Número de militares candidatos a prefeito salta 150% e é recorde em Minas Gerais
Puxadas por reformados e policiais militares, candidaturas do setor aumentaram 16,4% deste 2016 no Estado, acima da média nacional
Só em Ribeirão das Neves, na região metropolitana, são três os militares candidatos a prefeito: o reformado Coronel Bianchini (Avante) e os policiais Robinho (PSL) e Washington Filho (PTB) |
Foto: Arquivo pessoal / Divulgação
Por CRISTIANO MARTINS E FRANCO MALHEIRO
O número de candidatos ligados à segurança pública aumentou 16,4% em Minas Gerais nas eleições deste ano, em comparação com o pleito de 2016. O levantamento realizado por O TEMPO considera os postulantes aos cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador registrados na Justiça Eleitoral como policiais militares ou civis, bombeiros militares, membros das Forças Armadas ou militares reformados.
A análise dos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revela que 711 representantes do setor concorrerão a uma função eletiva neste ano em Minas, ou cem candidatos a mais em relação às eleições passadas. O principal destaque é o salto de 150% nas disputas para prefeito, de 20 para 50. Um novo recorde, com sobras.
“É claro que a eleição do presidente Jair Bolsonaro se refletiu nesse aumento”, avalia o subtenente Heder Martins, presidente da Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares de Minas Gerais (Aspra-MG).
O crescimento geral no Estado supera a média brasileira no período (12,5%), sendo que as Eleições 2020 estabelecem o maior patamar já alcançado na história do país neste quesito, com 6,7 mil postulantes. Ao contrário do cenário nacional, porém, as cifras mineiras não chegam a se equiparar aos níveis locais registrados antes de 2016. Mesmo com o aumento, o número deste ano ainda é 11% inferior às 800 candidaturas apresentadas em 2012.
Ainda assim, chama atenção que o crescimento do interesse entre os policiais e militares mineiros tenha sido tão superior ao aumento geral das candidaturas apresentadas no Estado (1,2%). Na média nacional, essa diferença é consideravelmente menor, pois o TSE contabilizou ao todo 10% a mais de registros que em 2016.
Segundo a análise de O TEMPO, a maioria dos candidatos tentará usar as patentes para ganhar votos. Ao menos 68% dos nomes de urna trazem alguma referência às corporações, com destaque para as palavras “sargento” (221) e “cabo” (75). Alguns termos podem até gerar impugnação, como “da PM” ou “da Civil”, pois a Justiça Eleitoral proíbe menções diretas a órgãos públicos.
O partido com mais candidatos do setor é o PSL (79), pelo qual o ex-capitão Bolsonaro se elegeu presidente da República em 2018. Na sequência, aparecem Patriota e PSD (43), Avante e MDB (42). Em relação aos cargos disputados, a enorme maioria dos concorrentes (624) tentará uma cadeira nas Câmaras Municipais e o restante (37) compõe as chapas como vice.
Para o subtenente Martins, o aumento da participação na vida pública é resultado do incentivo das entidades representantes da categoria.
“A pauta da segurança pública ficou por muitos anos delegada a terceiros, muitas vezes sem nenhuma experiência com o assunto. Nós da categoria vimos a necessidade de assumir a vida política e, dessa forma, representar tanto a nossa categoria como também essa pauta que é expertise nossa e crucial para a sociedade”, justifica.
Ele ressalta, porém, que a eleição de Bolsonaro impulsionou os números. “Vários candidatos militares e ligados à segurança pública foram e continuam indo na esteira do bolsonarismo”, admite o dirigente. “O que chama bastante atenção é o aumento entre os oficiais. Nós, praças, sempre tivemos nossos representantes, talvez por sermos ligados às reivindicações. A partir de 2018, começamos a ver um número grande de coronéis reformados se lançando”, complementa.
A respeito da forte queda do número de candidatos militares observada em 2016, o subtenente não soube precisar o real motivo da oscilação.
“Não dá para eu dizer com exatidão o que pode ter acontecido. Talvez na época tenha havido uma desmobilização ou descredibilização da política por parte da categoria, ou talvez não tenha havido os incentivos necessários. O que posso dizer é que as entidades incentivam seus associados a participarem da vida política, pois enxergamos uma forma de sermos representados”, conclui Martins.
A mesma ideia é defendida pelo presidente da Associação dos Oficiais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros de Minas, Coronel Aílton Cirilo. “Por muitos anos, sob o viés de políticas públicas, nós fomos esquecidos. E vejo que houve um despertar na categoria de que ela precisa participar da vida pública para construir melhorias na segurança”, afirmou.
O presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Minas Gerais (SindPol), José Maria de Paula, também relaciona o aumento do interesse às reivindicações da própria categoria.
“Os agentes da segurança pública passaram a perceber que só estando lá dentro, participando da vida política, conseguiriam as mudanças que nossa classe sempre buscou, seja nas condições de trabalho e no nossos direitos, seja também em questões de melhorias na área da segurança pública”, opina.
Número de eleitos também em curva crescente
Após queda entre 2004 e 2008, a quantidade de policiais e militares eleitos em Minas vem aumentando. O recorde foi registrado no último pleito, com três prefeitos, cinco vices e 61 vereadores vitoriosos no Estado.