O que fazer após renegociar as dÍvidas? Economistas dão dicas

Sem um planejamento adequado com as finanças, os participantes do Desenrola podem voltar a ter dívidas

Por Agência Brasil – Jornal Estadão

Com R$ 8,1 bilhões de dívidas bancárias renegociadas, segundo balanço mais recente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o programa Desenrola completou o primeiro mês na última quinta-feira, 17 com 985 mil clientes atendidos.

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Nesta fase do Desenrola Brasil, bancos oferecem condições especiais para a renegociação de dívidas
Nesta fase do Desenrola Brasil, bancos oferecem condições especiais para a renegociação de dívidas  Foto: Giovanni Nobile / BB

Apesar do sucesso da iniciativa, que será expandida para débitos não bancários nas próximas semanas, economistas recomendam cuidados com o consumidor que limpa o nome.

A principal crítica diz respeito à falta de educação financeira na primeira fase do programa, que retirou dos cadastros negativos dívidas de até R$ 100 e está refinanciando débitos com instituições financeiras de clientes que ganham até R$ 20 mil. Sem o planejamento devido, advertem os economistas, o alívio pode durar pouco, com o correntista endividando-se novamente.

O principal ponto de atenção diz respeito aos débitos de até R$ 100. Como condição para aderirem ao Desenrola, as instituições financeiras limparam o nome de quem devia até esse valor, mas os débitos não deixaram de existir, continuando a ser corrigidos com juros.

“Essa medida teve como objetivo liberar o consumo. Quando há a desnegativação, o consumidor pode voltar a fazer crediário, mas isso não implica a quitação da dívida”, afirma o professor de Finanças do Ibmec Gilberto Braga. Com juros médios de 59,9% ao ano no crédito a pessoas físicas, segundo o dado mais recente do Banco Central, esses débitos dobram em um ano e meio.

Educação financeira

Em relação à Faixa 2 do Desenrola, os economistas concordam com a necessidade de planejamento por parte dos correntistas para não se endividar após a renegociação. “Para quem parcelou débitos, o melhor a fazer é honrar esses compromissos renegociados. A ideia é primeiramente quitar esses compromissos para depois, se for o caso, se endividar”, argumenta Teixeira.

“Se na renegociação a parcela ficar muito baixa, permitindo que, com segurança, volte a consumir imediatamente, pode fazer isso, mas dentro de um planejamento muito responsável”, acrescenta.

Para o professor Gilberto Braga, a principal crítica ao Desenrola, até agora, diz respeito à falta de um programa de reeducação financeira. Embora alguns bancos promovam campanhas de esclarecimento por meio de vídeos para quem renegocia os débitos, essa não é uma condição obrigatória para aderir às renegociações.

“O Desenrola oferece uma solução plausível para a dívida, mas não vem acompanhado de um processo de reeducação financeira. Acho que seria interessante que se colocasse à disposição uma forma de ajuda para as pessoas poderem se programar melhor em relação a seus orçamentos”, salienta Braga.

A portaria que criou o Desenrola prevê cursos de educação financeira apenas para a segunda etapa do programa, que oferecerá descontos para a Faixa 1, que engloba dívidas não bancárias. Os cursos serão ofertados na plataforma eletrônica construída pela B3 (bolsa de valores brasileira) que leiloará os descontos oferecidos pelas empresas, mas não serão necessários para aderir aos parcelamentos. O cliente pode inclusive começar a assistir às aulas e abandonar o curso, sem impedimento para as renegociações.

Prevista para ser lançada em setembro, a faixa 1 abrange devedores inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) ou de renda mensal até dois salários mínimos com débitos de até R$ 5 mil com empresas de fora do sistema financeiro. A categoria abrange concessionárias de água, energia e gás e crediário em comércio.

Cadastro negativo

Segundo a Febraban, cinco milhões de registros de dívidas de até R$ 100 foram retirados dos cadastros negativos até 27 de julho deste ano, quando o processo foi encerrado.

Na maior parte dos casos, os débitos nesse valor dizem respeito a contas esquecidas nas instituições financeiras sobre as quais continuam a incidir tarifas. “Na realidade, todo mundo precisa ter muito cuidado. A primeira providência, sendo retirado do cadastro de inadimplentes, é imediatamente quitar essa dívida de pequeno valor o mais rapidamente possível”, diz o coordenador do MBA de Gestão Financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira./Agência Brasil

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