História de AFP
O ministro venezuelano das Relações Exteriores, Yván Gil, discursa na 79ª Assembleia Geral da ONU, na sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York, em 25 de setembro de 2024© Charly TRIBALLEAU
O governo venezuelano acusou o Brasil, neste sábado (2), de tentar “enganar” a comunidade internacional, um dia depois de o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva denunciar o “tom ofensivo” de Caracas em meio às crescentes tensões diplomáticas entre os dois países.
Segundo um comunicado divulgado pelo chanceler venezuelano, Yván Gil, o Itamaraty “tenta enganar a comunidade internacional, fazendo-se passar por vítimas em uma situação em que claramente agiram no caráter de algozes”.
“O Itamaraty empreendeu uma agressão descarada e grosseira contra o Presidente Constitucional, Nicolás Maduro Moros, de instituições e poderes públicos”, acrescentou o texto.
As tensões bilaterais escalaram após o veto do Brasil à entrada da Venezuela no Brics, bloco de economias emergentes, e aos questionamentos do governo brasileiro sobre a reeleição de Maduro para um terceiro mandato de seis anos (2025-2031), em meio a denúncias de fraude da oposição.
“O governo brasileiro constata com surpresa o tom ofensivo adotado por manifestações de autoridades venezuelanas em relação ao Brasil e aos seus símbolos nacionais”, manifestou-se o ministério das Relações Exteriores brasileiro em nota publicada na sexta-feira.
O governo Lula tem se negado a reconhecer Maduro como vencedor das eleições de 28 de julho passado caso não seja publicado um escrutínio detalhado do pleito. A oposição reivindica a vitória de seu candidato, Edmundo González Urrutia.
As tensões se intensificaram ainda mais após o veto brasileiro ao acesso da Venezuela ao Brics na semana passada, durante a cúpula do bloco em Kazan, na Rússia.
Como consequência, o governo venezuelano chamou para consultas seu embaixador em Brasília e convocou o encarregado de negócios do Brasil em Caracas.
Maduro acusou o Itamaraty de “conspirar contra a Venezuela”, embora tenha evitado responsabilizar diretamente o presidente Lula pelo veto no Brics.
No entanto, em um sinal de aumento das tensões, a Polícia Nacional da Venezuela (PNB) publicou na quinta-feira no Instagram a imagem da silhueta de um rosto que se assemelha ao de Lula com uma bandeira do Brasil, acompanhados da legenda: “Quem se mete com a Venezuela se dá mal”.
A PNB é subordinada ao ministro do Interior, Diosdado Cabello, da ala mais linha-dura do chavismo.
O comunicado do chanceler Gil, que não menciona Lula, exortou o Itamaraty a “desistir de se intrometer em temas que só competem aos venezuelanos”.
Venezuela acusa Brasil de tentar “enganar” a comunidade internacional
História de dw.com – DW Brasil
Regime chavista disse que governo brasileiro “se passa por vítima” após Itamaraty criticar “tom ofensivo” de autoridades venezuelanas.
Tensões entre Brasil e Venezuela voltam a crescer e regime chavista acusa Itamaraty de intervir em assuntos venezuelanos© Java
A Venezuela acusou o Brasil neste sábado (02/10) de “tentar enganar” a comunidade internacional e pediu para o Itamaraty “não se intrometer em questões que dizem respeito apenas aos venezuelanos”.
Em nota, o Ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, também disse que o Brasil tenta “se passar por vítima em uma situação em que claramente agiu como perpetrador”.
“O Itamaraty empreendeu uma agressão descarada e grosseira contra o presidente constitucional, Nicolás Maduro Moros, contra as instituições e contra os poderes públicos”, disse o documento.
A declaração acontece um dia depois de o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em comunicado, se dizer surpreso com o “tom ofensivo” adotado por “autoridades venezuelanas em relação ao Brasil e seus símbolos nacionais”.
Na última quarta-feira (30/10) a Venezuela havia convocado seu embaixador em Brasília como forma de repudiar uma fala do assessor especial de Assuntos Exteriores, Celso Amorim. O conselheiro de Lula disse, em sessão na Câmara dos Deputados, que “houve uma quebra de confiança dentro do processo eleitoral” da Venezuela.
Maduro também chamou o representante de negócios do Brasil em Caracas para dar explicações – a embaixadora, Glivânia Oliveira, está de férias –, e ameaçou declarar Amorim “persona non grata”.
Na quinta-feira (31/10), a Polícia Nacional da Venezuela publicou em sua conta oficial do Instagram uma imagem da bandeira do Brasil e uma silhueta de Lula com os dizeres “quem mexe com a Venezuela se dá mal”, o que teria motivado a resposta do Itamaraty.
Nicolás Maduro pressionou Brics por adesão da Venezuela ao grupo, mas Brasil vetou© Alexander Nemenov/AFP/AP/dpa/picture alliance
Brasil não reconheceu reeleição de Maduro
As tensões entre os dois países crescem a cada oportunidade em que o Brasil se nega a reconhecer a vitória de Maduro nas eleições de 28 de julho. O pleito que o alçou a um terceiro mandato foi tomado por acusações de fraude, e o líder chavista acusou o Itamaraty de “conspirar contra a Venezuela.”
Além do Brasil, outros países, como os EUA, a União Europeia e grande parte da comunidade internacional, não reconhecem a vitória de Maduro e continuam a exigir a publicação dos boletins das urnas.
O atrito aumentou ainda maisapós o governo brasileiro vetar a entrada da Venezuela nos Brics, em outubro, apesar da pressão de Maduro.
Caracas acusa “intervencionismo” brasileiro
No comunicado de sexta-feira o Itamaraty disse que respeita “plenamente” a soberania de cada país e afirmou que seu interesse no processo eleitoral venezuelano decorre de sua condição de testemunha dos Acordos de Barbados, assinados entre o regime chavista e a oposição.
Na opinião de Caracas, o comunicado do Itamaraty revela o “incompreensível intervencionismo” das autoridades brasileiras.
Em sua resposta, a Venezuela afirmou que o argumento brasileiro, “intitulando-se testemunha dos Acordos de Barbados”, carece de veracidade. “É um ardil que deve cessar imediatamente”, disse o documento publicado pela chancelaria.
O ministro Yván Gil ainda defendeu que o Brasil deteriorou suas relações diplomáticas e deveria assumir “uma conduta profissional”.