanda e pela Dinamarca. O governo holandês também deixou em aberto a possibilidade de enviar logo após o fim do treino caças F-16 para a Ucrânia. No texto a seguir, iremos apresentar a história e os principais detalhes do caça F-16 que poderá ser enviado para a Ucrânia.
Histórico
O caça F-16, também conhecido como F-16 Fighting Falcon, foi lançado na década de 70, pela empresa americana General Dynamics. Em 1993, a General Dynamics vendeu sua divisão de aviões militares para a Lockheed Martin, que desde então vem sendo a empresa responsável pela fabricação do jato.
Sendo usado por mais de 25 países, o F-16 está em constante aperfeiçoamento desde a sua criação. O primeiro modelo foi o F-16A/B (de assento único ou duplo), que entrou em serviço em 1978. Depois vieram os modelos F-16C/D, que introduziram melhorias no sistema de bordo, radar e nos armamentos. Em seguida, vieram os modelos F-16E/F, que foram desenvolvidos especialmente para os Emirados Árabes Unidos e incorporaram novas tecnologias, como um radar AESA (de varredura eletrônica ativa) e um sistema integrado de guerra eletrônica.
O modelo mais recente do F-16 é o F-16V (Viper), que foi lançado em 2012 e oferece atualizações como um radar AESA avançado, um sistema centralizado de computação de missão e uma capacidade operacional similar ao do caça furtivo F-35.
Capacidade
O F-16 pode voar por mais de 860 km e tem a capacidade de lançar suas armas com alta precisão, o que faz com que o piloto da aeronave consiga se defender de aeronaves inimigas com grande agilidade. Além disso, ele tem uma enorme capacidade para voar em qualquer tipo de clima, o que permite que o jato dispare munições com precisão durante condições de bombardeio não visual.
O F-16 possui armamentos como o canhão M61 de 20mm, que suporta 500 cartuchos. Além disso, o caça possui um sistema de navegação inercial (auxílio computadorizado usado em aplicações de aviação militar para orientação de mísseis e voos espaciais) e GPS, bem como a capacidade para transportar até 7,7 mil kg de mísseis, bombas, tanques de combustível e pods (contêiner externo que pode ser anexado à aeronave para transportar equipamentos adicionais).
Vantagens e benefícios do F-16
O F-16 se destaca por ser um caça versátil, leve e econômico. Tem um preço de até US$ 63 milhões, dependendo do modelo, enquanto outros caças podem custar mais de US$ 100 milhões. Ele tem uma velocidade máxima de Mach 2 (cerca de 2,2 mil km/h), uma autonomia de voo de mais de 4 mil km e uma capacidade de carga útil de mais de 7 toneladas. Além disso, a aeronave pode levar uma variedade de armamentos, como mísseis ar-ar, ar-solo, bombas guiadas a laser ou GPS, canhões e foguetes.
Caça a jato F-16
Histórico
Concebido e desenvolvido pela General Dynamics.
Teve o primeiro voo em 1974 e foi introduzido para o serviço em 1978.
Desde 1980 vem participando de diversos conflitos.
Polivalência e versatilidade
O F-16 é um caça a jato polivalente, monomotor, altamente manobrável, apto a operar em todas as condições meteorológicas e de luminosidade.
Pode atacar alvos tanto no ar quanto no solo, com mísseis ar-ar, projéteis ar-terra ou bombas de queda livre.
Controle
Tem um controle de voo fly-by-wire, que usa sinais elétricos para controlar as superfícies aerodinâmicas da aeronave.
Tem um manche lateral e um assento inclinado para o piloto suportar por mais tempo as elevadas cargas G (força gravitacional).
Desempenho
Pode atingir uma velocidade máxima de Mach 2 (duas vezes a velocidade do som).
Alcança uma altitude máxima de 15.240 metros e tem uma taxa de subida de 254 metros por segundo.
Evolução
Evoluiu gradualmente para a função de caça-bombardeiro de alto desempenho.
Possui alta capacidade para atuar em todas as condições atmosféricas de dia e de noite.
Utilização e produção
Usado pela Força Aérea dos EUA e 25 países da Europa e Oriente Médio.
Até junho de 2018, foram produzidas 4.064 unidades.
Para servir a alta demanda, a Força Aérea dos Estados Unidos se associou à Lockheed Martin para abrir uma nova linha de produção para construir o F-16 Block 70/72 nas instalações da empresa em Greenville, Carolina do Sul.
Fonte: Lockheed Martin Mais infográficos
O F-16 também é conhecido por sua alta manobrabilidade, graças ao seu design aerodinâmico e ao seu sistema de controle fly-by-wire, que usa sinais elétricos para comandar os movimentos das superfícies da aeronave. Além disso, o F-16 tem uma excelente visibilidade para o piloto, que fica sentado em uma cabine elevada e inclinada para trás, com uma cúpula transparente que permite uma visão panorâmica.
Participação em confrontos
O F-16 participou com sucesso de vários conflitos, como as guerras do Golfo, do Kosovo, do Iraque e da Líbia, demonstrando sua eficácia e versatilidade em diferentes cenários. No início dos anos 80, Israel recebeu seus primeiro F-16, e foi sua força aérea quem utilizou pela primeira vez o jato em combate. Naquele ano, o F-16 conquistou sua primeira vitória aérea, em abril de 1981, no vale de Bekaa, durante a Guerra do Líbano.
Cenário da guerra
Em entrevista à Gazeta do Povo, o analista de riscos e major da reserva do Exército brasileiro Nelson Ricardo Fernandes da Silva observou que a principal ideia das forças ucranianas é utilizar o jato para tentar anular o avanço aéreo agressivo da força aérea russa.
“A vantagem estratégica com a chegada dos F-16 está justamente na anulação do apoio aéreo russo, o que tornaria mais fácil a batalha em solo para o exército ucraniano”, disse.
“Desde a Segunda Guerra Mundial, não existiu nenhuma vitória na qual a força atacante não tivesse superioridade aérea, nem que fosse uma superioridade regional. E hoje a Ucrânia não está tendo isso. Quem tem essa superioridade aérea regional é a Rússia”, pontuou Silva.
Para o analista, um dos aspectos que diferenciam as aeronaves americanas das russas é o nível de tecnologia embarcada. De acordo com ele, os aviões ocidentais costumam ter vantagens nesse quesito.
“Normalmente, as aeronaves da OTAN possuem mais optrônicos [sistemas eletrônicos que fornecem, detectam e controlam a luz] do que os aviões russos. Elas também são mais sofisticadas em termos de radares, dispositivos de visão noturna, entre outros. Até no tipo de mísseis que eles suportam e foguetes. Tudo isso tende a ser mais moderno do que os similares russos”, afirmou.
Silva ainda destacou as principais capacidades ofensivas do F-16 e como ele pode ser empregado no conflito. “Muito provavelmente, o F-16 consiga derrubar com facilidade os caças SU-24 russos, que são os que a força aérea da Rússia utiliza para apoio aproximado”, detalhou.
O analista lembrou que o caça de fabricação americana não é adequado para uso de apoio ao solo, porém, pode ser usado estrategicamente para “tentar acertar depósitos de munições de grandes concentrações, como depósitos de armamento russo e baterias antiaéreas de mísseis s-300 e s-400”. Segundo Silva, os F-16 ainda podem ser utilizados para tentar neutralizar a ação dos caças SU-25 e de helicópteros russos.
O analista explicou também que, com os F-16 sob seu comando, o exército ucraniano poderá finalmente iniciar uma ofensiva definitiva contra os russos e até entrar em territórios dominados pelo inimigo, como a região ocupada da Crimeia, caso tenha as devidas preparação e informações.
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