História de FABIO VICTOR • Folha de S. Paulo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A manifestação do senador e general Hamilton Mourão (Republicanos-RS) sobre a operação da Polícia Federal que atingiu altos oficiais das Forças Armadas expressou um sentimento corrente na caserna nesta quinta-feira (8).
O comandante do Exército, Tomás Paiva, tem sido pressionado, sobretudo por colegas da reserva como Mourão, a tomar uma posição que defenda a corporação -cuja imagem sofreu o maior desgaste em muito tempo.
Em discurso na tribuna do Senado, o ex-vice-presidente da República exortou os comandantes militares a tomar alguma atitude de reação à operação da PF.
“No caso das Forças Armadas, os seus comandantes não podem se omitir perante a condução arbitrária de processos ilegais que atingem seus integrantes ao largo da Justiça Militar. Existem oficiais da ativa sendo atingidos por supostos delitos, inclusive oficiais generais. Não há o que justifique a omissão da Justiça Militar”, declarou Mourão.
Uma amostra do clima: um general da reserva do Exército com trânsito também na cúpula da ativa comentou que, com a operação de hoje, a PF e Alexandre de Moraes estariam “esticando a corda” e perseguindo os militares. E lançou uma metáfora em tom ameaçador-bravateiro: “Você pode encurralar um gato… ele vai te arranhar. Não é prudente encurralar onça”.
Nesta quinta pela manhã, o Exército deu uma resposta protocolar a quem procurou o seu Centro de Comunicação Social, de que a corporação acompanhava a operação da PF e estava “prestando todas as informações necessárias às investigações conduzidas por aquele Órgão”.
Ao longo do dia, diante das revelações da decisão de Alexandre de Moraes e das pressões decorrentes delas, houve no quartel-general do Exército seguidas avaliações sobre a pertinência de a corporação se manifestar por meio de uma nota oficial.
Decidiu-se por fim não soltar manifestação alguma. Não significa que isso não possa ocorrer nesta sexta (9). No estafe do general Tomás, a informação é de que essa avaliação é contínua. E, segundo um auxiliar do comandante, “em circunstâncias do tipo, as percepções da reserva sempre entram em consideração, para esclarecer e sair das ‘paixões'”.
Desde a redemocratização, e principalmente no governo Bolsonaro, notas oficiais das Forças Armadas, de comandantes de uma delas ou do Ministério da Defesa representaram foco de ruídos e atritos nas relações civis-militares.