Para os amigos, tudo

Minas está envergonhada e é preciso esclarecer se o modus operandi que frauda a verdade se estende a outras obrigações públicas

 Vittorio Medioli – Jornal o Tempo

Nunca como agora o covid bateu tão  forte no Brasil. Mostra que entre tantas disputas políticas, midiáticas, oportunistas, desarrazoadas  faltou a necessária maturidade para unir as forças de todos, preparar a população para um enfrentamento que seria duro e cruel numa guerra declarada por um inimigo invisível que mata, desemprega e leva a miséria e a ruína.

Os debates em volta da pandemia ocorreram de forma mais contaminante que o próprio covid. Desinformação, foco no desgaste de rivais, idiotas torcendo para o pior que se refletiria em ganhos pessoais. Como diz o ditado, “já que não consigo crescer em mérito, melhor ceifar os inimigos”. Rasteiros, impostores.

 Contaminação cerebral da massa que depende de orientação e amparo, no lugar de conceder-lhe um esclarecimento e estímulo para união.

Medidas enfiadas goela abaixo, taxando de não essenciais atividades que empregam e mantêm milhões de famílias. Não essenciais para quem? Para salvar um se matam dezenas?

Não há como suportar nesse momento, depois de alguns trilhões gastos para ficar parados, como compensar as atividades paralisadas. Esse é caminho que se trilha até a falência.

 O Congresso levantou os patamares de valores das ajudas emergenciais em 2020, prevista para R$ 300, até o limite de R$ 600, sabendo-se que isso seria insuportável para os cofres públicos, sem outras medidas compensatórias, como poderia ser a diminuição de despesa do legislativo e entes que nadam na fartura.

O Brasil parece conduzido por idiotas se digladiando, sem questionar e perder prerrogativas e privilégios. Assiste-se ao combate ideologizado, com persistente presença de despreparados para tomar decisões.

O caso do secretário de saúde do estado de Minas Gerais, que na surdina aplicou para si e 827 assessores de primeiro escalão a vacina, isso “para dar o exemplo” que manteve escondido, até a casa cair.

Um “exemplo” sigiloso, como seria um existente inexistente, um metal espiritual, líquido que não molha.  Entretanto, reflete a qualidade de pessoas escolhidas para tratar de assuntos sérios, em momento de criticidade extrema. Uma figura sem conhecimento de saúde pública, de relações institucionais e, como mostrou, de ética. Se ele era incompetente, e de longe se via isso, pelos pronunciamentos sem conteúdo, disseminador de incertezas, descumpridor de obrigações.

A maior “qualidade” dele, aparentemente foi economizar através de cortes de repasses ao município dos recursos constitucionalmente e contratualmente devidos. Ultimamente fora de sintonia com a escalada do covid, negando abertura de novos leitos que agora fazem falta fatal. Montou um hospital de campanha na Gameleira que serviu para tirar fotos e jogar fora uma fortuna até ser desmontada sem receber um único paciente.  Refratário aos apelos e a realidade. Uma presença ausente, uma faca que não corta, um balde furado.

Saiu sem pedir desculpa, achando que fez correto, e quase arrastando para a cova um inteiro governo razoavelmente bem avaliado.

Os planos de vacinação e os critérios de distribuição nunca foram claros em Minas, e não poderiam com alguém que foi o primeiro a desrespeitá-los.

O Estado passou vergonha, e ainda ganhou uma CPI pelo atraso em despedir o secretário vacinado. Este episódio mostra que nem tudo pode ser novo, tem que ter experiência, conhecimento e capacidade de enfrentamento de realidades complexas. Para o governador ter recusado a vacina não é suficiente para deixá-lo ao reparo de crítica pela permanência do secretário depois da proposta, ou, ao menos, de medidas que contivessem o que consumou.

Minas teve um desempenho razoável na pandemia em comparação a outros estados, se deve mais às situações morfológicas, de distribuição demográfica e costumes de sua população, mais que as confusões do ex-secretário. Boas atuações de prefeitos que vivendo próximos da população captaram mais corretamente as necessidades para prevenir e organizar.  

A salvação nessa altura seria vacinar em massa, mas nem isso a secretaria de saúde do Estado se preocupou com seriedade, ficando sentada e vacinada em seu castelo de marfim que ruiu pela sua trágica incompetência.

O desabafo de indignação do presidente da Assembleia, deputado Agostinho Patrus contra o secretário de saúde é um episódio único, até então desconhecido na história do legislativo e do próprio Estado. Uma erupção, até tardia, contra o tratamento sórdido dado aos municípios lesados pelos não repasses de recursos, distribuídos como vacinas, tudo para os amigos.   

Esse episódio mancha o governo do Estado, e muitos dos que neles se encontram.   

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By valeon

One thought on “Para os amigos, tudo”
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