Gaza amanhece com novos ataques aéreos vindos do exército israelense; número de foguetes lançados pelo Hamas passa de mil
Redação, O Estado de S.Paulo
JERUSALÉM — A escalada de violência entre israelenses e palestinos se estendeu pela noite de terça-feira, 11, e a madrugada desta quarta, 12. Pelo menos mais 100 foguetes foram disparados da Faixa de Gaza em direção a Israel, matando dois israelenses, incluindo um menor de idade. Dessa forma, o número de mortos no lado israelense do conflito, que era de três pessoas, subiu para cinco.
As duas últimas vítimas israelenses são um homem de 40 anos e sua filha, de 16. Eles foram atingidos na cidade de Lod, próxima a Tel Aviv, que foi palco de intensos confrontos entre árabes e judeus na noite de terça-feira e acionou o estado de emergência. Segundo um porta-voz da polícia local, pai e filha foram mortos “pelo impacto direto de um foguete” que atingiu a cidade.
Sirenes antiaéreas soaram nas cidades israelenses que fazem fronteira com Gaza, como na parte sul da cidade de Beersheva e na área metropolitana de Tel Aviv. “As crianças escaparam do coronavírus e agora vivem um novo trauma”, disse uma mulher israelense da cidade costeira de Ashkelon a uma emissora de televisão.
Mais de mil foguetes foram disparados por grupos palestinos contra Israel desde que teve início a pior escalada de tensão entre árabes e judeus dos últimos anos. Destes, cerca de 850 atingiram o alvo ou foram interceptados pelo sistema de defesa antiaérea israelense, o Domo de Ferro, enquanto outros 200 falharam e caíram na própria Faixa de Gaza, segundo o porta-voz do exército de Israel, Jonathan Conricus.
A retaliação adotada pelo governo do premiê Binyamin Netanyahu, até então, tem se dado por ataques aéreos. Sem contar com a mesma estrutura de sistemas antimísseis e abrigos para a população, as regiões palestinas registraram um número maior de mortos: pelo menos 35, incluindo ao menos 12 crianças.
Logo após o amanhecer desta quarta-feira, Israel disparou dezenas de ataques aéreos em poucos minutos. Os principais alvos foram instalações policiais e de segurança. Testemunhas relatam que a cidade de Gaza foi tomada por uma espessa parede de fumaça cinza. O Ministério do Interior controlado pelo grupo palestino Hamas afirmou que os ataques destruíram o complexo que formava o quartel-general da polícia da cidade.
Uma mãe de quatro filhos em Gaza, Samah Haboub, disse que foi arremessada para o outro lado do cômodo em que estava no momento em que a cidade foi atingida, e descreveu um “momento de horror”. Ela e seus filhos, que têm de três a 14 anos, dizem ter descido correndo as escadas de seu apartamento junto de outros moradores, muitos deles gritando e chorando. “Quase não há lugar seguro em Gaza”, disse ela.
“Israel enlouqueceu”, disse um homem em uma rua de Gaza, enquanto as pessoas saíam correndo de suas casas em meio às explosões que abalavam a cidade.
Embora a violência venha sendo amplamente condenada por líderes e entidades internacionais, incluindo a Organização das Nações Unidas (ONU) e a União Europeia, não há sinais de que qualquer um dos lados esteja disposto a recuar. Em vez disso, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu prometeu expandir a ofensiva, afirmando que o conflito “vai levar tempo”.
Possíveis crimes de guerra
Na manhã de quarta-feira, a procuradora-chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI), Fatou Bensouda, disse via Twitter que está preocupada com a possibilidade de que crimes de guerra estejam sendo cometidos na Cisjordânia nos últimos dias.
“Observo com grande preocupação a escalada da violência na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, bem como dentro e ao redor de Gaza, e a possível prática de crimes sob o Estatuto de Roma”, escreveu.
Estabelecido pelo Estatuto de Roma em 2002, o TPI é um tribunal de último recurso para julgar crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio quando um país é incapaz ou se nega a fazê-lo. “Meu escritório continuará monitorando os desenvolvimentos no local e levará em consideração qualquer assunto que seja de nossa jurisdição”, disse Bensouda./AFP, AP, EFE e Reuters