Brasil pode ter 4 mil mortes diárias pela covid no fim de abril, diz grupo de cientistas

Fiocruz afirma que País enfrenta maior colapso sanitário da história; média de óbitos já supera dois mil

Roberta Jansen, O Estado de S.Paulo

RIO – O número de mortos pela covid-19 pode chegar a 4 mil por dia até o fim de abril. A previsão é da Rede Análise Covid – que reúne especialistas de diferentes áreas para interpretar os dados oficiais sobre a pandemia. Nesta quarta-feira, 17, a média de óbitos pela doença ultrapassou pela primeira vez a marca de dois mil

A análise coincide com avaliação da Fiocruz. Em mais um boletim extraordinário, divulgado na noite de terça-feira, 16, a instituição afirmou que o Brasil vive “o maior colapso sanitário e hospitalar da história”. Para reduzir o impacto da tragédia, defendem os especialistas, medidas severas de restrição de circulação precisam ser adotadas imediatamente.

Cemitério da Vila Formosa, em São Paulo.
Cemitério da Vila Formosa, em São Paulo. Foto: Felipe Rau/Estadão

Pela primeira vez desde o início da epidemia no País, os números de novos casos e mortes pela covid crescem exponencialmente em todos os Estados. Esse é um indicador importante de que a doença está fora de controle, segundo o coordenador da Rede Análise Covid, o cientista de dados Isaac Scharstzhaup.

“Como a doença veio de fora, ela chegou de avião, inicialmente às principais capitais e começou a se espalhar de cidade em cidade. Na metade do ano passado, muitas capitais estavam sofrendo, mas havia muitas cidades do interior em que não havia sequer um caso da doença; a distribuição dos casos era muito díspare”, explicou Scharstzhaup. “Agora, desde a virada do ano, a tendência de aumento é geral; o que muda de um Estado para o outro é apenas a velocidade de transmissão.”https://arte.estadao.com.br/uva/?id=2mAbG2

Segundo o especialista, apenas a adoção de medidas severas de restrição de mobilidade por todo o País, de forma coordenada, pode deter a pandemia. Segundo ele, ações pontuais são inócuas.

“Não adianta fazer lockdown de fim de semana, de sete dias”, explicou. “O ciclo de contágio do vírus é de 14 dias. Os países que adotaram o lockdown mais rigoroso só começaram a ver resultados a partir do décimo-quarto, décimo-quinto dia.”

O relaxamento das restrições de circulação logo que as taxas de ocupação dos hospitais começam a cair (como ocorreu no Brasil) não é o ideal, segundo o cientista de dados.

“Por isso nunca chegamos a zerar o número de casos, como a Europa conseguiu, depois da primeira onda”, afirmou. “Quando as restrições não são feitas corretamente, acabamos fazendo um platô, uma estabilização em patamar alto. O Brasil teria que fazer uma restrição forte e não ceder no momento em que os números se estabilizam, esperar a real desaceleração.”

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