História de Ketlyn Ribeiro – IGN Brasil
A Venezuela abriga uma região que contém um tesouro maior do que o de qualquer outra nação do mundo. Estamos nos referindo ao Cinturão Petrolífero do Orinoco, no leste do país sul-americano. No entanto, vários obstáculos, tanto políticos quanto tecnológicos, impedem que essa região atinja todo o seu potencial.
No início deste ano, a estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) informou que as reservas comprovadas de petróleo da Venezuela chegam a 300,878 bilhões de barris, a maior do mundo. Em segundo lugar está a Arábia Saudita, com 267 bilhões de barris. Isso significa que a primeira supera a segunda em quase 34 bilhões de barris.
Existe uma região da América Latina que tem mais petróleo que toda a Arábia Saudita, mas produz 12 vezes menos
Para esclarecer, as reservas comprovadas são as quantidades estimadas de petróleo que são conhecidas por serem atualmente recuperáveis, tanto tecnológica quanto comercialmente.
Apesar dessa vantagem numérica, a verdade é que a Venezuela pode produzir atualmente apenas 770 mil barris por dia, quando em seus melhores anos a média era de 3 milhões de barris por dia. Isso nos leva a questionar os fatores que levaram a Venezuela a ocupar o 21º lugar na produção de petróleo, ficando atrás de países como Colômbia, México e Brasil.
De suas vastas reservas, 90% são encontradas no Cinturão Petrolífero do Orinoco (Faja Petrolera del Orinoco). Essa região, que abrange 55.314 km², é rica em petróleo bruto pesado e extrapesado. Esse é um dos maiores problemas para o setor petrolífero venezuelano, pois o petróleo bruto pesado exige processos de extração e refino muito mais caros e complexos. Jorge Navarro, vice-presidente da Associação Espanhola de Geólogos e Geofísicos de Petróleo (AGGEP), explicou isso ao jornal elEconomista:
“Por ser um óleo pesado a extrapesado, com alta viscosidade e baixo teor de gás, ele resulta em baixa recuperação de volume de óleo in situ. Sua produção apresenta grandes desafios e exige o uso de métodos não convencionais, como a injeção de vapor ou o uso de diluentes. Ao mesmo tempo, esse petróleo bruto viscoso geralmente precisa ser misturado com óleos mais leves para transporte, comercialização e refino”.
Um relatório do think tank Global Americans explica que, como o petróleo pesado é mais caro de produzir, transportar e refinar, os venezuelanos são duramente atingidos pelos custos de produção mais altos, pois seu petróleo é vendido às refinarias a um preço mais baixo em comparação com o petróleo leve. “Os produtores venezuelanos também precisam pagar pelos diluentes – agentes químicos projetados para diluir o petróleo pesado e facilitar seu transporte para as refinarias”.A esperança está no exterior?
Em 2023, o governo dos EUA suspendeu as sanções ao setor petrolífero da Venezuela por seis meses, trazendo lentamente as empresas estrangeiras de volta ao Cinturão do Orinoco. Isso mostrou que longos anos de negligência, corrupção e crise econômica colocaram o setor de petróleo em uma situação em que somente o investimento estrangeiro poderia ajudá-lo a modernizar a infraestrutura com a qual extrai e processa petróleo bruto pesado e extrapesado.
Talvez a boa notícia seja que, apesar de em abril passado o governo Biden ter restabelecido as sanções contra a Venezuela como medida de pressão contra o governo de Nicolás Maduro, as empresas estrangeiras agora têm a oportunidade de obter licenças individuais para investir no Cinturão Petrolífero do Orinoco, o que torna a situação um pouco mais favorável para o petróleo venezuelano.
A verdade é que a Venezuela tem muitos desafios pela frente se quiser recuperar o potencial econômico do Cinturão Petrolífero do Orinoco. Para isso, o país precisa modernizar sua infraestrutura, atrair investimentos estrangeiros e estabilizar sua economia.
*Texto adaptado e traduzido do site parceiro Xataka.