Bye, bye, Brasil

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo


Sem ânimo para escrever uma legenda para Cristiano Zanin (foto).| Foto: EFE/ David Fernández

Ah, o orgulho. Este é o mês em que o mundo descristianizado celebra esse que é o pai de todos os vícios e a fonte de todos os nossos sofrimentos, né? Pois então talvez não seja coincidência que hoje (1º), justo hoje, o Todo-Orgulhoso Lula, bancando o reizinho e dando uma banana para o que resta de decência no país, tenha indicado seu advogado pessoal, Cristiano Zanin, para o STF – aquela corte cujo orgulho ferido hoje persegue, prende e humilha.

Esse é mais um golpe no já combalidíssimo senso de ética do Brasileiro de Bem. Isto é, para quem ainda acredita nesse ser quase mítico que encontramos todos os dias diante do espelho, mas que nos escapa no meio da rua e nos telejornais. O Brasileiro de Bem que, depois de ter de engolir um descondenado na Presidência e de, dia após dia, se sentir vulnerável à vontade instável de um juiz-imperador, agora terá de engolir mais um advogado do PT na Suprema Corte. Sim, mais um.

E terá mesmo. Porque em um século o Senado nunca rejeitou uma indicação presidencial ao STF. E nada indica que desta vez será diferente. Pelo contrário, é bem possível que o presidente da Casa Alta, Rodrigo Pacheco, já esteja conchavando para que a confirmação de Zanin se dê sem as turbulências que seria de se esperar de tempos polarizados. Se duvidar, é capaz de até já estarem confeccionando aquela peça de vestimenta que lhe conferirá poderes extraconstitucionais: a toga.

Em tese, bem sei, caberia aos senadores de oposição (uma espécie de sociedade tão secreta que nem os próprios membros se reconhecem nela) atrapalhar a indicação que qualquer juristinha formado na Faculdade Law & Order de Direito sabe: viola claramente o Artigo 37 da Constituição. Aquele que fala da impessoalidade, moralidade e outros duendes do cerrado. Mas, por mais que se esforçassem o Moro, a Damares, o Astronauta e até o Mourão, atrapalhar não significaria impedir.

Resta o consolo de saber que, no caso de Zanin, pelo menos ninguém se surpreenderá com a conduta do aspirante a excelentíssimo. Não acontecerá o mesmo que se deu com Alexandre de Moraes, o outrora grande constitucionalista que até hoje só fez rasgar a Constituição. Posso até não ser vidente, mas consultando a borra do café da tarde aqui prevejo: Zanin entregará exatamente aquilo que se espera dele. Isto é, compadrio ideológico, perseguição aos inimigos do regime, censura, interpretações criativas da lei e ativismo jurídico. E não ouse reclamar: foi para isso que eles fizeram o L mesmo.

A mim, neste texto escrito às pressas e temperado pelo fel da indignação que não fui capaz de evitar, só me resta parabenizar Cristiano Zanin. Você conseguiu! Depois de perder sucessivas causas para o seu cliente preso na Operação Lava Jato, teve paciência o bastante para acreditar que o Sistema o recompensaria. Foi resiliente, como dizem os coaches. E agora receberá do Príncipe do Orgulho, por intermédio de seus estafetas temporais, o cargo que, no Brasil atual, equivale ao de semideus. (A referência para essa frase é Gênesis 3:5).

Parabéns, Zanin. Você se submeteu ao que há de pior no mundo e o mundo agora o recompensará com todo o orgulho do mundo. [SR. EDITOR, A REPETIÇÃO É PROPOSITAL]. Gostaria de desejar que fosse virtuosa essa sua passagem pelo trono. Mas não consigo. Desculpe. O senhor, digo, o Excelentíssimo Senhor me pegou num dia de pouca esperança. Se bem que toda a esperança do mundo ainda seria pouca. Mas tenho que me lembrar: a alma é maior do que a Pátria. Sempre.


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