Por que não te calas?
Ao avaliarmos, portanto, o desempenho das principais moedas, a nossa é a que teve o pior
desempenho. Desvaloriza-se o real perante o dólar, o dólar sobe, a Bolsa cai e o presidente Lula
continua fazendo manifestações que preocupam.
CONVIDADO
Por Ives Gandra da Silva Martins – Blog do Fausto Macedo
Participei da reunião do Conselho Superior de Estudos Nacionais e Política (COSENP) da
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), comandado pelo ex-presidente
Michel Temer, que teve como conferencista Germano Rigotto(ex-governador do Rio
Grande do Sul).
Conversamos muito, durante os debates que tivemos, e concluímos que o presidente Lula
tem que falar pouco. Cada vez que ele fala, prejudica a economia, o mercado, a Bolsa de
Valores e, ainda, faz com que os investimentos se afastem do país. Tudo isso por causa dos
preconceitos que ele tem contra o mercado, a agricultura, os investidores e contra aqueles
a quem ele chama de elite empresarial. Praticamente todo o Conselho concordou.
O presidente Lula atrapalha o Ministro Haddad, que se esforça para ter um controle maior
da economia e do arcabouço fiscal, que há muito os conhecedores entendem que
dificilmente poderá ser cumprido. O certo é que cada vez que o presidente da República
fala sobre economia, demonstra um profundo desconhecimento do que representa a
política monetária, o que termina prejudicando o Brasil.
Ora, quase todos os analistas dizem que a recente queda na Bolsa decorreu das reiteradas
manifestações do Presidente Lula, absolutamente contrárias às regras mínimas da
economia, o que tem prejudicado o país.
O desempenho do Brasil em relação ao dólar e à Bolsa de Valores, tem sido o pior possível.
Em relação às ações, todos os países, dos mais importantes do mundo aos denominados
países emergentes, tiveram um crescimento na Bolsa. O Japão, 15,98%; os Estados
Unidos, 13,87%; a Índia, 7,97%; a China, 1,93%; a Alemanha, 7,46%; a Itália, 7,62%.
Enquanto todos os países do mundo cresceram, nós tivemos, no Brasil, uma queda no
mesmo período de 10,50%.
Todos os países onde as Bolsas tiveram um desempenho positivo são aqueles nos quais,
por causa de suas políticas, os investidores podem confiar. No Brasil tal confiabilidade cai
porque os investidores têm grande preocupação em decorrência de frases como: “o que
se tem que fazer é aumentar a tributação, elevar a arrecadação, reduzir juros”; deixando
nosso presidente de perceber que sem política fiscal só resta o instrumento da política
monetária.
Vamos examinar agora o comportamento do dólar. Em relação a todos os países do
mundo, houve uma queda muito pequena. O rand sul-africano desvalorizou 0,17%, a libra
esterlina, 0,34%, Singapura, 2,42%, o dólar australiano, 2,88%. Então, todas elas tiveram
uma pequena desvalorização. O dólar de Taiwan, 5,6%. Já o real desvalorizou 9,74%.
Ao avaliarmos, portanto, o desempenho das principais moedas, a nossa é a que teve o pior
desempenho. Desvaloriza-se o real perante o dólar, o dólar sobe, a Bolsa cai e o presidente
Lula continua fazendo manifestações que preocupam.
Vamos ver se a reunião solicitada por Fernando Haddad e Simone Tebet para cortar
gastos fará com que o governo, por fim, reconheça que não é aumentando a tributação e
reduzindo os juros que se combate a inflação; que não é deixando de fazer política fiscal e
pretendendo destruir a política monetária que se consegue atrair investimentos. Vale
destacar: só se consegue atrair investimentos quando se tem estabilidade e segurança.
Ronald Coase e Douglas North foram dois prêmios Nobel de Economia. Eles diziam que é
a estabilidade das instituições que garante o crescimento de um país através da economia
de mercado. Essa estabilidade é o que o povo brasileiro quer.
O presidente Lula deveria saber, por ser presidente da República, que cada palavra sua
influencia todos que a ouvem. E por essa razão não deveria falar de improviso, pois fala
mal. Em segundo lugar, deveria realmente consultar os seus assessores que entendem de
economia, para só depois manifestar-se, a fim de não termos esses desastrosos resultados
que os números indicam.
Frase do título foi dita pelo rei Juan Carlos I de Espanha ao presidente venezuelano Hugo
Chávez durante a XVII Conferência Ibero-Americana, realizada na cidade de Santiago do Chile,
em 10 de novembro de 2007. O motivo da declaração do monarca espanhol foram as constantes
interrupções do presidente Hugo Chávez na resposta do primeiro-ministro espanhol José Luis
Rodríguez Zapatero em defesa do ex-primeiro-ministro José María Aznar, a qual Chávez
criticou duramente devido ao suposto apoio de Aznar ao fracassado golpe de estado contra o
presidente venezuelano em 2002.
Convidado deste artigo
Ives Gandra da Silva Martins
Professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo,
das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura
do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San
Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova
(Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho
Superior de Direito da Fecomercio -SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto
dos Advogados de São Paulo (Iasp). Foto: Andreia Ta