História por RFI 

Israel: como o exército mais poderoso do Oriente Médio foi apanhado de surpresa pelo Hamas© REUTERS – RONEN ZVULUN

Após o ataque surpresa do braço armado do Hamas e sua infiltração em solo israelense no sábado (7), tanto em Israel como no lado palestino, foram anunciadas centenas de mortes e milhares de feridos. Os combates continuaram durante toda a madrugada de domingo (8) entre os combatentes do Hamas e o exército israelense.

Sami Boukhelifa, correspondente da RFI em Jerusalém

O ataque apanhou Israel de surpresa, mas todos os elementos estavam presentes para que um acontecimento tão trágico ocorresse.

Israel está vulnerável há meses. A razão? A reforma da Justiça desejada pelo governo de Benyamin Netanyahu, que é massivamente rejeitada nas ruas. Os israelenses chamam isso de golpe. Assim, para protestar contra essa reforma considerada antidemocrática, têm havido manifestações semanais em todo o país há meses.

Mas também se cogitava outros meios de protesto, como a recusa da mobilização militar. Os reservistas do exército e particularmente os pilotos de combate israelenses se recusaram a treinar nos últimos meses. No entanto, a Defesa israelense depende em grande parte desses reservistas.

Resultado: no sábado, o exército mais poderoso do Oriente Médio foi pego de surpresa e derrotado. Seus aviões de guerra foram derrubados. Demorou horas para o país reagir, foi um desastre total. Os comandos do Hamas se infiltraram no território israelense com uma facilidade desconcertante, quase sem resistência.

As bases do exército israelense foram conquistadas em um piscar de olhos. Soldados foram capturados e fuzilados. Civis e soldados israelenses foram capturados e enviados para Gaza. Trata-se de um fracasso militar para Israel e uma derrota amarga para seus serviços de inteligência.

Fracasso da técnica israelense de violência pela violência

Se por um lado o exército israelense demorou a reagir, a resposta foi massacrar Gaza com bombardeios. A mensagem de Israel é clara: “vocês nos atacaram, agora nós vamos atacar vocês”.

O exército israelense usou como alvo, tal como em 2021 durante a grande guerra anterior em Gaza, torres residenciais. Oficialmente porque abrigam posições do Hamas. Mas a realidade por trás dessa estratégia é o desejo de atacar com força, de deixar uma marca, de traumatizar e de impedir os palestinos de revidarem.

Mais uma vez, o Estado hebreu embarca em uma política de “segurança máxima”. Esta, no entanto, é uma estratégia com falhas, tão antiga quanto a ocupação e que já dura 56 anos, que inclue repressão, colonização, ataques a colonos, centenas de palestinos mortos todos os anos, detenções arbitrárias e profanação de locais sagrados muçulmanos e cristãos.

A violência exige violência. Infelizmente, civis inocentes – israelenses e palestinos – estão pagando o preço dessa estratégia.

Estratégia do Hamas

O braço armado palestino, no poder em Gaza, se manteve afastado das tensões com Israel durante o ano passado. O grupo economizou suas forças para esta operação de comando sem precedentes. Nos últimos meses, houve trocas de tiros entre Israel e a Faixa de Gaza. Mas os ataques foram principalmente entre o Estado hebreu e a Jihad Islâmica, outro grupo armado palestino presente no enclave. A pergunta sobre o estranho silêncio do Hamas estava no ar, e a resposta veio agora.

No início de setembro, a situação mudou um pouco. O Hamas organizou protestos ao longo da barreira de segurança que separa Gaza do território israelense. Os palestinos conseguiram chegar a este bloqueio e penetrar em alguns setores. Hoje entendemos que eles estavam, na verdade, testando as defesas israelenses.

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