Até onde a tecnologia dos celulares pode chegar? Veja a linha do tempo com os modelos mais marcantes dos últimos 50 anos
Por Guilherme Guerra, Alice Labate e Bruno Romani – Jornal Estadão
Otelefone celular completou 50 anos em abril de 2023, mas foram nos últimos 16 anos que ele passou por uma revolução. No período, os smartphones chegaram ao mercado, trazendo telas sensíveis ao toque, conectividade móvel, câmera traseira de melhor qualidade e, claro, fim dos teclados físicos. Depois de uma década e meia de inovação, porém, não parecem existir mais grandes mudanças a caminho. Nos próximos 10 anos, o celular deve permanecer com a mesma “cara” de hoje em dia – mas continuará como o dispositivo eletrônico mais importante na rotina das pessoas.
A principal aposta do futuro dos smartphones está em um segmento ainda pouco popularizado: os celulares dobráveis, cujas telas ganham vincos para serem curvadas e, portanto, expansíveis. A inovação é uma forma de crescer o painel do aparelho sem que tenha de ser abandonada uma das principais características que alçaram ao sucesso esses celulares inteligentes, a portabilidade no bolso.
Em 2019, a Samsung inaugurou a categoria de “dobráveis” com duas linhas de modelos que são expoentes na área: o Galaxy Z Fold e o Galaxy Z Flip, cujas telas podem se curvar respectivamente pela horizontal (como um tablet) ou pela vertical (como o antigo celular básico Motorola V3). Outras fabricantes, como Motorola e Xiaomi, seguiram a inovação e apresentaram smartphones expansíveis.
“A tela é muito importante para um smartphone”, explica Renato Citrini, gerente sênior da área de Mobile Experience da Samsung no Brasil, citando a relevância que esses displays ganharam com uso mais intensivo de imagens e vídeos nos dispositivos ao longo da década.
Para o consumidor, é importante que os aparelhos tragam telas grandes, mas a portabilidade continua a ser um fator importante para as pessoas. Por isso, a maior parte das fabricantes cravou que os modelos à venda tenham, em média, tamanho dos painéis em 6 polegadas, que ainda podem ser segurados em uma única mão. Daí a sacada dos dobráveis: “O desafio de ter uma tela maior, mesmo sem aumentar a mão do usuário, é resolvido aí”, diz Citrini.
DYNATAC 8000X
MOTOROLA | 1973
O primeiro celular da história foi apresentado em 1973 e comercializado 10 anos depois. A bateria durava somente meia hora e custava US$ 4 mil
SIMON PERSONAL COMMUNICATOR
IBM | 1993
Com capacidade para receber e-mail, fax e mensagens de texto (além de ter tela sensível ao toque), o Simon é considerado o “avô dos smartphones”
8110
NOKIA | 1996
Conhecido como “Nokia “banana” pelo seu formato, o celular chamou atenção por ter aparecido no filme Matrix
STARTAC
MOTOROLA | 1996
Era o “celular de pai”, especialmente se viesse acompanhado com a capinha que se prendia ao cinto. Foram 60 milhões de unidades vendidas
3310
NOKIA | 2000
Um ícone, pois tinha a resistência de um tanque de guerra. Não apenas isso: ajudou a popularizar o jogo da cobrinha
SPH-M100
SAMSUNG | 2000
É o primeiro celular da história com capacidade para tocar arquivos MP3, algo realizado antes mesmo do iPod
BLACKBERRY 6210
BLACKBERRY | 2003
Pouco conhecido no Brasil, o 6210 foi um dos modelos mais populares da canadense BlackBerry. O teclado físico fez dele uma ferramenta fundamental de executivos
1100
NOKIA | 2003
É o mais vendido da história: foram 250 milhões de cópias comercializadas, o que ajudou a coroar a Nokia como a maior marca de celulares da época
V3
MOTOROLA | 2004
Ele era estiloso, virou ícone nas mãos de Paris Hilton e tornou- se objeto de desejo no meio da década de 2000. Vendeu 130 milhões de unidades
LG PRADA
LG | 2006
Apresentado meses antes do iPhone original, é o primeiro celular da história com tela sensível ao toque. Vendeu só 1 milhão de unidades
IPHONE
APPLE | 2007
Icônico, definiu o smartphone: tela sensível ao toque, aplicativos, conexão com internet, câmera de boa qualidade e capacidade de reproduzir diferentes tipos de mídia
HTC DREAM GLOBE
HTC | 2008
Ele não foi comercializado no Brasil, mas foi o primeiro dispositivo com Android, lançado três anos após o Google comprar a startup que criou o sistema operacional
GALAXY S1
SAMSUNG | 2010
Foi o primeiro aparelho com Android a mostrar que era possível disputar mercado com a Apple – antes dele, os aparelhos com o sistema do Google tinham desempenho sofrível
IPHONE 4S
APPLE | 2011
Foi o primeiro celular da Apple de muitos brasileiros. A boa qualidade da câmera e do processador ampliaram sua vida no mercado de usados durante muitos anos
MOTO G1
MOTOROLA | 2013
Mostrou que era possível construir um celular do tipo “bom e barato” e se tornou o smartphone mais vendido da história da Motorola
GALAXY S6 EDGE
SAMSUNG | 2015
Foi o primeiro celular com bordas de vidro curvado, dando origem ao design de “tela infinita”, que posteriormente foi copiado à exaustão pelos concorrentes
IPHONE X
APPLE | 2017
Foi o primeiro iPhone a contar com a “franja” no topo da tela, o que influenciou toda a indústria a procurar designs mais criativos para acomodar as câmeras frontais
REDMI NOTE 9
XIAOMI | 2020
A linha Redmi Note mostrou o potencial de uma marca chinesa para o Ocidente: até 2021 foram 140 milhões de unidades vendidas do celular da Xiaomi
GALAXY FOLD
SAMSUNG | 2020
O primeiro celular com tela dobrável produzido em larga escala mostrou que, talvez, os smartphones ainda não tenham atingido o teto como classe de aparelhos
Evoluções, e não revoluções
As inovações esperadas para os próximos smartphones são incrementais, e não exatamente de cair o queixo, como foram as primeiras telas sensíveis ao toque ou as câmeras potentes. Talvez a era de ouro dos smartphones tenha passado, e isso não é ruim, pois aponta para a maturidade do setor.
