Crescimento econômico não é destino
Paulo Paiva – Jornal O Tempo
O obscurantismo, que sufoca o país, impede a expansão da ciência e sua aplicação eficaz em tecnologias para promover o crescimento
O crescimento econômico não é um processo natural, mas resultado das escolhas feitas pelo país ao caminhar de sua história. No longo prazo, é fruto da combinação da expansão da oferta de mão de obra com mudanças tecnológicas, que se originam no conhecimento científico, tudo em um contexto institucional favorável ao progresso. A inovação tecnológica determina o aumento da produtividade, dos investimentos e da remuneração ao capital e ao trabalho.
A introdução da energia a vapor no final do século XVIII, tanto no sistema fabril de produção quanto nos transportes, foi a causa principal da rápida expansão da industrialização, da aceleração da mobilidade das pessoas e da movimentação de cargas para e das fábricas, concentradas nas cidades.
No século XX, a extraordinária expansão das descobertas científicas e suas aplicações nos diferentes setores do conhecimento, da medicina à agricultura, da corrida espacial às poderosas armas de guerra, da energia nuclear à energia solar, das comunicações à digitalização, transformaram o mundo, facilitaram as relações entre povos, promoveram curas de doenças e elevaram a expectativa de vida das pessoas. A expansão do século passado resultou das descobertas científicas.
O Brasil surfou nas ondas do progresso. O desempenho de sua agricultura decorreu da decisão do então ministro da Agricultura, Alysson Paulinelli, para capacitar os técnicos da Embrapa nas melhores universidades americanas. E eles, munidos de conhecimento, desenvolveram as técnicas de produção de grãos no Cerrado, transformando o setor para sempre. Hoje, várias commodities brasileiras lideram a produtividade mundial, e é o setor agropecuário que mantém o que ainda resta de crescimento da economia.
Os outros setores não tiveram a mesma tendência. Desde os anos 80 do século passado, a produtividade deixou de crescer, e a economia entrou em uma longa estagnação. Na década passada, o PIB per capita encolheu 0,6%.
No pós-pandemia, outra janela para a retomada do crescimento se abrirá se o país souber conciliar sustentabilidade ambiental com inclusão digital e inclusão social. Se fizer as escolhas certas, poderá ter outro ciclo de prosperidade.
No entanto, os riscos maiores de o Brasil perder essa nova oportunidade estão aqui. O Estado, capturado por interesses privados, quer corporativos, quer empresariais, tornou-se ineficiente, disfuncional e um obstáculo ao crescimento.
O obscurantismo, que sufoca o país, impede a expansão da ciência e sua aplicação eficaz em tecnologias para promover o crescimento. O governo populista despreza a educação, a saúde, a pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico. A sociedade inerte perde seu sonho. Enfim, o Brasil, de costas para o futuro, fecha os olhos ao progresso.
Insisto, crescimento não é destino, é escolha.