História por JÉSSICA MAES • Folha de S. Paulo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Pelo segundo dia consecutivo, a fumaça densa das queimadas cobriu a paisagem de Manaus nesta quinta-feira (12), reduzindo a qualidade do ar a níveis arriscados para a saúde. A situação vem se repetindo há semanas, devido a focos de incêndio que, segundo a prefeitura, estão na região metropolitana da cidade.
Dados do projeto Selva, desenvolvido por pesquisadores da Universidade do Estado do Amazonas, mostram que vários pontos da cidade tiveram qualidade do ar de nível péssimo ao longo do dia.
Durante a manhã, uma das estações locais registrava concentração de material particulado fino de 298,9 µg/m³ (microgramas por metro cúbico). Segundo a escala do Conselho Nacional de Meio Ambiente, o ar já está péssimo a partir de 125 µg/m³.
A fumaça levou a prefeitura a suspender eventos, entre eles o festival cultural Boi Manaus que tradicionalmente marca o aniversário da capital amazonense, comemorado em 24 de outubro. O evento deveria acontecer entre os próximos dias 21 e 23, mas foi adiado por tempo indeterminado. No ano passado, o festival reuniu quase 60 mil pessoas.
Também foi suspensa a realização da Feirinha do Tururi, que tradicionalmente antecede o Boi Manaus e começaria neste final de semana, de 13 a 23 de outubro.
Já havia sido anunciado, nesta quarta (11), que a Maratona Internacional de Manaus, que estava marcada para o dia 15 de outubro e também fazia parte das celebrações pelo aniversário da cidade, foi adiada para dezembro.
Em comunicado à imprensa, o prefeito David Almeida (Avante) disse que as medidas visam a segurança da população.
“Não se pode respirar monóxido de carbono, isso causa problemas”, afirmou. “Também é preciso evitar estar exposto à fumaça, fechar as janelas das casas, a hidratação é fundamental nesse momento. Infelizmente, nós estamos passando por isso, fruto das mudanças climáticas”.
As autoridades aconselham aos moradores que deixem as janelas fechadas, umidifiquem o ar usando recipientes com água e toalhas ou panos molhados, bebam água e usem máscaras, purificadores de ar e ventiladores para evitar o contato direto com a fumaça.
Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) apontam para um recorde de focos de calor no Amazonas. Foram 2.684 registros apenas nos primeiros dez dias de outubro no estado, contra 1.503 em todo o mês no ano passado.
Segundo o Inpe, até terça-feira (10), os municípios de Lábrea (344 focos de calor), Boca do Acre (263) e Novo Aripuanã (245), no interior do estado, lideravam o número de queimadas.
A alta nos incêndios florestais no Amazonas levou o governo de Wilson Lima (União Brasil) a decretar, em setembro, situação de emergência ambiental.
Procurado pela reportagem, o governo do estado informou nesta quinta (12), por nota, que foram enviados reforços para o combate ao fogo: 64 agentes, 16 viaturas e duas aeronaves vão atuar em Autazes (a 112 quilômetros de Manaus). No dia anterior, o município registrou 108 focos de calor, cobrindo a capital de fumaça.
O novo efetivo soma-se a outros 52 servidores e seis viaturas que já estão atuando na região no combate aos incêndios.
Lima afirmou que as autoridades vão agir com “o rigor que estabelece a lei”. “Quem estiver cometendo ilegalidade vai ser autuado”, disse no comunicado.
O governador também pediu ajuda ao governo federal para combater as chamas. Na tarde de quinta-feira, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), anunciou em uma rede social que mais equipes da Força Nacional atuarão no combate às queimadas no Amazonas.
“Atendendo à orientação do presidente Lula, e à vista da solicitação do governador e da bancada federal amazonense, vamos mobilizar mais efetivo da Força Nacional para reforçar as nossas equipes que já estão lá combatendo incêndios florestais”, escreveu.
Nesta semana, a Polícia Federal prendeu em flagrante dois homens por suspeita de envolvimento em queimada ilegal em região próxima a Manaus. Eles foram encontrados com motosserras, galões de gasolina e fósforos, segundo a polícia.
Ainda de acordo com o órgão, os presos disseram que já praticaram o mesmo crime anteriormente.