História de Notas & Informações – Jornal Estadão
Numa iniciativa extravagante, o presidente Lula da Silva se reuniu recentemente com representantes de agências de classificação de risco em Nova York. O petista quis explicar para a S&P Global Ratings, a Moody’s e a Fitch Ratings, em suas palavras, “o que está acontecendo” no Brasil. Como se fosse um camelô, Lula tentou lhes vender um Brasil que, segundo seus sonhos, merece voltar a ter o chamado grau de investimento.
Lula parece inconformado e obcecado. Foi em 2008, em seu segundo mandato, que o Brasil entrou para o clube de elite dos ratings. Alguns fundos só podem aplicar em ativos com o tal grau de investimento, daí a importância de retomar uma nota mais elevada, perdida em 2015 por causa do espetacular malogro econômico de Dilma Rousseff, quando o Brasil voltou ao grau especulativo.
De lá para cá, o cenário melhorou. As agências emitiram avaliações mais positivas, em razão de reformas como a trabalhista, a da Previdência e a tributária. Trata-se de feitos de todos os últimos governos. Hoje, o País, com uma nota que não é baixa, está a dois passos de recuperar o grau de investimento. Pela Moody’s, a perspectiva passou de estável para positiva, enquanto a S&P e a Fitch mantiveram a perspectiva estável.
Mas Lula quer mais. O presidente disse a jornalistas que uma agência de classificação de risco “não precisa ouvir só a Faria Lima”, em alusão ao mercado financeiro, e “não precisa ouvir só os empresários”. Segundo ele, essas instituições têm de ouvir também “os trabalhadores” e “o presidente da República”.
Mais uma vez, Lula tenta fazer crer que o Brasil que ele governa é uma potência pujante e que só não é reconhecido sem ressalvas como um “bom pagador” pelas agências de risco porque a gente do mercado não “ouviu” as pessoas certas – a começar por ele próprio – e se deixou levar pelos seus preconceitos. Ora, as agências de classificação de risco não “ouvem” ninguém. Elas chegam às suas conclusões com base exclusivamente nos números e nos cenários. E esses cenários, como até mesmo o Banco Central do Brasil já alertou, não são confortáveis, diante da incapacidade do governo de Lula de cortar gastos para reduzir o endividamento.
Mas Lula tem pressa. Quer que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que participou das conversas com as agências, satisfaça seu desejo de recuperar o grau de investimento até 2026, ano de corrida para o Palácio do Planalto, quando, decerto, sonha exibir tal feito.
Não será fácil nem será numa reunião, como se estivesse numa mesa de bar, que Lula vai seduzir as agências. Prova disso é que, no dia seguinte, a Fitch divulgou uma nota na qual, embora reconheça que a economia brasileira demonstrou força e surpreendeu, destacou a “posição fiscal frouxa”. Para a agência, “os desafios fiscais persistem e vão se intensificar”.
Segundo a Fitch, o governo reage à frustração de receitas com “medidas de improviso”, enquanto “a indexação vai manter a pressão sobre os gastos sociais nos próximos anos, exigindo apertos adicionais das despesas discricionárias”. Como há “vulnerabilidade”, o rating continua na perspectiva estável, o que joga um balde de água fria nas ambições de Lula.
O governo acusou o golpe. Para a Fazenda, a agência ignorou “dois elementos fundamentais”: a reoneração gradual da folha de pagamentos com compensações e o fim do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse) em 2025.
Em reunião com ministros e governadores, Lula disse que o Brasil não gastará o que não tem, uma promessa pouco crível. Aproveitou a ocasião para explicar a conversa com as agências, admitindo que “não é habitual um presidente da República se reunir com empresas de rating”. Tinha “curiosidade” de saber “o critério que elas adotam para avaliar o Brasil”.
As agências reiteradas vezes apresentaram ao País o “receituário” para a elevação do rating, que inclui responsabilidade fiscal, crescimento econômico sustentável e estabilização da relação dívida/PIB, entre outros. Por ora, os gastos só aumentam, o crescimento mais se assemelha a um novo voo de galinha e a trajetória do endividamento embica para cima, com estimativa de passar de 80% do PIB em 2026, segundo o próprio Tesouro.