História de Vera Rosa – Jornal Estadão
BRASÍLIA – A passagem de Guilherme Boulos (PSOL) para o segundo turno da disputa pela Prefeitura de São Paulo serviu para livrar o PT do vexame diante de um cenário adverso enfrentado pelo partido em outras eleições no País. Embora pesquisas de intenção de voto indiquem que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem mais chances de vencer o confronto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a aliados que se empenhará pela vitória de Boulos no próximo dia 27, quando os eleitores voltarão às urnas.
Lula foi cobrado por dirigentes do PT a ajudar candidatos do partido e aliados que foram para o segundo turno. Os petistas perderam a eleição em Teresina, única capital que esperavam vencer com folga.
O candidato do PSOL, Guilherme Boulos, é a aposta de Lula para conquistar a ‘joia da coroa’, de olho na disputa de 2026. Foto: Taba Benedicto/Estadão
Além de conseguir emplacar Boulos, do PSOL, na segunda rodada da eleição, o PT passou para a próxima etapa da disputa em apenas quatro capitais: Porto Alegre, Fortaleza, Natal e Cuiabá. Em todas elas vai enfrentar candidatos apoiados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em 2020, o PT elegeu 183 prefeitos e hoje, após trocas partidárias, tem 265. Esperava conquistar aproximadamente 350 prefeituras, mas os resultados deste primeiro turno indicam que o partido encolheu nos municípios, ficando com 247. No ABC paulista, berço político do PT, a sigla só irá para o segundo turno em Diadema e Mauá, cidades que já administrava.
A campanha de Boulos tentará construir uma frente ampla pela democracia, contra o avanço do bolsonarismo, sob o argumento de que Nunes e o influenciador Pablo Marçal (PRTB), candidato derrotado, fazem parte do mesmo projeto do ex-presidente, apesar do racha nas fileiras da direita.
“Do lado de lá tem alguém que possui relação com o crime organizado”, afirmou Boulos na noite deste domingo, 6, após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmar o seu passaporte para o segundo turno, dando o tom de como será a nova etapa da eleição. “Do lado de lá tem um vice indicado por Bolsonaro que acredita que quem mora nos Jardins e na periferia deve ser tratado de forma diferente”, completou ele, numa referência ao coronel Mello Araújo (PL), que comandou a Rota e é vice na chapa de Nunes.
A deputada Tabata Amaral (PSB-SP) disse que apoiará Boulos a partir de agora. Tabata obteve 9,93% dos votos válidos (o equivalente a 601.118) e ficou em quarto lugar. Nos últimos debates, ela criticou Boulos, insinuando que ele havia passado por uma metamorfose na campanha. Em conversas reservadas, a deputada afirmou, depois, que votaria no “menos pior” no segundo turno.
A deputada Tabata Amaral (PSB) apoiará Boulos na segunda rodada da eleição. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
O apresentador de TV José Luiz Datena (PSDB) será procurado por Boulos, em busca de apoio. Datena ficou em sexto lugar, com apenas 1,84% dos votos (112.344). O PSDB, que administrou a capital paulista três vezes, também não conseguiu nenhuma cadeira na Câmara Municipal. Em 2020, além de eleger Bruno Covas, o partido fez oito vereadores. Mas houve uma debandada após o anúncio da candidatura de Datena.
Na prática, o PSDB sucumbiu em São Paulo. Mesmo na ruína, porém, o partido continua dividido. A cúpula nacional da legenda anunciou aval a Nunes, mas nem todos concordam com essa posição na seção paulistana.
“Entre os candidatos que disputam essa etapa final, não tenho dúvida de que Nunes é quem melhor pode administrar a principal capital brasileira, gerando um ambiente de tranquilidade política e social necessária para o desenvolvimento do município, contribuindo, assim, com todo o País”, observou o deputado Aécio Neves (PSDB-MG), presidente do Instituto Teotônio Vilela, sem querer entrar na polêmica entre tucanos.
A conquista da capital paulista pela esquerda é fundamental para o jogo do PT em 2026. Apesar de não haver ligação automática entre as eleições municipais e a presidencial, se Boulos ganhar a Prefeitura Lula terá a “joia da coroa” para impulsionar seu plano de reeleição, daqui a dois anos, em um Estado governado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), visto como “escudeiro” de Bolsonaro.
Agora, diante da vantagem de candidatos apoiados por Bolsonaro em várias capitais, incluindo as do Nordeste – antigo cinturão vermelho –, Lula disse a interlocutores que atuará como cabo eleitoral onde concorrentes do PT e de partidos aliados tiverem chance de vitória. Mas a prioridade será São Paulo.