Qual a diferença entre gasolina de Fórmula Um e a que vai em nossos carros? O que aconteceria se colocássemos gasolina de Fórmula um em um carro comum? E vice-versa?
Luiz Gonzaga Medeiros – Consultor técnico em petróleo e energia – Quora
Sei que poucos vão acreditar, mas ela é incrivelmente parecida com a gasolina de rua europeia. Por determinação da FIA, ela não pode ter qualquer composto que não esteja presente na gasolina de rua. Além do mais, ela tem que atender padrões de emissões de dois a quatro anos à frente da gasolina de rua.
E então o que pode ser feito?
As formuladores de gasolina de fórmula 1 estudam em laboratório e através de softwares, quais as moléculas existentes na gasolina de rua que apresentariam o melhor desempenho nos motores de fórmula 1. A partir daí eles passam a fazer uma separação de tudo o que é ruim e descartar e de tudo o que é bom e ir enriquecendo a mistura com moléculas de bom desempenho .
E depois eles testam em bancadas e formulam uma gasolina para cada circuito do ano. Cada circuito tem suas caraterísticas, como retomadas, velocidade final, etc..
Uma preocupação é colocar compostos tipo detergente, dispersante e redutores de atrito, que existem em gasolinas de rua e melhoram o desempenho do motor.
Outra preocupação é que se a gasolina for muito pesada, atrapalha o desempenho do carro. Se for muito leve pode não ter energia para ir até o fim da corrida. E geralmente o carro cruza a linha de chegada com muito pouca gasolina, para não carregar peso morto. Os engenheiros que se virem para simular e acertar o consumo em cada circuito e com cada estilo de pilotagem.
Depois de formulado, eles entregam uma amostra à FiA que passa a gasolina em um cromatógrafo. Este consegue indicar a presença de ppm de uma substância, que é parte por milhão. A FIA só quer localizar uma parte por mil de um contaminante proibido.
Já houve problemas com algumas escuderias no passado, que entregaram amostras OK para a FIA e correram com gasolinas proibidas e perderam os pontos da corrida (McLaren e Ferrari).
Uma gasolina preparada para a Ferrari não serve para a Mercedes e vice versa. Ela é desenvolvida para um motor que se comporta de um jeito e não iria bem no outro.
A gasolina tem que ter um percentual de Bio-Fuel.
A Ferrari, que corre com Shell, uma vez testou em um fórmula 1 dois anos atrasado (a FIA não permite testes em modelos recentes, além da temporada de testes) com gasolina de Fórmula 1 e com Shell V Power de rua. O Piloto era Fernando Alonso.
A gasolina de rua foi pior que a de fórmula 1 só nove décimos de segundo por volta e para surpresa geral, ela atingia velocidade maior que a de fórmula 1, embora tivesse uma volta mais lenta.
Adendo
Gasolina tem hidrocarbonetos que têm de 4 a 9 átomos de carbono e aqui vão alcanos, que só têm simples ligação carbono-carbono. Estas são também chamadas de parafinas.
Tem também os alcenos, que têm também duplas ligações entre os átomos de carbono. São chamadas de olefinas.
Tem os aromáticos, que possuem anel benzênico na molécula. As mais comuns delas são tolueno e xileno. Evita-se o benzeno por ser altamente cancerígeno.
E por fim tem os alcanos ramificados, ou parafinas ramificadas e que têm cadeias laterais nas moléculas de hidrocarbonetos.
Aqui um segredo: as moléculas mais interessantes para a fórmula 1 são aquelas que queimam rápido, porque esses motores têm até 15.000 giros por minuto. Então tem que haver dezenas de explosões por segundo em cada pistão e ele tem que queimar o mais rápida e completamente possível para aproveitar toda a energia da gasolina.
O grande segredo mesmo está nos motores da fórmula 1 atual, que na verdade são compostos de 5 elementos: 1 motor de combustão interna, 1 motor elétrico e ao mesmo tempo gerador elétrico para aproveitar energia das frenagens, uma bateria entre 20 e 25 kg, 1 turbo compressor com os gases de escape e 1 gerador de energia elétrica, que aproveita o calor dos gases de escape. Esse gerador elétrico tanto colabora com a bateria, como aciona o compressor do turbo para que este aja rapidamente e não haja o turbo lag, comum nos carros turbo.
O conjunto inteiro do motor pesa 145 Kg.
Ah, há também o intercooler, que esfria o ar de entrada.
E o motor de combustão interna é do tipo injeção direta de gasolina.
A eficiência dos 1.6 V6 turbo atuais chega a incríveis 50%, enquanto a dos carros 2.4 V8 aspirados chegava a 29%. Por isso eles geram bem menos HP do que os carros antigos, mas atingem a mesma velocidade média nos circuitos, com economia de combustíveis. O motor de combustão interna tem em torno de 650 HP, mas o motor/gerador elétrico coloca mais 140 HP nas rodas.