Mateus Maia – Poder 360
Integrantes do Palácio do Planalto disseram a senadores que apoiam o governo que não sabem o que esperar do depoimento do ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, o publicitário, Fabio Wajngarten. Ele será ouvido pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid às 10h desta 4ª feira (11.mai.2021).
© Sérgio Lima/Poder360 Wajngarten nos estúdios do SBT em Brasília, em fevereiro de 2020. Publicitário discutiu compra de doses de vacina da Pfizer. Negociação travou no Ministério da Saúde, afirma
Apesar do voo no escuro com Wajngarten, o governo disse a senadores que não tem medo de nada que ele possa falar pois não haveria crime a ser revelado.
É comum que os congressistas mais próximos ao governo busquem por informações do que pode ser falado por um ex-integrante da administração antes de uma reunião como a da CPI.
Nesse caso, não tiveram mais informações segundo apurou o Poder360. O que teria sido dito aos governistas é que não houve conversa entre o Planalto e o ex-secretário para prepará-lo para o depoimento.Publicidadex
Wajngarten culpou por “incompetência” e “ineficiência” a equipe comandada pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello pelo atraso na aquisição de vacinas contra o coronavírus. As declarações foram publicadas 22 de abril, em entrevista à revista Veja.
Mesmo criticando a condução do Ministério da Saúde no combate à covid, Wajngarten poupou qualquer atribuição de culpa ao ex-chefe, o presidente Jair Bolsonaro. Para ele, a preocupação do Executivo sempre foi direcionada a todas as faces da crise, em especial naquela que se refere aos mais pobres.
“O presidente Bolsonaro está totalmente eximido de qualquer responsabilidade sobre isso. Se as coisas não aconteceram, não foi por culpa do Planalto”, disse.
As falas de Wajngarten sobre o ex-ministro devem ser o principal foco de questionamentos dos integrantes da CPI. Além disso, sua participação em planos para difundir a cloroquina como tratamento para covid também deve ser explorado. O medicamento não tem comprovação de eficácia para covid-19.
Demissão
Wajngarten foi exonerado da Secom, em março deste ano, após acumular desgastes no governo, especialmente com o ministro das Comunicações, Fábio Faria. O ex-secretário enfrentava queixas internas a respeito da comunicação oficial na pandemia.
Visto por Bolsonaro como um aliado fiel, o ex-chefe da Secom chegou ao governo em abril de 2019 para substituir o publicitário Floriano Amorim. A troca se deu após queda nas pesquisas de popularidade do presidente. Na época, Wajngarten era visto como alguém de perfil conciliador e que poderia aproximar a atual gestão da imprensa.
Na prática, no entanto, a passagem do empresário foi perpassada por uma série de polêmicas. Uma delas diz respeito à postagem da Secom no Twitter que chamou de “herói” o major Curió, denunciado por sequestro, tortura e assassinato na ditadura.
O nome de Fábio Wajngarten aparece em ao menos duas investigações da Polícia Federal. Em fevereiro, a PF abriu um inquérito que mira suspeita de peculato, corrupção passiva e advocacia administrativa contra o secretário pela sua participação na FW Comunicação e Marketing, onde é sócio. A empresa é dona de contratos com ao menos cinco empresas que recebem recursos direcionados pela Secom, entre elas as redes de TV Band e Record. O ex-secretário alega que acordos foram feitos antes do seu ingresso na pasta. Outra investigação diz respeito ao direcionamento de verbas de publicidade para financiar sites antidemocráticos.
Além das controvérsias na pasta, o ex-chefe da Secom se envolveu em polêmicas ao longo da pandemia. No momento em que o Brasil registrava mais de 56 mil mortes por coronavírus, Wajngarten foi à festa de aniversário de 37 anos do jogador do Palmeiras Felipe Melo, com cerca de 70 pessoas. Meses depois, comemorou seus 45 anos com uma festa no litoral norte de São Paulo, em Maresias, junto com ministros do governo. Nas duas situações era difícil encontrar algum convidado usando máscara.