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Como é feito o papel e quais são seus impactos?

Como é feito o papel e quais são seus impactos?© Fornecido por eCycle

papel, usado pela humanidade há mais de dois mil anos, pode ser encontrado em várias cores e tamanhos. A matéria-prima mais utilizada para fazer papel é a celulose, uma massa celular estrutural de origem renovável, encontrada nos vegetais. 

O que é a celulose e para que serve?

Formada por monômeros de glicose ligados entre si, a celulose foi descoberta em 1838, pelo químico francês Anselme Payen, que determinou sua fórmula química. A celulose constitui uma importante matéria-prima para as indústrias, que a extraem a partir de diversas espécies vegetais, como eucaliptos, pinheiros, algodãobambu, entre outras.

A celulose, sintetizada naturalmente pelas diferentes espécies vegetais, passa por uma série de processos químicos para ser utilizada pela indústria do papel. Esses processos se dividem nas etapas florestal, de preparação da madeira, de obtenção de celulose, de secagem e de acabamento. 

O processo de produção de celulose se inicia com o plantio de sementes dos vegetais, que servem de fonte de celulose. Após o corte desses vegetais crescidos, as toras são encaminhadas para fábricas, onde são descascadas e levadas até picadores, para serem transformadas em cavacos, que são pequenos pedaços de madeira.

Como é feita a produção de papel?

Os cavacos são transportados até os digestores, onde se inicia o cozimento (ou polpação) dos pedaços de madeira. A polpação serve para amolecer a madeira e facilitar o desfibramento e a deslignificação. Esse processo consiste em separar a lignina, responsável pela cor e resistência das fibras da madeira. Após a separação da lignina, é feita uma operação de lavagem e peneiração para retirar impurezas, que serão reutilizadas no processo.

Depois do peneiramento, a celulose é submetida a um processo de branqueamento, que consiste no tratamento com determinados reagentes químicos visando melhorar sua alvura, limpeza e pureza química. Quanto mais eficiente for o processo de deslignificação, menor será a necessidade de reagentes no branqueamento. 

O branqueamento pode ser feito por dois métodos principais: método ácido (sulfito) e método alcalino  (kraft), que é o mais utilizado no Brasil.

Por fim, após o branqueamento, a celulose é enviada para a secagem. O objetivo é retirar a água da celulose, até que ela atinja o ponto de equilíbrio com a umidade relativa do ambiente. Na parte final da máquina secadora fica a cortadeira, que reduz a folha contínua a um formato determinado.

Quais são os impactos causados pela fabricação do papel?

As etapas de preparação da celulose que mais causam impactos ambientais são a etapa florestal, o branqueamento e a destinação dos resíduos.

No caso do Brasil, a matéria-prima da celulose provém de fazendas de árvores plantadas. Já nos países escandinavos e no Canadá, por exemplo, ela é obtida de florestas nativas de propriedade estatal. Isso representa um problema significativo de desmatamento de mata nativa, principalmente porque as espécies nativas são de crescimento lento. Por outro lado, no caso das árvores plantadas, os impactos ambientais estão relacionados principalmente à perda da biodiversidade (tanto da flora quanto da fauna), causada pela monocultura, a exaustão do solo, a invasão de pragas e a contaminação dos recursos hídricos, devido ao uso de pesticidas.

A etapa de branqueamento da celulose aparece com frequência nas discussões a respeito da preservação do ambiente. A presença do cloro e de substâncias orgânicas, entre as quais a lignina, representa a maior parte no efluente de branqueamento e contribui para a formação dos compostos organoclorados – substâncias com significativo impacto ambiental. Para saber mais sobre esse tema, confira a matéria “Organoclorados: o que são, impactos e riscos“.

No caso das monoculturas de eucalipto (espécie muito utilizada pela indústria de celulose, principalmente por causa do seu rápido desenvolvimento no Brasil), outro impacto ambiental frequentemente apontado é o alto consumo de água pelas árvores.Os eucaliptos impactam diretamente sobre a umidade do solo, rios e lençóis freáticos.

