História por Notas & Informações • Jornal Estadão
A estratificação dos dados do IBGE sobre a chamada “geração nem-nem”, jovens entre 15 e 29 anos que não estudam nem trabalham, confirmou o que já se esperava: quanto mais pobre o segmento, maior é a parcela de jovens nesta condição, fato agravado quando incluídos os critérios de cor/raça e gênero. Os nem-nem são, ao todo, 10,9 milhões de brasileiros (22,3% da população dessa faixa etária), sendo 6,7 milhões deles pobres e, destes, quase metade (48%) mulheres pretas e pardas. A cada fracionamento, mais nítido se torna o triste retrato da desigualdade brasileira.
Triste e inquietante – afinal, adolescentes e jovens adultos deveriam ter garantido o direito à formação intelectual, técnica e profissional. Pela fragmentação dos dados estatísticos, é possível inferir que, para a grande maioria dessa população, fazer parte da classificação “nem-nem” não é uma escolha, ao contrário do que provavelmente acontece entre os “nem-nem” que pertencem à fatia dos 10% mais ricos. Nesse topo da pirâmide, 7,1% dos adolescentes e jovens estavam fora dos bancos escolares e do mercado de trabalho em 2022, índice que cai ano a ano – em 2012 eram 8,4%.
Já para os 10% mais pobres, o porcentual se aproxima velozmente da marca de 50%. Eram 41,9% em 2012 e, dez anos depois, chegaram a 49,3%. Principalmente para as jovens mais pobres, grande parte delas mães adolescentes, o caminho mais adotado tem sido o da porta da escola para fora, em direção aos cuidados da casa, dos filhos e dos pais, como constatou o IBGE na Síntese dos Indicadores Sociais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).
O Brasil caminha para três décadas de levantamento sistemático de dados da população “nem-nem”. O caso brasileiro não é isolado. O termo, por exemplo, surgiu na década de 1990 na Inglaterra, sob a sigla NEET´s (not in employment, education, or training – sem emprego, educação ou treinamento, em tradução livre). O problema é que, por aqui, as estatísticas permanecem em patamar perigosamente alto, sem um sinal claro de reversão.
Embora o resultado de 2022 tenha sido o terceiro menor da série (em 2012, o melhor resultado foi de 21,8% e em 2013, de 22%) a proporção ainda é altíssima. É inaceitável verificar que um em cada cinco jovens não estuda nem trabalha. Assim como não há justificativa plausível para o fato de o Brasil não ter constatado qualquer avanço na meta de universalização da educação infantil entre 2019 e 2022.
Os caminhos para reverter essa triste realidade não são desconhecidos, e o fortalecimento do ensino técnico é certamente um deles. O Ministério da Educação diz que essa é uma prioridade. Pois então que acelere essa marcha. Não há desculpa para protelações. Capacitar os jovens não é favor do poder público. Disso depende não apenas o futuro de cada um deles, mas o aumento da produtividade de um país que há muitos anos também é “nem-nem”: nem cresce nem se desenvolve.