História de Notas & Informações – Jornal Estadão

O presidente do IBGE, Márcio Pochmann, decidiu “clonar” o instituto criando a Fundação IBGE+, uma entidade de direito privado para, segundo disse em nota, reduzir a “dependência” do instituto do orçamento público, captando recursos extras. Fez isso em julho, mas comunicou aos funcionários dois meses depois, sem entrar em detalhes, pela intranet, e acendeu o estopim de uma grave crise institucional no IBGE.

O objeto da nova instituição, chamada pelos servidores de “IBGE Paralelo”, ainda não está muito claro, tampouco a forma como vai captar dinheiro. Na nota, publicada depois de protestos dos servidores, Pochmann diz que a fundação foi criada “espelhando a conformação” do instituto para receber recursos, “antes impossível” devido à limitação orçamentária. Diz também ter obtido, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a certificação do IBGE como instituto de ciência e tecnologia.

Um dos órgãos subordinados àquele ministério é a Finep, agência pública de financiamento à inovação. Pode estar aí o engenho montado para receber recursos públicos “por fora” do orçamento, o que significaria mais um drible nos limites do arcabouço fiscal. No Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025, o IBGE receberá R$ 2,9 bilhões, segundo o sindicato nacional dos servidores do instituto, que prepara manifestação de protesto pedindo a destituição de Pochmann.

Antes do anúncio do sindicato, técnicos e gestores das duas principais diretorias do IBGE – Pesquisa e Geociências – já haviam divulgado cartas abertas denunciando a gestão autoritária de Pochmann, como informou reportagem do Estadão. Numa delas, gerentes se mostraram preocupados diante de uma administração autoritária e sem transparência; na outra, os pesquisadores alertaram sobre eventuais mudanças do estatuto do IBGE e incertezas quanto aos objetivos da criação da Fundação IBGE+.

Os servidores reclamam também de questões administrativas, como a mudança do trabalho remoto para híbrido e a transferência de endereços de unidades, mas estas cabem tão somente a negociações internas. À sociedade interessa manter para o IBGE a imagem de credibilidade e confiança à qual o principal centro de produção de dados estatísticos do País sempre fez jus. E as acusações de arbitrariedade, autoritarismo e opacidade no comando do órgão são sérias ameaças à integridade de sua reputação.

Márcio Pochmann enfrentou críticas semelhantes do corpo técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), quando presidiu o órgão durante seis anos, no segundo governo Lula e metade do primeiro mandato de Dilma Rousseff. Sua gestão foi marcada por um êxodo de pesquisadores que reclamavam de pressões políticas em análises sobre o comportamento macroeconômico, o que fez com que sua indicação para o IBGE, no ano passado, fosse cercada de desconfiança.

Pochmann é um nome intimamente ligado ao lulopetismo e é difícil imaginar que esteja sob ameaça no cargo. Mas vale ressaltar que a confiabilidade do IBGE é mais importante do que o apreço de Lula a qualquer companheiro.

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By valeon