Defecando e andando
Ricardo Kertzman
“Jair Bolsonaro é uma triste escolha do Brasil”, diz o jornal The New York Times.
Uma carta aberta ao mundo, a este mundo que está tão preocupado conosco, que até nos comove por tanto amor assim
O mundo está indignado com o Brasil. O NYT não compreende a insanidade dos brasucas. A The Economist condena a escolha brasileira por uma aventura autoritária. A CNN está com medo do rumo que estamos tomando.
O jornal El País, da Espanha, aponta o Brasil como um dos países do mundo a caminhar para um regime fascista. Quem mais? Deixe-me ver. Le Monde, The Guardian, Washington Post. Putz! Até o El Clarín!! Nuestros hermanos numa draga de fazer dó e preocupados conosco. Bonitinhos.
Estou aqui pensando: onde estava o mundo durante estes últimos 15 anos? Onde estavam todos, no Mensalão e no Petrolão? Onde estava o “escritório adjunto do comitê dos direitos humanos da ONU” enquanto Lula financiava clandestinamente o regime de Hugo Chávez e Nicolás Maduro?
Onde estava o poderoso Barcelona, durante os escândalos de superfaturamento dos estádios da Copa? A CNN, durante a compra das Olimpíadas? E o HuffPost, enquanto Lula, aboletado em um hotel em Brasília, comprava deputados durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff?
Pois bem. Onde estavam vocês, líderes mundiais, tão preocupados conosco agora? Me engano ou estavam festejando o líder sindical que havia chegado ao poder naquele país simpático, meio exótico da América do Sul, cuja capital é (qual é mesmo?) ah, Buenos Aires? Ops!! Brasília.
Me engano ou Bono Vox recebia “o cara” do Obama, em uma turnê pela Europa? O mesmo “cara” que hoje está condenado a mais de 12 anos de prisão e é réu em mais seis processos criminais. E o Roger Waters? A Madonna?
O The Intercept, meu Deus! Será que estava hibernando e não soube da Lava Jato, da Odebrecht e da JBS?
Sabe, mundo, enquanto você festejava o metalúrgico analfabeto, nós brasileiros estávamos afundados em nossos piores pesadelos, sendo massacrados por uma máquina corrupta que organizou o maior assalto aos cofres de um país na história democrática ocidental.
Enquanto você, mundo, se divertia com aquela “presidenta” que cantava “happy bordei tu iu“, nós ficávamos sem emprego e sem renda. Sem esperança, tristes, conformados com um destino cada vez mais próximo da Venezuela e cada vez mais distante de vocês.
Mundo, meu caro. The New York Times e companhia. Líderes mundiais e celebridades globais, por favor aceitem nossa maior gratidão por sua preocupação com nossas eleições. Mas temos de ser bem sinceros com vocês: sabem o que é? We don’t give a damn!
Traduzindo para o Português: nós não nos importamos; não queremos saber. Traduzindo para o Ricardêz: estamos cagando e andando para o que vocês pensam.”