História de Gustavo Queiroz – DW Brasil

Segundo maior exportador de aço para os EUA, atrás apenas do Canadá, Brasil pode ter mercado interno pressionado pelas sobretaxas americanas.

Trump afirma que vai taxar importação de alumínio e aço em 25%

Trump afirma que vai taxar importação de alumínio e aço em 25%© Guido Kirchner/dpa/picture alliance

A decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de impor tarifas de 25% sobre a importação de aço e alumínio pode afetar as exportações brasileiras. O Brasil, um dos principais fornecedores desses produtos para os Estados Unidos, vinha ampliando sua participação no mercado americano há dois anos.

“Qualquer aço que entrar nos Estados Unidos vai ter uma tarifa de 25%. Alumínio, também”, disse o presidente dos EUA no domingo (09/02), antes de assinar nesta segunda-feira a ordem executiva com a imposição das novas tarifas.

O decreto de Trump cancela isenções e cotas isentas de impostos para os principais fornecedores, em uma medida que pode aumentar o risco de uma guerra comercial multifacetada.

O total de aço vendido pelo Brasil aos EUA cresceu 74% entre 2022 e 2024 e já ocupa uma fatia de 15% do volume de importações americanas do metal. No ano passado, os Estados Unidos compraram 4 milhões de toneladas de aço brasileiro, a um total de 2,9 bilhões de dólares (R$ 16,7 bilhões).

Isso fez do Brasil o segundo maior exportador do produto em volume para o mercado americano, atrás apenas do Canadá. No caso do alumínio, foram 147,2 milhões de dólares (R$ 850 milhões) vendidos em 2024, ou 42 mil toneladas – o 14º país que mais exportou o produto aos EUA.

Os dados são do painel de monitoramento do comércio global, mantido pela Administração de Comércio Exterior dos Estados Unidos. Para o aço, a plataforma considera a importação de planos, semiacabados, canos e tubos e outros produtos. São também calculados o alumínio bruto, em folhas e tiras, arame, barras, vergalhões, canos, peças fundidas e forjadas e acessórios.

Durante seu primeiro mandato, Trump estipulou taxas de 25% sobre aço e 10% sobre alumínio

Durante seu primeiro mandato, Trump estipulou taxas de 25% sobre aço e 10% sobre alumínio© Kevin Lamarque/REUTERS

Segundo o Comex Stat, plataforma do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços que compila a balança comercial brasileira, os EUA foram o principal destino de ferro e aço do Brasil e o segundo país que mais adquiriu alumínio brasileiro em 2024. Os metais são essenciais em indústrias como a automobilística, construção civil, máquinas e energia.

Em 2018, em seu primeiro mandato, Trump realizou um movimento parecido e estipulou uma tarifa de 25% sobre o aço e 10% sobre alumínio importado. Contudo, posteriormente, o presidente americano concedeu isenções a vários países, incluindo Canadá, México e Brasil, limitando o benefício alfandegário a uma cota, agora cancelada por decreto.

O impacto sobre o mercado interno

O coordenador de Comércio Internacional da BMJ Consultores Associados, Josemar Franco, avalia que a atual medida será desafiadora para o Brasil, especialmente sem as insenções. Isso porque, em 2018, as tarifas afetaram principalmente a China, que passou a procurar outros mercados, como o latino-americano, para vender seus produtos a preços mais baixos.

Na prática, a barreira alfandegária americana gerou uma competição mais ferrenha no mercado interno brasileiro.

“O que a gente observou depois dessa primeira medida é que houve um redirecionamento das exportações chinesas para o Brasil com preços muito agressivos por uma série de fatores, o que faz com que a indústria doméstica, mesmo com as alíquotas [protetivas brasileiras], não tenha condições de competir com esses preços chineses”, disse Franco à DW.

“Se os chineses continuarem agressivos em termos de preço, o Brasil vai precisar adotar medidas para conter importações, já temos visto medidas antidumping, [por exemplo]”, completou.

As tarifas também chegam em um momento em que o setor já enfrenta pressão sobre o preço da commodity e após iniciar um ano com estimativas de queda na produção do aço bruto. Franco também reforça o desafio logístico de competir com Canadá e México, cujo envio do produto aos EUA é mais barato.

“Condições mais difíceis para exportar é algo ruim, mas não ter condições justas nem dentro de casa é pior ainda”, afirmou.

Para o ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil, Welber Barral, o mercado interno pode ajudar a absorver o impacto negativo da medida sobre as exportações. “Comparado à produção, a exportação brasileira é pequena. A indústria depende muito do mercado interno, tanto de aço como de alumínio. Claro, as empresas querem continuar a exportação. É importante, em dólar, um mercado premium. Mas o impacto não é tão grande”, disse Barral.

Arno Gleisner, diretor de Comércio Exterior da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil, acredita que levará um tempo até que a produção nacional americana ocupe o espaço deixado pelas importações. “A aplicação de taxas para importação de aço nos Estados Unidos foi estendida a todos os exportadores. Favorece a indústria americana, mas esta não poderá atender o mercado em substituição às importações, pelo menos no curto e médio prazo. Então em princípio não ocorreria uma situação desfavorável para o Brasil”, disse.

Gleisner ainda acredita que a estratégia de disputa tarifária do presidente americano não deve recair exclusivamente sobre o Brasil. “Uma busca de uma equalização de taxas por parte dos Estados Unidos com o Brasil é pouco provável, pois hoje os Estados Unidos já contam com uma balança comercial favorável em relação ao Brasil. Esta equalização de taxas é muito mais provável que ocorra com países com os quais os Estados Unidos tem déficit na balança comercial.”

Reações

Mais cedo, em publicação no X, o ministro da Economia, Fernando Haddad, afirmou que não comentaria sobre a imposição das tarifas até que a medida seja consolidada. “O governo brasileiro tomou a decisão sensata de só se manifestar oportunamente com base em decisões concretas e não em anúncios ue podem ser mal interpretados ou revistos”, escreveu nesta segunda-feira.

Representantes da indústria siderúrgica da Alemanha e do governo alemão se disseram preocupados com os possíveis efeitos dos planos de Trump. Gunnar Groebler, presidente da Associação Alemã do Aço, afirmou que o anúncio está atingindo o setor siderúrgico da UE no pior momento possível e pediu que o bloco aja “de forma unida, planejada e rápida”.

A Comissão Europeia afirmou que não responderá a “anúncios vagos” mas prometeu reagir. O México, terceiro maior exportador de aço para os EUA, atrás de Brasil e Canadá, também disse que vai aguardar o fim oficial das isenções para se manifestar.

Anteriormente, Trump também prometeu taxar produtos dos vizinhos México e Canadá, mas recuou após fechar acordos para aumentar a segurança das fronteiras.

Já a guerra comercial de Trump com a China se mantém. Após a Casa Branca decretar uma tarifa adicional de 10% sobre todos os artigos oriundos da China, Pequim anunciou que irá taxar a importação de produtos e commodities americanas, como veículos, equipamentos e energia.

Autor: Gustavo Queiroz

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