A inflação está na mesa

Alta de preços, principalmente dos alimentos, assombra as famílias num momento econômico muito complicado

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

A inflação está na mesa

Comida, a principal despesa para a maioria das famílias, continua puxando a inflação, num ambiente de alto desemprego e condições agravadas pelo fim do auxílio emergencial. Sem essa ajuda, mais de 60 milhões de pessoas afundaram em dificuldades, enquanto os preços, já muito inflados, continuaram em alta. O custo da alimentação subiu 14,81% em 12 meses, mas esse número, já muito ruim, é apenas uma média. O arroz encareceu 74,14%. O feijão carioca, 18,53%. As carnes, 22,82%. Mesmo com algum alívio em janeiro, a pressão acumulada é muito forte. No mês passado a inflação ficou em 0,25% e o custo da alimentação subiu 1,02%. Foram taxas menores que as de dezembro – mas em cima de grandes aumentos em meses anteriores. Esses dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Convém levar em conta esses aumentos para avaliar o alívio, real ou aparente, ocorrido em janeiro. A taxa do mês foi bem menor que as de dezembro (1,35%) e da maior parte dos meses a partir de julho. Mas apenas dois itens, habitação e vestuário, ficaram mais baratos que no mês anterior, com recuos de 1,07% e 0,07%. O custo da habitação foi derrubado pela tarifa de eletricidade, com redução de 5,60%, resultante da passagem da bandeira vermelha para a amarela. Nos outros sete grandes itens pesquisados houve altas de preços.

O aumento maior e de maior efeito foi o do custo da alimentação, de 1,02%, com impacto de 0,22 ponto na formação do resultado geral (0,25%). Os preços no varejo teriam sido bem mais altos, em janeiro e no segundo semestre de 2020, se produtores e distribuidores tivessem conseguido repassar as altas ocorridas no atacado.

Essas altas continuam. Na primeira prévia do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) de fevereiro os preços ao produtor subiram 2,54%, acumulando variação de 6% no ano e de 39,10% em 12 meses. Mas o repasse vem sendo contido pelas condições da demanda final, enfraquecida pelo desemprego e pelas dificuldades das famílias. Os preços ao produtor formam o principal componente do IGP-M, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas.

No atacado, os aumentos têm refletido as condições do mercado internacional e a cotação do dólar, muito pressionada desde o começo de 2020. Os dois fatores explicam a maior parte da alta de preços das matérias-primas, como o petróleo, o minério de ferro e os alimentos.

O dólar tende a subir em relação ao real quando aumenta, no mercado, a insegurança quanto às contas do governo e à dívida pública. Esse efeito foi facilmente perceptível, nos últimos dias, durante as discussões, em Brasília, sobre fórmulas para retomada do auxílio emergencial e sobre a possível violação do teto de gastos. A indefinição do governo sobre a gestão de suas contas em 2021 tem sido uma importante fonte de dúvidas para o mercado.

Pressionando o dólar e os preços, a insegurança dos investidores em relação às finanças federais acaba, indiretamente, complicando a vida dos consumidores, especialmente dos mais pobres, já prejudicados pelas más condições do mercado de trabalho e pela perda de renda. Quem conseguiu juntar alguma reserva no ano passado, graças à ajuda emergencial, tem usado esse dinheiro – se ainda houver algum – para as compras essenciais.

Os grandes saques da poupança, no mês passado, são em grande parte explicáveis pela piora das condições dos mais pobres. Mas também a classe média juntou alguma poupança em 2020 e pode agora estar usando esse dinheiro.

A alta de preços, principalmente dos alimentos, assombra as famílias num momento muito complicado, com o governo incapaz de dizer como vai tocar a política econômica. No meio do nevoeiro, a inflação avança. Em 2020 o IPCA subiu 4,52% e ultrapassou o centro da meta oficial, de 4%. Nos 12 meses até janeiro a variação chegou a 4,56%. Neste ano será preciso um esforço maior de ajuste para atingir o centro do alvo, rebaixado para 3,75%. Se depender só do Banco Central, a resposta poderá ser uma alta de juros, um remédio com perigosos efeitos colaterais para as contas públicas e o emprego.

Loading

By valeon

4 thoughts on “A inflação está na mesa”
  1. I have been surfing online more than 2 hours today, yet
    I never found any interesting article like yours. It’s pretty worth enough for me.
    Personally, if all web owners and bloggers made good content as you did, the net will be a lot more useful than ever before.

  2. I am very grateful for your compliments and we will continue along the same lines. CEO Valeon.

  3. Hmm is anyone else encountering problems with the images on this blog loading?
    I’m trying to determine if its a problem on my end or if it’s the blog.
    Any feed-back would be greatly appreciated.

  4. Buddy, I think the problem is really on your side, we haven’t received any complaints like that. Keep honoring us. CEO Valeon.

Comments are closed.