História de Eduardo Laguna, Francisco Carlos de Assis e Caroline Aragaki – Jornal Estadão
Em evento marcado pela defesa de um apoio fiscal ao controle da inflação, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, recebeu um pedido da empresária Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, para que a autoridade monetária não volte a comunicar aumentos dos juros.
O encontro nesta sexta-feira, 14, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), reuniu representantes de setores como varejo, indústria de transformação, bancos e serviços. Durante a reunião, nomes dos setores produtivo e financeiro manifestaram confiança na autonomia de Galípolo para levar a inflação em direção à meta perseguida pelo BC, de 3%.
As perguntas ao presidente do BC, seguindo normas da autarquia, foram feitas por escrito. No entanto, houve um momento final no qual os empresários puderam se manifestar, sem o compromisso de Galípolo dar uma resposta formal. Foi quando Luiza Trajano pediu para que ele não anuncie mais elevações dos juros de referência, a Selic.
Luiza Trajano afirmou nesta sexta-feira que a alta dos juros ‘atrapalha tudo, desde o começo’ Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
“A pequena e média empresa não aguenta mais sobreviver nisso (juros altos), não tem condição. É ela que gera o emprego. Hoje a gente conversou, eu queria pedir para ele, por favor, por favor, ter outra forma, porque essa forma não está dando certo”, declarou.
Uma sinalização de aumento de um ponto porcentual da Selic já foi dada para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para 18 e 19 de março. O BC, no entanto, deixou em aberto o movimento do colegiado na reunião de maio, a terceira do ano.
Ao abrir a reunião com empresários, o anfitrião Josué Gomes da Silva, presidente da Fiesp, expressou confiança na atuação de Galípolo, avaliando que foram dissipadas as dúvidas de que o presidente do BC, há menos de dois meses no cargo, conta com total autonomia para fazer a inflação convergir.
Foi defendido, porém, que governo, Congresso e Judiciário ajudem o BC nesse trabalho, de modo que os juros não tenham que subir tanto para segurar a alta dos preços. Presidente da Febraban, a federação dos bancos, Isaac Sidney disse que o Brasil precisa sair da armadilha fiscal e cobrou um Orçamento mais equilibrado.
Apesar da confiança do setor bancário de que Galipolo tem toda a condição e credibilidade para cumprir o mandato, Isaac avaliou que o BC está solitário na condução da política monetária. Citando problemas históricos e estruturais, como a indexação e vinculação dos gastos públicos, o presidente da Febraban considerou insustentável a situação fiscal. Ele defendeu que é preciso questionar se o teto de crescimento das despesas no arcabouço fiscal não estaria elevado.
“Se nós não fizermos isso, vamos fazer com que o Banco Central continue de forma solitária e muito penosa, sacrificando a economia para colocar a inflação na meta”, acrescentou o presidente da entidade que representa os bancos.
No fechamento da reunião, antes de passar para as palavras finais de Galípolo, o presidente da Fiesp endossou as declarações de Isaac Sidney, assegurando também a disposição dos setores empresariais de se unirem em apoio para que o Banco Central cumpra o papel de cuidar da moeda.
“Sozinho você consegue, não tenho dúvida disso, mas se for ajudado, eu acho que a sociedade toda ganha. Você encontrou aqui um grupo de setores absolutamente ao seu lado nesta luta (…). Acho que é um conjunto, é um esforço de toda a sociedade, para controlarmos o Orçamento, para retomarmos o Orçamento federal de uma maneira lúcida, de uma maneira equilibrada, para ajudarmos no trabalho do presidente do Banco Central”, finalizou.