Inflação é culpa do governo

 Roberto Rachewsky  0 comentáriosFacebookTwitterWhatsAppLinkedInCompartilhar

Um dos fenômenos econômicos mais difíceis de o pessoal entender é a inflação.

A maioria das pessoas entende inflação como aumento dos preços. É por isso que culpam empresários, agricultores, proprietários de imóveis e profissionais liberais pela inflação.

O raciocínio que utilizam está ligado diretamente à percepção, àquilo que veem, e não à abstração que consegue deduzir a origem do que veem e suas consequências.

É por isso que muitos questionam: como o governo pode ser responsável pelo aumento de preços se ele não produz os artigos cujos preços sobem?

A resposta que evidencia o equívoco e ainda dá a dica que soluciona a dúvida é simples. Sim, é verdade que o governo não produz nada daquilo que consumimos como bens duráveis, alimentos, vestuário ou moradia.

Mas também é verdade que só o governo produz exatamente aquilo que cria inflação e sua consequência, o aumento de preços. Somente o governo produz e oferece dinheiro, ou em outras palavras, moeda e crédito.

O volume de criação de moeda e crédito é ilimitado; basta rodar um programa num computador ou uma impressora para pintar papel-moeda. Por outro lado, a produção de bens é limitada à capacidade produtiva da economia.

Aumento de preços ocorre quando o mercado percebe haver mais liquidez na praça, sugerindo que o poder aquisitivo relativo de cada unidade monetária dilui-se perdendo valor de compra.

Sendo assim, quem oferece produtos sujeitos à escassez ou limites de produtividade eleva os preços para se proteger na enxurrada de moeda e crédito que faz cada unidade valer menos.

Dinheiro é um bem como outro qualquer. Obedece como qualquer outro à lei de oferta e procura; quanto maior é a oferta com relação à demanda, menos vale, sendo o inverso também verdadeiro.

Sempre que o governo cria nova oferta de moeda e crédito, o que pode ocorrer a todo momento e em qualquer volume, o mercado reage logo em seguida aumentando os preços dos produtos.

Se, ao contrário, o governo refreasse e até contraísse a oferta de moeda e crédito, ocorreria o inverso. O valor monetário aumentaria e o valor dos bens e serviços pela redução da liquidez cairia.

O erro começa com a medição da inflação. Todo mundo olha para os índices de preços, IGPM, IPCA, entre outros. Muitos se apegam a um ou outro índice de acordo com a sua conveniência.

Se pertencem ou apoiam o governo, usam o índice que reflete menor aumento. Se forem da oposição, o contrário. Ocorre que cada índice tem uma peculiaridade e observá-los isoladamente está equivocado.

O Banco Central do Brasil, assim como os bancos centrais que são responsáveis por moeda e crédito nos mais diversos países, contabilizam a oferta de moeda nas suas mais variadas formas.

O conjunto do que é considerado moeda e crédito chama-se meios de pagamento, sendo que os conceitos e as práticas de contabilização e estatística obedecem a regras e padrões universais.

A expansão ou contração dos meios de pagamento leva mais ou menos tempo para se refletir nos índices de preço, sendo que esse hiato é maior quanto mais complexa e estável é a economia daquele determinado país.

Aprenda com a experiência. Não lute com a realidade e a ciência. Não culpe a sociedade pelos desmandos do governo pelo qual você torce.

Não diga que a inflação é de demanda como se fosse culpa de excessos dos consumidores.

Não. Inflação é um fenômeno meramente monetário, e sobre política monetária só há um responsável: quem produz dinheiro, moeda e crédito, ou seja, o governo.

Roberto Rachewsky

Roberto Rachewsky

Empresário e articulista.

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