O eucalipto pode acarretar ressecamento do solo ao utilizar as reservas de água nele contidas, podendo, nesse caso, prejudicar também o crescimento de outras espécies, fruto da denominada alelopatia.

Por outro lado, um artigo publicado pelo Banco de Desenvolvimento Nacional (BNDES) afirma que, apesar de possuir um alto consumo de água, isso não significa, necessariamente, que o eucalipto seque o solo da região onde se insere, ou que impacte nos lençóis freáticos. Isso porque, de acordo com o artigo, o ressecamento do solo em florestas de eucalipto depende não somente do consumo de água pelas plantas, mas também da precipitação pluviométrica da região de cultivo.

De acordo com o site Two Sides, cerca de 50% da extração de madeira no mundo direciona seu uso para construção, enquanto que a produção de papel, no geral, representa 13% da extração de madeira.

Qual a importância do papel para o meio ambiente?

Em solos desmatados e empobrecidos, a deposição dos resíduos orgânicos da fabricação de celulose e papel, tem alguns efeitos benéficos, quando obtidos de produção responsável. 

A elevação do pH, com consequente aumento na disponibilidade de determinados nutrientes, como fósforo e micronutrientes, é um dos benefícios. O aumento da capacidade de troca de cátions dos solos, a incorporação de nutrientes minerais necessários às árvores e a melhoria das propriedades físicas, como a granulometria, também são relevantes. 

A capacidade de retenção de água e a densidade do solo, além do aumento de sua atividade biológica, acelera a decomposição da serapilheira e da ciclagem de nutrientes. Os solos utilizados em reflorestamentos brasileiros, com raras exceções, são de baixa fertilidade, mesmo para a atividade florestal. 

A correção desses solos é necessária para melhorar a fertilidade. Um nível alto de matéria orgânica aumenta a disponibilidade de nutrientes minerais, além de melhorar a capacidade de retenção de água e de cátions no solo. Entretanto, vale ressaltar que esse caso só se aplica a solos anteriormente empobrecidos.

Outro benefício da plantação de árvores, pela indústria de papel e celulose,  em áreas previamente desmatadas, é a captura do CO2, durante o crescimento da vegetação. 

Entretanto, vale ressaltar, que essa vantagem só traz benefícios quando a área em que será realizado o plantio já se encontra desmatada, em estado de deterioração. Além disso, após o corte das árvores, para obtenção da celulose, o carbono fixado nas árvores tende a voltar para a atmosfera.

Em comparação às espécies exóticas (que não são naturais dos biomas brasileiros), como o eucalipto, plantadas na forma de monocultura, as espécies nativas e plantadas de forma agroecológica são sempre mais vantajosos. Em termos de ganhos ambientais, por exemplo, plantações agroecológicas estimulam a biodiversidade.

O que é papel certificado?

Devido ao potencial de impacto ambiental do setor de produção de celulose (de base florestal), existe uma exigência,por parte dos consumidores, para que sejam gerados os menores impactos ambientais possíveis, na cadeia de produtos feitos a partir da celulose, como o papel.

A certificação é uma maneira de informar aos consumidores mais exigentes sobre o comprometimento, por parte dos produtores, em reduzir as externalidades danosas ao ambiente. Isso é feito levando em consideração certos critérios preestabelecidos pela empresa certificadora. Essas externalidades estão relacionadas ao desmatamento de regiões nativas, invasão de territórios indígenas, entre outros. 

Por meio da logomarca do sistema certificador, impressa na embalagem do produto,como ocorre em pacotes de folhas de papel, o consumidor pode saber sobre a origem do produto..

Os sistemas de certificação internacionalmente aceitos, e que existem no Brasil, são a norma ISO 14001 e as certificações Forest Stewardship Council (FSC) e Programme for the Endorsement of Forest Certification (PEFC). Cada uma delas tem as suas exigências especificadas, de maneiras distintas. Segundo o relatório, de 2023, divulgado pela Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), no Brasil, em 2022, pouco mais de 9 milhões de hectares receberam certificação.

