Pessoas que levavam uma vida sedentária tiveram maior probabilidade de ser hospitalizadas e morrer de covid do que as que se exercitavam regularmente
Gretchen Reynolds, The New York Times – Life/Style
Mais exercícios significa menor risco de sofrer uma forma grave de covid-19, segundo um interessante estudo publicado recentemente sobre atividade física e hospitalizações por coronavírus. O estudo, que envolveu quase 50 mil californianos que tiveram covid-19, mostrou que os que foram mais ativos antes de adoecer tiveram menor probabilidade de serem hospitalizados ou de morrer em consequência da doença.
Os dados foram colhidos antes que as vacinas contra a covid-19 se tornassem disponíveis e não sugerem que o exercício possa substituir, em hipótese alguma, a imunização. Mas afirmam que o exercício regular – natação, caminhada, bicicleta – podem reduzir substancialmente as possibilidades de uma pessoa adoecer com gravidade quando infectada.
Os cientistassabiam há algum tempo que as pessoas com boa capacidade aeróbica são menos propensas a apanhar resfriados e outras infecções virais, e se recuperam mais rapidamente do que as que estão fora de forma, em parte porque os exercícios podem amplificar as respostas imunológicas. Melhores condições físicas também aumentam as respostas dos anticorpos às vacinas contra a influenza e outras doenças.
Mas as infecções com o novo coronavírus são tão recentes que pouco se sabia sobre a possibilidade da atividade física e a boa forma influírem nos riscos de adoecer com a covid, e com que intensidade. Entretanto, alguns estudos mais recentes parecem encorajadores. Em um deles, publicado em fevereiro na revista The International Journal of Obesity, as pessoas que podiam caminhar rapidamente, uma medida comumente aceita da capacidade aeróbica, apresentaram menos casos de formas mais graves da covid do que as que caminham lentamente, mesmo que as mais rápidas fossem obesas, conhecido fator de risco para doença grave. Em outro estudo sobre adultos idosos na Europa, uma maior força de preensão, indicador da saúde muscular geral, assinalava uma redução dos riscos de hospitalizações por covid-19.
Mas tais estudos pareciam medidas indiretas da capacidade aeróbica ou muscular das pessoas e não os seus hábitos diários em matéria de exercício físico, por isso não permitem afirmar se andar – ou ficar parados – muda o cálculo dos riscos de covid-19.
Por isso, no novo estudo, publicado no início de abril pela revista British Journal of Sports Medicine, os pesquisadores e médicos da Kaiser Permanente Southern California, a Universidade da Califórnia, em San Diego, e outras instituições decidiram comparar as informações sobre a frequência com que as pessoas se exercitavam ao ser hospitalizadas no ano passado por causa da covid-19.
O sistema de saúde da Kaiser Permanente estava muito bem aparelhado para a pesquisa porque, desde 2009, inclui o exercício como um “sinal vital” nas consultas dos pacientes. Na prática, isto significa que médicos e enfermeiros perguntam aos pacientes quantos dias por semana eles se exercitam, se a passos rápidos, e por quantos minutos cada vez, depois incluem os dados à ficha médica do paciente.
Agora, os pesquisadores separaram dados anônimos de 48.440 mulheres e homens adultos que usaram o sistema de saúde da Kaiser, e tiveram seus hábitos em matéria de exercícios atualizado pelo menos três vezes nos últimos anos e, em 2020, foram diagnosticados com covid-19. Os pesquisadores agruparam os homens e as mulheres por rotinas de exercício, com o grupo menos ativo, que se exercitava por 10 minutos ou menos na maioria das semanas, o mais ativo que se exercitava por pelo menos 150 minutos por semana, e um grupo mais ou menos ativo, que ficava no meio termo.
Os pesquisadores também reuniram dados sobre os fatores de risco conhecidos para covid-19 grave de cada pessoa, como idade, tabagismo, peso e antecedentes de câncer, diabetes, transplante de órgãos, problemas renais e outros distúrbios graves subjacentes.
Em seguida, os pesquisadores cruzaram os números e obtiveram resultados surpreendentes. As pessoas do grupo menos ativo, que quase nunca se exercitavam, foram hospitalizadas por causa da covid um número de vezes maior do que o das pessoas do grupo mais ativo e tiveram 2,5 vezes maiores probabilidade de morrer. Mesmo se comparadas às pessoas no grupo relativamente ativo, foram hospitalizadas com uma frequência cerca de 20% maior ou tinham cerca de 30% mais probabilidades de morrer.
Dos outros fatores mais comuns de risco para a forma mais grave da doença, somente a idade avançada e transplantes de órgãos amentaram a probabilidade de hospitalização e mortalidade por covid mais do que por serem inativos, constataram os cientistas.
“O sedentarismo foi o maior fator de risco” de doença grave, “a não ser que algum deles fosse idoso ou receptor de um transplante”, disse o dr. Robert Sallis, médico da família e de medicina esportiva do Kaiser Permanente Fontana Medical Center, que chefiou o novo estudo. E embora “você não possa fazer nada a respeito dos outros riscos”, afirmou, “sempre pode praticar exercícios.”
Evidentemente, por basear-se na observação, o estudo não prova que o exercício diminua os graves riscos de covid-19, mas somente que as pessoas que se exercitam com frequência também têm menores riscos de caírem gravemente doentes. O estudo não se aprofundou na possibilidade de o exercício reduzir o risco de contágio por coronavírus. Mas Sallis destaca que as associações no estudo foram significativas.
“Baseado nestes dados,” afirmou, “acho que podemos dizer às pessoas que a caminhada a passos rápidos por meia hora, cinco vezes por semana, deveria proteger contra uma forma grave da covid-19”.
Uma caminhada – ou cinco – poderia ser particularmente benéfica para as pessoas que aguardam a sua primeira vacina, acrescentou.
“Eu nunca sugeriria que as pessoas que praticassem exercícios regulares deveriam deixar de se vacinar. Mas até que elas possam imunizar-se, acho que o exercício regular é a coisa mais importante que podem fazer para reduzir o seu risco”, falou. “E fazer exercícios regulares provavelmente protegerá contra novas variantes, ou um próximo vírus”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA