Brasil está na perigosa dependência do (mau) humor de uma única pessoa: Lula
O que acontecerá se Lula decidir que sua candidata para 2026 deve ser a primeira-dama, convertida em nossa Isabelita Perón? Alguém vai se opor?
Por Fabio Giambiagi
Mauricio Macri era o líder da coalizão que liderava as pesquisas para as eleições argentinas e, recentemente, emitiu a declaração que sintetizo a seguir: “Há 80 anos, uma parte da sociedade argentina decidiu acreditar em líderes messiânicos. Essa liderança paternalista desestimulou as pessoas a assumirem a sua própria responsabilidade. Nunca acreditei nesse caudilhismo. Os argentinos me ouviram muitas vezes falar da importância das equipes e da competição. Há alguns meses fomos enormemente felizes. A seleção apostou em um conjunto, mesmo tendo em campo o melhor jogador de todos, mas o resto não esperou que fosse ele quem assegurasse o triunfo. Não venceu o líder: venceu o time. Nossa coalizão conseguiu superar essa falsa ilusão do indivíduo salvador. Sempre fizemos isso conservando a unidade. Estou convencido de que esse é o time do qual a Argentina precisa. Por tudo isso, não serei candidato. E o faço convencido de que é necessário ampliar o espaço político da mudança que começamos no passado e de que precisamos inspirar os outros com nossas próprias ações. Quero agradecer a todos pelo amadurecimento de avançar na direção certa e dizer meu muito obrigado a todos pelo carinho que sinto nas ruas”.
Em 2022, no Brasil, a necessidade de evitar o perigo associado a uma seita de fanáticos levou a uma convergência de grupos políticos que tinham tido sérias divergências entre si. Nesse contexto, Lula da Silva liderava as pesquisas. O desafio histórico clamava por um gesto de grandeza, renunciando à sua candidatura em favor de um nome de unidade ou sendo candidato, mas compreendendo que teria que desempenhar um papel muito diferente do de líder do PT.
Infelizmente, Lula não fez o gesto de Macri nem revela ter a grandeza de um Nelson Mandela de deixar o rancor pessoal de lado e agir como o presidente de uma frente ampla. O jornalista Thomas Traumann noticiou que, quando alguém sugere que poderia estar errado, Lula responde: “Você teve 60 milhões de votos? Porque, quando você tiver 60 milhões de votos, você se senta nessa cadeira e faz do jeito que você quiser”.
O Brasil está na perigosa dependência do (mau) humor de uma única pessoa. Nesse caso, o PT tem que responder a uma pergunta: se a indicação for na base do “dedazo”, como em 2010, o que acontecerá se Lula decidir que sua candidata para 2026 deve ser a primeira-dama, convertida em nossa Isabelita Perón? Alguém vai se opor? É uma hipótese na qual o País deveria começar a pensar.