Em meio ao aperto na renda, setor de saúde lança opções de baixo custo
Formatos como assinatura de saúde, que oferece descontos em consultas – em vez do serviço em si –, crescem no País; especialistas, porém, alertam que cliente deve ficar atento: alternativas têm oferta limitada e não são regulamentadas pela ANS
Evandro Almeida Jr. , Especial para o Estadão
Em meio à alta na demanda por serviços de saúde, a escalada nos preços dos planos privados e o aperto na renda em meio à pandemia de covid-19, as empresas do setor têm criado opções de baixo custo para tentar ampliar a cobertura e chegar a quem não tem condições de bancar os valores de um contrato tradicional. Segundo especialistas, o movimento suscita atenção dos consumidores, pois pode envolver produtos com uma oferta limitada de serviços.
Dentro dessa tendência, um dos formatos que vem ganhando força é o serviço de assinatura de saúde. Ele difere dos planos porque não costuma oferecer consultas médicas, mas descontos nesse serviço.
Sócia diretora da área de saúde da KPMG, Sheila Mittelstaedt alerta que esse modelo não é regulamentado pela Agência Nacional de Saúde (ANS). “São serviços sem qualquer regulamentação e que oferecem coisas básicas. Pessoas que carecem de serviços mais especializados não devem buscar uma alternativa nessas assinaturas. Elas são para atendimentos simples e a previsão é de que cresçam rápido no Brasil”, ressalta.
Segundo a sócia da KPMG, a perda de renda fez muitas pessoas desistirem do plano de saúde, despertando a atenção das empresas do setor. “No fim, a carga volta para o setor público. É um ‘me engana que eu gosto’”, afirma.
A redução no número de usuários de planos de saúde se concentrou no auge da pandemia. De março a junho do ano passado, foram quase 400 mil pessoas. A tendência se reverteu no segundo semestre, e o Brasil fechou com um incremento de 1,2% no ano, com pouco mais de 47,5 milhões de beneficiários.
Opção ao SUS
O Grupo Alliar, empresa de diagnóstico de imagens, lançou seu marketplace de assinatura em março de 2020, com preços a partir de R$ 19,90. Chamado de cartão Aliança, o serviço inclui descontos em farmácias e consultas médicas, além de opções de odontologia e oftalmologia. A plataforma já tem 120 mil usuários cadastrados, entre titulares e dependentes.
O grupo lançou um seguro adicional, que contempla serviços como dia de internação hospitalar, morte acidental e assistência funerária. O produto pode ser adquirido a partir de R$ 5,90 mensais, adicionais ao custo da assinatura do cartão Aliança Saúde.
De acordo com Sami Foguel, presidente da Alliar, a empresa não pretende concorrer com planos de saúde. “Nosso produto é totalmente diferente. Queremos dar um suporte para o público que busca alternativas aos serviços de medicina privada e de qualidade com preço justo e que antes iria ficar esperando no SUS.”
O Grupo Fleury também decidiu apostar na modalidade. Lançou no início deste mês o Saúde iD, marketplace de serviços de saúde, com preços que variam de R$ 29,90 e R$ 59,90.
Diferentemente da Alliar, o cliente ganha direito a uma consulta mensal, que pode ser online ou presencial, além de acesso a exames e descontos para serviços mais específicos. O programa atenderá 5 mil usuários do aplicativo Saúde iD na cidade de São Paulo nessa primeira fase de lançamento.
Aprimoramento
Segundo Eduardo Oliveira, presidente da Saúde iD, o objetivo inicial é entender como vai funcionar o serviço, para depois aprimorá-lo. Um dos motivos que tornam o plano mais em conta é o acompanhamento do histórico de atendimentos no próprio grupo, num modelo que funciona com base na ideia do médico de família. “É criado um plano de cuidado e consulta, o que permite um acompanhamento com qualidade e planejamento terapêutico.”
Assim como Foguel, Oliveira também reforça a diferença em relação ao modelo tradicional. “Não somos planos de saúde e não nos interessa ser. Queremos ajudar ali na ponta da melhor forma para prevenir doenças crônicas no futuro.”
Mais baratos
O avanço de opções mais baratas que permitam ampliar a cobertura também se dá com apostas à moda tradicional. Uma delas é a de planos individuais, que são regulados pela Agência Nacional de Saúde (ANS) e têm seus reajustes definidos pelo órgão regulador, diferentemente dos planos comunitários, hoje mais comuns no mercado.
Segundo o vice-presidente executivo da QSaúde, Anderson do Nascimento, esse é um fator primordial para que os planos individuais possam ganhar força, inclusive diminuindo os preços de seus planos, fazendo parcerias com clínicas especializadas. O QSaúde foi lançado em outubro do ano passado.
“O reajuste menor do que de planos nos dá vantagem em atrair novos clientes. Outro fator é que damos acesso a hospitais de renome e de desejo da população e acompanhamento constante com um médico de família que segue toda a jornada de nosso cliente.”