A exploração de florestas tropicais, associada à extinção de espécies e ao desmatamento, trouxe pressão para a certificação de atividades de extrativismo florestal. A certificação é uma alternativa para tentar garantir boas práticas de manejo florestal. Entretanto, já se enfrentam problemas relacionados à certificação. Dentre eles, estão a falta de padronização nos métodos de auditoria dos órgãos certificadores, o pouco conhecimento público sobre certificações e os poucos investimentos em promoção por parte dos selos.

Certificações FSC, aplicadas no Brasil, em especial nas florestas de ipê, têm tido sua legitimidade contestada, o que gera uma atmosfera de dúvida quanto à efetividade dos padrões adotados pelos órgãos certificadores responsáveis por este selo no país. 

A principal acusação nesse caso é de que os parâmetros são muito genéricos, não existindo indicadores objetivos de mensuração das atividades florestais. O site da FSC no Brasil afirma que “A certificação FSC é um sistema de garantia internacionalmente reconhecido, que identifica, através de sua logomarca, produtos madeireiros e não madeireiros originados do bom manejo florestal. Todo empreendimento ligado às operações de manejo florestal e/ou à cadeia produtiva de produtos florestais, que cumpra com os princípios e critérios do FSC, pode ser certificado“.

A produção de papel é sustentável?

Dados do Ibá mostram que o setor de papel e celulose detém uma área de 9.94 milhões de hectares. Nessa área são realizados o plantio, a colheita e o replantio de árvores, para a produção de celulose. A plantação de eucalipto abrange 76% de toda essa área.

Além disso, 1.9 milhão de hectares são reservados para a plantação de pinus, enquanto apenas 5% da área total são destinados para seringueiras, tecas e acácias.

A produção de papel, no Brasil, não destrói florestas nativas. A produção de 100% da celulose para papel brasileira vem de árvores plantadas, de eucalipto e pinus, que são vegetais exóticos, plantados em áreas degradadas pela atividade agropecuária.

Em 2022, a produção de celulose atingiu a marca de 25 milhões de toneladas, enquanto 11 milhões de toneladas de papel foram produzidas.

As árvores plantadas para a produção de papel não substituem as florestas naturais, elas são plantadas em esquemas de mosaico, onde  áreas de preservação permanente e de reserva legal se mesclam com as plantações industriais.

De acordo com a Ibá, o setor conserva 6.73 milhões de hectares de mata nativa. Além disso, a energia utilizada pela indústria é, em sua maior parte, gerada por biomassa florestal. Cerca de 88% dos resíduos produzidos são destinados à geração de energia.

O setor de papel e celulose é responsável pela gestão, direta e indireta, de 100 mil hectares de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN).  As RPPN estão distribuídas pela Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal.

Em relação à biodiversidade existente nessas florestas, o Ibá registrou, em 2022, a presença de 2860 espécies de fauna e 5450 espécies de flora, nas áreas cultivadas. 

O papel é reciclável?

papel é de origem natural renovável, é biodegradável, não possui resíduos perigosos em sua constituição e é produzido de forma segura. O papel pode e deve ser reciclado, entretanto, após passar algumas vezes pelo processo de reciclagem, as fibras de papel se degradam, sendo necessárias novas levas de fibras virgens.

Dados da Ibá mostram que, em 2022, quase 76% de todo papel, utilizado para substituir o plástico em embalagens, foi reciclado no Brasil. Outra tendência, que tem aumentado, é a substituição de roupas feitas de materiais provenientes de petróleo, pela viscose. 

A opção pelos tecidos de viscose, feita a partir de celulose solúvel, representa apenas 6% do mercado mundial. Ainda assim, 65% da indústria apresenta certificações, que garantem o manejo sustentável e origem confiável da matéria prima. Apesar de ainda estar no início, 0.5% dos produtos já são feitos por materiais reciclados.

