Sovietizou de vez

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo


Lendo a excrescência júrica que é a ação civil pública do MPF contra a Jovem Pan, aprendemos como é a “democracia autoritária” defendida pela esquerda.| Foto: Paulo Polzonoff Jr.

Derrotas e mais derrotas. Depois da cassação de Dallagnol, da confirmação de Zanin como ministro do STF e da inelegibilidade de Bolsonaro (que deve se concretizar nas próximas horas), a extrema-esquerda infiltrada nos escaninhos do Estado agora pede o fim da concessão de uma rádio/TV que criticou, critica e não sei se continuará criticando o governo. É o processo, a meu ver irreversível, de sovietização do Brasil.

Instigado pelo amigo Flávio Gordon, dei um tempinho na convalescência aqui para ver a excrescência institucional travestida de ação civil pública. Ah, o cinismo! Como se fosse de interesse de toda a sociedade, e não apenas dos petistas, essa perseguição ideológica contra a Jovem Pan. Não satisfeitos, os membros do MPF, cuja capivara comunista as redes sociais já trataram de levantar, pedem indenização por dano moral coletivo. Além disso, se condenada (e provavelmente será) a Jovem Pan terá de veicular seguidas mensagens dizendo que “guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força” e “2 + 2 = 5”.

Logo no começo, os distintos autores desse documento histórico da mentalidade totalitária que tomou conta do Brasil em 2023 usam duas epígrafes. Uma é de Hannah Arendt. Só pode ser ironia, né? A outra é de uma sentença do Tribunal Penal Internacional contra a rádio Mil Colinas, que contribuiu para o genocídio dos tutsis no conflito tribal em Ruanda. Não estou inventando. Se quiser, pode voltar e ler a frase anterior novamente. O MPF está comparando a Jovem Pan a uma rádio que contribuiu para o extermínio de 800 mil pessoas em cem dias.

Aqui recomendo ao leitor que faça uma pausa na leitura. Vai lá, toma um antiácido. Ou talvez um ansiolítico. Eu mesmo deveria ter feito isso. Mas não fiz e estou aqui, com resquícios de uma gripe, o estômago revirado e tão nervoso que quase soltei um palavrão ao ler, logo no comecinho do documento, que “este órgão ministerial tem plena consciência do valor fundamental das liberdades de expressão, jornalística e de radiodifusão no Brasil”, no entanto. Nada de bom pode vir depois de um “no entanto” desses.

Depois do “no entanto”
E não vem mesmo. Depois do fatídico “no entanto”, o MPF diz que a Jovem Pan extrapolou os limites constitucionais da liberdade de expressão ao, por exemplo, pedir mais transparência no sistema eleitoral brasileiro. E diz em seu nome, leitor, já que se trata de uma ação civil pública escrita pela nata da burocracia nacional. Só com os salários dos procuradores, quanto a gente não está gastando? Sem falar nos penduricalhos.

No mesmo parágrafo escrito naquele dialeto típico dos tiranos bem-intencionados, o MPF diz que “Devem-se ter em conta (…)o fato de que as condutas apuradas, no contexto em que praticadas, tiveram potencial real de incitar atos violentos e de ruptura democrática”. Uau. Houve uma ruptura democrática e eu não estou sabendo? E quantas vidraças morreram nesses atos violentos de que falam os procuradores? Só espero que depois de ter lido isso você não tenha jogado o celular ou computador na parede. Porque eu quase joguei.

Mas esse trecho nem é o pior. Dá só uma olhada no que se lê adiante, quando os autores falam sobre os “conteúdos desinformativos”. Três, dois, um, respira fundo e abre aspas: “Tais conteúdos, quando veiculados em larga escala na esfera pública, ganham a forma de verdadeiras ‘campanhas de desinformação’, que, engendrando cenários de ‘desordem informacional’ ou de ‘caos informativo’, trazem consigo graves riscos à sociedade, em diferentes planos”. Vou me abster de comentar porque sinto que estou lendo um texto escrito por um dos símios do Teorema do Macaco Infinito.

Já contei que para justificar a cruzada contra os “conteúdos desinformativos” os procuradores usam as falácias das mudanças climáticas e da pandemia de Covid-19? Pois então está contado. A peça tem ainda estudo da fundação que leva o nome do fascista Getúlio Vargas falando em mais de 300 mil “conteúdos desinformativos” envolvendo as urnas eletrônicas. Aquelas que são tão tão tão tão (tão) boas que você é obrigado a confiar nelas. Senão.

Não tem perdão!
Não satisfeitos em me fazerem arrancar o que não resta dos meus cabelos, os autores dessa estrovenga concluem toda a lenga-lenga sobre ser proibido questionar o processo eleitoral usando o juridiquês mais cafona do mundo para dizer que “ao cabo, é a confiança das pessoas na democracia que fica abalada”. Não sei o que me deixa mais indignado: saber que alguém  ainda usa impunemente “ao cabo” hoje em dia ou a presunção de perfeição da nossa, entre mil, milhões, bilhões, zilhões de aspas, “democracia”.

O documento tem 215 páginas nesse tom de panfleto de DCE. Minto. Já li panfletos do DCE mais bem escritos. Mas a cereja do bolo está mesmo naquele parágrafo final que denuncia o espírito totalitário dos procuradores que não estão interessados em fazer justiça. Não! Tampouco estão interessados em ensinar como é que funciona essa tal de liberdade (panãnã) numa ditadura não-declarada como a brasileira. Não! Eles estão interessados é num paredão simbólico que cale de uma vez por todas essa gente que ousa não se dobrar às vontades do Regime. Depois dos dois pontos, uma amostra do totalitarismo messiânico dos procuradores:

“Por oportuno, este órgão ministerial consigna que, a princípio, não tem interesse em resolver a presente demanda por meio de conciliação ou de mediação (…) A defesa do regime democrático, colocado em perigo por condutas como as praticadas pela JOVEM PAN, é uma tarefa irrenunciável, que não comporta negociações ordinárias. Por maiores que possam ser as promessas de conformidade e de melhoria para o futuro, o passado não se apaga e desafia providências legais severas, proporcionais ao ocorrido”. Ou seja: pelo crime de discordar, não tem perdão!

Essa é a democracia autoritária do MPF. Aquela que você tem que engolir a seco. Sem reclamar nem questionar. Do contrário, será punido exemplarmente – como faziam os esquadrões de doutrinação durante a Revolução Cultural maoísta. Aliás, você já foi até a janela e gritou “o voto eletrônico é confiável!” hoje? Deveria.


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