História de RFI
Com número recorde de execuções, Arábia Saudita prejudica plano para atrair turistas© Nathan Howard / AP
A Arábia Saudita executou um número recorde de 330 pessoas este ano, principalmente por delitos relacionados a drogas, apesar da afirmação do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman de que somente o assassinato é punível com a pena de morte. O país está gastando bilhões para tentar suavizar sua reputação e busca se apresentar como um destino turístico privilegiado como parte do plano “Visão 2030”, lançado recentemente.
O número atual de execuções, baseado em dados da ONG de direitos humanos Reprieve e verificado pela agência Reuters, sofreu um aumento acentuado em relação às 172 pessoas que receberam pena de morte em 2023 e às 196 em 2022. Trata-se da maior quantidade de execuções já registrada no país, de acordo com a ONG.
“Essa reforma [que visa atrair turistas] foi construída sobre um castelo de cartas que, por sua vez, foi construído sobre um número recorde de execuções”, denunciou Jeed Basyouni, que trabalha com a Reprieve.
A Arábia Saudita nega as acusações de violações dos direitos humanos e afirma que sua política visa proteger a segurança nacional.
Em uma entrevista à mídia Atlantic em 2022, o príncipe herdeiro afirmou que Riad só usava a pena de morte para punir assassinatos. No entanto, mais de 150 pessoas foram executadas por crimes não relacionados a assassinatos este ano, segundo o balanço da Reprieve, o que, segundo grupos de direitos humanos, é contrário ao direito internacional.
Anfetaminas e “terrorismo”
Essas execuções estão ligadas principalmente a casos relacionados a drogas, no contexto do aumento do consumo do Captagon, uma droga psicotrópica da família das anfetaminas, proveniente da Síria. O fenômeno também diz respeito a membros da minoria xiita acusados de terrorismo, em conexão com manifestações contra o governo.
Além disso, o reino executou mais de 100 cidadãos estrangeiros do Oriente Médio, da África e da Ásia. Grupos de direitos humanos também acusam as autoridades de condenar menores à morte e de usar tortura para obter confissões.
O escritório de comunicações da Arábia Saudita não respondeu a perguntas específicas da Reuters sobre as execuções.
Decapitações públicas
Durante décadas, a Arábia Saudita realizou execuções semanais por decapitação com espadas em locais públicos. Hoje, cafés e restaurantes ocupam essa área.
“A repressão está aumentando, mas não podemos vê-la”, disse Dana Ahmed, pesquisadora da ONG Anistia Internacional.
Familiares de pessoas condenadas à morte, que não quiseram revelar sua identidade por motivos de segurança, disseram à Reuters que encontravam dificuldades com o sistema judiciário saudita.
Um parente de um estrangeiro preso sob acusação de tráfico de drogas disse que ele estava simplesmente pescando perto da costa e não tinha advogado ou representante na Arábia Saudita.
Um membro da família de outro réu afirmou que não tinha ouvido nenhuma prova de um suposto crime, apesar de ter comparecido a audiências em tribunais criminais por mais de três anos. A Reuters não conseguiu verificar essas alegações de forma independente.