Uma forma de economizar recursos, por exemplo, é sempre imprimir documentos usando a frente e o verso das folhas de papel. Na hora de fazer o descarte do papel, evitar dobrar ou amassar o papel conserva as fibras celulósicas e melhora a qualidade da reciclagem. 

Para conhecer quais são os postos de reciclagem mais próximos de você, consulte o buscador gratuito do Portal eCycle.

Agro

Organoclorados: o que são, impactos e riscos

Equipe eCycle5

Organoclorados
Imagem de Aqua Mechanical disponível em Wikimedia e licenciada sob CC BY 2.0

Saiba quais são os prejuízos dos organoclorados aos humanos e ao meio ambiente

Se preferir, vá direto ao ponto 

1. Como agem os organoclorados na agricultura? 

1.1. Organoclorados no Brasil 

2. Quais são os problemas causados com o uso dos organoclorados? 

2.1. Intoxicação nos seres humanos 

2.2. Mulheres são mais prejudicadas 

2.3. Quem consome carne e leite é mais prejudicado ainda 

3. Incentivar a agricultura orgânica é uma saída 

Um organoclorado, organocloro, organocloreto, organocarbono ou hidrocarboneto clorado é um composto orgânico muito empregado pela indústria desde a década de 1940. Essas substâncias orgânicas podem ser encontradas nos agrotóxicos, utilizadas nos alimentos como pesticidas e outros defensivos agrícolas. Além disso, também são encontradas nas tintas, no plástico, no verniz, entre outros. Elas se dividem nos grupos toxafeno, hexaclorocicloexano, dodecacloro, clordecona, DDT e ciclodienos.

Como agem os organoclorados na agricultura?

Na agricultura, os organoclorados são utilizados em larga escala como pesticidas. Seu uso tem como finalidade viabilizar a produção agrícola através do extermínio de pragas. Isso porque essas pragas, muitas vezes, acabam com a produção de alimentos.

O problema, entretanto, é que os compostos organoclorados permanecem ativos no meio ambiente por grandes períodos após seu uso. Isso prejudica os ecossistemas ao contaminam solos, alimentos, água, ar e organismos. Eles chegam ao solo não só pela aplicação direta, mas também pelo seu uso em sementes.

As águas da chuva podem transportá-los para rios e lagos e esses pesticidas também podem se infiltrar no solo e contaminar águas subterrâneas.

Cerca de 25% da produção de organoclorados chegam ao mar por meio da atmosfera e podem entrar na cadeia alimentar oceânica.

Pesticida
Imagem de PublicDomainPictures no Pixabay

Organoclorados no Brasil

A partir de 1970, a política de incentivo ao crédito agrícola obrigava os agricultores a utilizarem pacotes tecnológicos desnecessários. Esse incentivo tinha o objetivo de estimular a produção voltada à exportação,

Nesses pacotes estavam os pesticidas recomendados para o controle de pragas e doenças, mesmo sem ocorrência de pragas.

Quais são os problemas causados com o uso dos organoclorados?

A contaminação por organoclorados é mundial, e já é possível encontrá-los até na neve do Alasca.

A persistência dos organoclorados no meio ambiente prejudica a reprodução da truta-do-mar, da águia-marinha, dos golfinhos, dos falcões, das águias e dos açores, afetando a cadeia alimentar inteira, inclusive o ser humano.

Intoxicação nos seres humanos

Os organoclorados não se diluem em água, por outro lado, são solúveis em gordura. E os animais, incluindo os seres humanos, são muito ricos em gordura, por isso, a persistência dessa substância em nossos organismos é tão grande.

Podemos absorver os organoclorados pela pele, pela respiração, por meio do contato direto com o trabalho na indústria ou via exposição diária a materiais que contenham essas substâncias. Alguns deles incluem vernizes, paredes, plásticos e alimentos contaminados.

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By valeon