Vitória expressiva fortalece Alexandre Kalil para os próximos pleitos

Consagrado mais uma vez nas urnas, prefeito viu concorrentes de longe e se tornou figura importante no processo eleitoral de 2022

Alexandre Kalil (PSD) faz discurso da vitória ao lado do vice-prefeito de Belo Horizonte a partir de 2021, Fuad Noman (PSD) |

Foto: Flávio Tavares

Por RICARDO CORRÊA

Em uma corrida de Fórmula 1, nenhuma vitória é mais tranquila do que aquela obtida de ponta a ponta, quando o piloto larga na pole position, passa a disputa inteira bem longe dos demais e termina dando mais de uma volta no segundo colocado. Na eleição de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD) é esse piloto, que vence de forma tão avassaladora que transforma a disputa dos rivais em uma corrida paralela para saber de quem será o segundo lugar.

Nessa analogia, Kalil já despontava para a vitória na primeira curva, e sua vantagem nunca diminuiu. Sempre aumentou, pouco a pouco, fazendo-o transformar-se em um dos prefeitos mais bem-votados na história da cidade. E, do alto do pódio da disputa política, é inegável que Kalil esteja no centro de um debate sobre suas chances na próxima corrida. Não há quem duvide que ele entre como um dos grandes favoritos no próximo grande prêmio: a disputa pelo governo de Minas em 2022. Nem ele nega isso ao dizer, em sua primeira entrevista, que não fez compromisso de “ficar dois ou quatro anos”.

Desde que largou na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte, Kalil pouco foi, de fato, confrontado sobre o que fez em sua gestão. Certamente teve uma candidatura mais fácil do que a administração da capital. Mas os dissabores enfrentados como chefe do Executivo pesaram de imediato a seu favor na hora da ida às urnas. Kalil tornou-se gigante diante dos demais por conta de um desempenho considerado satisfatório pela maior parte do eleitorado nas crises enfrentadas com a pandemia da Covid-19 e as chuvas que destruíram parte da capital no início do ano.

A pandemia não interferiu na eleição apenas por conta dos bons índices de avaliação obtidos pelo prefeito em seu enfrentamento. Tornou a campanha mais fria, com o eleitor mais distante – enquanto pensava em maneiras de sobreviver em casa, com filhos sem aula ou em classes virtuais, ou enquanto buscava novas alternativas financeiras para os negócios fracassados. Fez também com que ir às ruas, reunir eleitores ou até fazer debates fosse algo reprovável. A ausência em sabatinas e encontros, antes tida como fuga e capaz de tirar votos do líder na reta final da corrida eleitoral, tornou-se, no discurso e aos olhos de muitos eleitores, medida de responsabilidade. Afinal, para um prefeito que pregou o isolamento e medidas duras de combate à pandemia, ficar em casa ou na prefeitura parecia condizente com o que fez fora da campanha.

Não foi só isso, porém, que tornou o caminho mais fácil para o atual prefeito. O grande número de candidatos, a divisão em dois polos ideológicos e a aposta de candidatos novos, que miram futuras corridas eleitorais, também pesaram a favor.

Completa a lista um horário eleitoral bem-feito, explorando a sinceridade às vezes ríspida do prefeito, com um tom de humildade usado como antídoto contra as críticas de que não dialoga e tem postura ditatorial. Enquanto isso, adversários que tinham mais tempo na TV repetiram as mesmas fórmulas, e os dois mais viáveis praticamente não apareciam. Áurea Carolina penava com seus 17 segundos, e Bruno Engler ficou fora do horário eleitoral, após uma briga interna e seu partido tirar sua única chance de coligação, com o PSC, que permitiria apenas alguns segundos para dizer o nome de Bolsonaro no ar.

João Vítor Xavier, o rival mais próximo nas pesquisas, ganhou fama de antipático por atacar o prefeito bem-avaliado. Era o que lhe restava, é bem verdade, mas tarefa impossível em 45 dias de campanha eleitoral. Quando a propaganda começou, já era tarde demais para desconstruir Kalil. No Brasil de hoje, a campanha dura dois ou quatro anos, tal qual os longos ralis, em vez das curtas corridas de arrancada. Restou para ele uma sonora derrota para quem tinha um latifúndio de tempo na TV.

Independentemente das posições de chegada, além de Kalil, saem maiores da disputa Áurea Carolina e Bruno Engler. Jovens, colocam-se hoje como líderes da esquerda e da direita na capital. No caso de Áurea, porém, ganhou forte concorrência no mesmo dia em que se afirmou. Da disputa pela Câmara surgiu uma impressionante Duda Salabert (PDT), com mais de 30 mil votos, suficientes para lançar-se à PBH em 2024, em sua primeira entrevista.

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