História de Alex Knapp • Forbes Brasil

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Chris Blackerby passa muito tempo pensando em lixo — especificamente, “lixo espacial” ou “detritos cósmicos”. Ele faz isso por uma boa razão: existem mais de 9.000 satélites orbitando a Terra atualmente e, até 2030, serão cerca de 60.000. Embora a órbita da Terra seja imensa, muito lixo pode interferir nos satélites de comunicações, informações meteorológicas e outras notícias importantes para os habitantes terrestres.

Com a Starlink, de Elon Musk, programada para lançar pelo menos mais 4.000 satélites nos próximos anos e a Shanghai Spacecom Satellite começando a construção de uma constelação de 12.000 dispositivos espaciais próprios, Blackerby, COO da startup de serviços orbitais Astroscale, tem muito trabalho pela frente. “Quando a Astroscale começou, quase 11 anos atrás, eu trabalhava para a NASA e pensava: ‘Quem vai ganhar dinheiro com isso? Ninguém está pensando em satélites”, conta.

No entanto, não são apenas os satélites ativos que representam problemas para o tráfego espacial. Existem também os satélites abandonados, bem como satélites destruídos. Além de restos de lançamentos de foguetes antigos e detritos de missões espaciais.

Tudo isso faz com que alguns astrofísicos se preocupem com o cenário teórico chamado “Efeito Kessler”, que é usado para descrever uma reação em cadeia interminável de colisões de satélites que, com o tempo, tornará quase impossível fazer qualquer coisa no espaço (incluindo comunicações via satélite, previsão do tempo e GPS, sem mencionar o sonho de Elon Musk de um dia morrer em Marte). “Todos os dias pensamos nessa possibilidade caótica. A preocupação já começou”, disse Blackerby à Forbes.

SÍNDROME DE KESSLER: COMO O ACÚMULO DE LIXO ESPACIAL NOS AFETA?

 PEDRO FREITAS – Mega Curioso

A corrida espacial ainda é um tópico muito atual para diversos países. Estados Unidos, Rússia, Índia e China, por exemplo, são algumas das nações que têm investido pesado para estar cada vez mais presentes em operações fora da Terra. O objetivo não é apenas conseguir explorar novos lugares no espaço, mas também estabelecer um controle militar.

De todo mundo, um problema em comum tem preocupado todas essas grandes potências: a Síndrome de Kessler. E o que é isso? Segundo o Instituto de Astronomia da Academia Russa de Ciências, a quantidade de detritos espaciais pode atingir quantidades colossais nos próximos anos, o que geraria um grande problema para a humanidade. Entenda mais sobre esse assunto nos próximos parágrafos!

Efeito dominó do lixo espacial

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

A teoria da Síndrome de Kessler foi desenvolvida na década de 1970 por Donald J. Kessler, um consultor da NASA. De acordo com o pesquisador, o volume de detritos espaciais na órbita baixa da Terra se tornaria tão alto que objetos como satélites começariam a se chocar com o lixo, produzindo um “efeito dominó” capaz de gerar ainda mais lixo.

À medida que o número de satélites em órbita está crescendo, diversos outros satélites desativados vêm se acumulando. Isso aumenta consideravelmente o risco de colisões entre o lixo espacial. Enquanto isso, peças-chave da tecnologia espacial humana operam atualmente nessa mesma órbita baixa — a uma distância de menos de 2 mil quilômetros do nosso planeta —, como é o caso da Estação Espacial Internacional (ISS) e diversos satélites importantíssimos para o nosso cotidiano. 

Caso o acúmulo de lixo atinja proporções nunca vistas antes pelos cientistas, esse fato poderia ter consequências significativas. Exemplos disso seriam a interrupção de voos espaciais, a interrupção das comunicações globais ou até mesmo o enfraquecimento da inteligência militar de algumas das maiores nações do nosso planeta.

Riscos para o futuro

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

Um grande problema da Síndrome de Kessler é que ela considera a ganância de poder do ser humano como um fator agravante para o futuro da nossa espécie. Por exemplo, se países passassem a achar interessante disparar e destruir satélites para atrapalhar operações de inimigos, esses fragmentos logo conseguiriam destruir a Estação Espacial Internacional.

Há meses, a Roscosmos, que é a corporação estatal da Federação Russa responsável por voos espaciais, tem avisado sobre esse perigo. No fim de 2022, o diretor Dmitry Rogozin chegou a dizer que o teste conduzido pela Índia — conhecido como Missão Shakti — aumentou em 5% as chances do lixo espacial se chocar contra a ISS.

Na época, o governo indiano planejou destruir um satélite que estava a 300 quilômetros da Terra, visto que ele estava em inatividade. O movimento também foi duramente criticado pela NASA e causou uma discussão global sobre política espacial muito forte. Como uma próxima etapa, a Roscosmos planeja reunir as potências espaciais para considerar a proibição definitiva de testes de armas antissatélite, evitando piorar a situação atual.

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By valeon