Parte do Palácio do Planalto vê erro em ação de Paulo Pimenta, que ofuscou a notícia positiva da elevação da nota de crédito pela agência Fitch

Por Eduardo Gayer e Roseann Kennedy

governo Lula se divide nas avaliações sobre o anúncio de Marcio Pochmann à presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A forma como o economista heterodoxo foi confirmado no cargo, por meio de uma declaração a jornalistas do ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, foi vista como “atabalhoada” e “imprópria” por parte do entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Para uma ala do Palácio do Planalto, Pimenta errou ao não deixar o anúncio para a ministra do Planejamento, Simone Tebet, que teria ficado “vendida” na história. Ainda por cima, ao fazê-lo no início da noite de ontem, o ministro acabou por tirar dos holofotes a notícia positiva do dia para o governo: a elevação da nota de crédito do Brasil por parte da agência de classificação de risco Fitch.

O futuro presidente do IBGE, Marcio Pochmann.
O futuro presidente do IBGE, Marcio Pochmann. Foto: HELVIO ROMERO

Aliados do ministro da Secretaria de Comunicação, porém, o defendem e argumentam que era preciso “estancar a sangria” em torno de Pochmann em meio à “campanha difamatória”, nas palavras de uma fonte, contra o economista. O futuro presidente do IBGE tem suas posições econômicas contestadas e sua gestão à frente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), nos governos Lula e Dilma, altamente criticada.

Pochmann foi uma escolha pessoal de Lula com o apoio da ala mais à esquerda do PT, como a presidente do partido, Gleisi Hoffmann. Como mostrou a Coluna, a sigla tem um pacote de nomeações que envolvem indicar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para o cargo de diretor-executivo da Vale e, ainda, mexer na diretoria da Petrobras. Os pedidos, porém, não necessariamente serão atendidos.

A decisão de Lula sobre Pochmann estava tomada há semanas e vinha sendo articulada com Tebet pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. O problema, assim, nunca foi emplacar Pochmann no cargo, até porque se trata de uma decisão do presidente, mas, sim, a condução do processo.

No MDB, lideranças do partido entendem que o PT “faltou com a elegância” ao delegar o anúncio a Pimenta e expor a ministra do Planejamento, que foi candidata à Presidência da República ano passado e apoiou Lula no segundo turno.

Bate-cabeça na comunicação do governo já ameaçou reforma estruturante

Não é a primeira vez, no entanto, que há bate-cabeça no governo em torno de anúncios. No início de julho, a reforma tributária quase subiu no telhado após Paulo Pimenta afirmar que a então ministra do Turismo, Daniela Carneiro, permaneceria no cargo. Com a nomeação do atual ministro, Celso Sabino, já acertada, o União Brasil – legenda do titular da pasta – ameaçou não votar o projeto encampado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Diante da reação do Congresso, poucas horas depois do anúncio de Pimenta, o Planalto teve de mudar sua versão. Padilha emitiu nota oficial e confirmou a saída de Daniela Carneiro da Esplanada, e assim, garantiu a aprovação da reforma tributária.

Loading

By valeon