Lula menospreza os paulistanos ao tratar a eleição local como ‘terceiro turno’ contra Bolsonaro
Por Notas & Informaçõe – Jornal Estadão
Em entrevista recente à Rádio Metrópole, de Salvador (BA), o presidente Lula da Silva fez um novo movimento para tentar transformar a eleição para a Prefeitura de São Paulo em uma espécie de “terceiro turno” da eleição presidencial de 2022. O petista disse que considera a disputa na capital paulista “muito especial” para ele e para seu partido porque o pleito seria, em sua visão, a “confrontação direta entre o ex-presidente e o atual presidente; entre eu (sic) e a figura (Jair Bolsonaro)”.
Não bastasse ser interesseira, para não dizer mentirosa, a fala do presidente da República chega a ser ofensiva à inteligência e à sensibilidade dos quase 9 milhões de eleitores paulistanos. Lula os trata como sujeitos incapazes de pensar sobre os temas próprios da realidade local, aqueles que os afetam diretamente, para, diante da urna, decidirem seus votos motivados por sua rinha pessoal contra Bolsonaro – que está inelegível, convém lembrar.
É evidente que o ex-presidente também tem grande interesse em “nacionalizar”, como tem sido dito, a eleição municipal na maior cidade do País. Banido das disputas eleitorais até 2030, Bolsonaro se ampara em qualquer fiapo de oportunidade para mostrar que ainda tem relevância na vida política do País e disso extrair tanto quanto puder de benefícios pessoais.
Ou seja: reduzir os futuros candidatos à Prefeitura de São Paulo a meros coadjuvantes da guerra particular que travam entre si é do interesse apenas de Lula e de Bolsonaro, que não vivem um sem o outro. Para ambos, que se danem os interesses dos munícipes. Comportando-se dessa forma, um e outro revelam que não conhecem a fundo o eleitorado paulistano, que decerto terá sabedoria para não se deixar enganar por falsas questões.
O debate público na capital paulista será empobrecido se, ao fim e ao cabo, prevalecer essa tentativa de nacionalização da eleição municipal. A cidade tem uma série de problemas e oportunidades que devem estar no centro das discussões entre aqueles que pretendem governá-la a partir de 1.º de janeiro de 2025.
São Paulo está visivelmente malcuidada. Árvores e sinais de trânsito sucumbem aos primeiros pingos de chuva. Ruas mal iluminadas e mal pavimentadas sujeitam os cidadãos a riscos de toda ordem. As deficiências do transporte público atazanam a vida de milhões de pessoas que não querem nada além de sair para trabalhar ou se divertir e chegar em casa com tranquilidade. Há inúmeras vantagens em viver em uma metrópole como a capital paulista, mas também muitos problemas. Ideologia, como já dissemos, não resolve qualquer um deles. Lula e Bolsonaro podem falar o que quiserem, mas seus discursos não taparão buracos nem abrirão uma vaga sequer nas creches ou escolas da Prefeitura.
Os paulistanos terão uma bela oportunidade de mostrar que a polarização paralisante não é destino e que é possível desviar das armadilhas montadas pelos que querem levar o País a acreditar que seu futuro está ligado ao de quem quer dividi-los, movidos por interesses unicamente pessoais.