História de Notas & Informações – Jornal Estadão
No início deste mês, o Conselho de Direitos Humanos da ONU reuniu-se para votar resoluções que estendiam o prazo de investigações sobre crimes de guerra cometidos pela Rússia na Ucrânia e sobre violações dos direitos de mulheres, crianças e minorias pelo Irã desde 2022. As resoluções foram aprovadas, por serem obviamente necessárias, mas o Brasil escolheu se abster – mais um claro sinal de que o governo de Lula da Silva fez a opção preferencial pelos delinquentes em sua política externa.
No caso do Irã, a investigação da ONU começou em 2022, após a morte da jovem iraniana Mahsa Amini, presa sob a acusação de usar o véu islâmico de forma incorreta. O caso provocou grandes protestos no país, devidamente reprimidos pela polícia dos aiatolás, e não há nenhuma razão para acreditar que a situação tenha melhorado de lá para cá. No entanto, o representante do Brasil no conselho, embaixador Tovar da Silva Nunes, comunicou a abstenção brasileira “considerando que o Irã vai aumentar seus esforços para melhorar a situação dos direitos humanos no país e baseado em um espírito de diálogo construtivo”. Trata-se de uma evidente piada de mau gosto, que desrespeita profundamente as vítimas das violações de direitos humanos no Irã.
Já a comissão de inquérito sobre crimes de guerra cometidos pela Rússia na Ucrânia, criada em março de 2022, investiga o deslocamento e a deportação de crianças ucranianas e os ataques russos a civis. Há evidências de sobra dessas e de outras atrocidades cometidas pela tirania de Vladimir Putin, mas o governo brasileiro, novamente na voz de seu representante em Genebra, preferiu se abster alegando que a resolução era “desequilibrada” porque “coloca o fardo das violações dos direitos humanos apenas em um lado do conflito”.
Mais uma vez, o governo Lula tenta lançar sobre os ombros das vítimas da agressão russa parte da responsabilidade pela guerra e por seus efeitos trágicos e criminosos. Abundam exemplos da pusilanimidade e do cinismo de Lula em relação ao conflito, refletidos na abstenção do Brasil na ONU.
Vem de longa data a fascinação de Lula por regimes que hostilizam valores ocidentais, sobretudo dos que antagonizam os Estados Unidos e a Europa.
O PT celebrou a vitória de Putin na recente eleição de fancaria realizada na Rússia, e Lula está empenhado em arranjar uma brecha jurídica para recepcionar Putin na próxima reunião de cúpula do G-20, no Rio, driblando o mandado de prisão imposto contra o tirano russo pelo Tribunal Penal Internacional.
Já o Irã, cuja revolução islâmica se notabilizou pelo enfrentamento ao “Grande Satã” norte-americano, acaba de entrar no Brics, o grupo que integra o chamado “Sul Global” – consórcio de países, muitos dos quais ferozes ditaduras, que se dispõem a desafiar os valores ocidentais. O Irã lidera o autointitulado “eixo da resistência”, formado por países e grupos terroristas empenhados em varrer Israel do mapa e ameaçar interesses americanos no Oriente Médio. É esse país, que ademais nega a mulheres e homossexuais vários direitos básicos, que o Brasil resolveu apoiar na ONU.