“Estamos próximos a um platô tecnológico, similar ao do setor automobilístico”, aponta Luciano Barbosa, chefe de operações da Xiaomi no Brasil. Segundo ele, as diferenças entre os modelos e as fabricantes caminham para customizações mínimas e diferenciações de sistemas operacionais, e não para recursos exclusivos. “São aparelhos muito bons e que já cumprem tudo o que você precisa. As fabricantes de smartphones vão pelo mesmo caminho das montadoras.”
Exemplo desses pequenos grandes saltos está na evolução dos chips semicondutores. A cada geração, eles encolhem de tamanho enquanto apresentam mais capacidade de processamento. A medida utilizada na indústria é o nanômetro, equivalente a um milionésimo de milímetro, para medir a distância entre os bilhões transistores (por onde passam as correntes elétricas do material). Hoje, o processador A16 Bionic, lançado em 2022 pela Apple para o iPhone 14 Pro, é de 4 nanômetros, com 16 bilhões de transistores — mas empresas como a IBM pesquisam como criar um semicondutor de 1 nanômetro, por exemplo.
Outra inovação esperada está nas baterias de grafeno, que prometem acelerar a velocidade de carga de eletrônicos de horas para minutos. Em pesquisa há duas décadas, esse material de carbono ainda está longe de chegar à produção em massa, mas montadoras como a Tesla investem bilhões de dólares na tecnologia em busca de agilizar a recarga de automóveis elétricos.
Embora as evoluções sejam bem-vindas, não é nada que deve significar um chacoalhão de vendas no setor de telefonia móvel, segundo Reinaldo Sakis, da consultoria IDC.
“Não há mais para onde o mercado crescer”, aponta o analista. Hoje, praticamente cada adulto no Planeta já possui um smartphone, o que significa que as fabricantes atingiram um teto de crescimento, explica ele. “Agora, estamos em um mercado de substituição de aparelhos.”
Rei dos eletrônicos
Ao longo dessas quase duas décadas no mercado, o smartphone provou-se um sucesso por uma série de razões — e é difícil encontrar quem viva sem ele. Justamente por isso, a expectativa é que, como o “rei dos eletrônicos”, o celular controle outros dispositivos, em movimento batizado de Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês) e turbinado pela popularização do 5G.
“Estamos caminhando para remover as barreiras entre os sistemas”, diz Ruben Castano, diretor executivo de Customer Experience da Motorola. “A beleza disso é que há infinitas possibilidades de conexão. O celular vai continuar a ser o dispositivo que eu carrego comigo, mas vai ser capaz de turbinar um ecossistema de eletrônicos”.
“Estamos próximos a um platô tecnológico, similar ao do setor automobilístico”
Luciano Barbosa
Chefe de operações da Xiaomi no Brasil
Hoje, é possível ver parte dessa conexão: o smartphone conecta-se ao relógio (smartwatch) e à televisão (smartTV), por exemplo. Em um futuro não tão distante, porém, a conectividade pode ser levada a geladeiras e casas inteiras, com mais simplicidade e rapidez em relação ao que temos hoje.
Sakis, da IDC, não tem dúvidas: “Ninguém acredita numa substituição completa dos smartphones”, diz. “Eles devem continuar como o centro de mídia dos próximos dez anos.” •
COLABORARAM: BRUNO PONCEANO E LUCAS ALMEIDA (WEBDESIGN); MARCOS MÜLLER E MAURO GIRÃO (INFOGRAFIA)