Vídeo que simula funcionamento da urna eletrônica não comprova que o equipamento pode ser fraudado
Beatriz Bergamin
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As eleições de 2020, realizadas no último domingo (15), continuam sendo um dos assuntos mais comentados da web e os boatos de que teria havido algum tipo de fraude continuam circulando em diversas redes sociais.
Nos dias últimas dias, circula pelas redes sociais uma filmagem que simula como funcionária uma urna eletrônica. No vídeo, utilizam uma placa para demonstrar como seria possível manipular um processo de votação, com o intuito de descredibilizar alguns dos resultados da última eleição, alegando que as urnas eletrônicas foram fraudadas desta forma.
Entretanto, assim como o texto que acusava o TSE de vender eleição de SP para ‘a esquerda’, o boato é falso. O vídeo em questão que viralizou nas redes sociais foi tirado de contexto para que aparentasse uma fraude e não demonstra os equipamentos reais que compõe as urnas usadas nas eleições.
A filmagem original é de autoria do canal do YouTube “Brincando com Ideias”, comandado pelo cientista da computação Flávio Guimarães. O vídeo publicado pelo cientista tinha como foco demonstrar como as eleições poderiam ser facilmente fraudadas caso o processador Arduíno – plataforma de prototipagem eletrônica – fosse utilizado em uma urna real. Assim, os equipamentos que compõem a urna na simulação de Flávio, não são os mesmos que compõe uma urna real usada nas eleições de 2020.
Após o vídeo ter se tornado um viral em algumas redes sociais, como o Twitter, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu se pronunciar sobre o assunto, tendo como objetivo minar boatos e suposições.
++ É falso texto que acusa TSE de vender eleição de SP para ‘a esquerda’
A entidade retificou que as urnas usadas no primeiro turno das eleições de 2020 não contém as mesmas peças que as da simulação e, assim, não estão sujeitas a aquele tipo de fraude.
O TSE ainda salientou que o vídeo “apresenta de forma didática uma maneira de se fazer uma urna usando um kit simples, como é o caso de placas com processador Arduino”.
Em entrevista à agência Lupa, Flávio, idealizador do vídeo que viralizou, lamentou que sua ideia tenha viralizado desta forma errônea, salientando que seu único intuito com o vídeo era educacional.
“Meu objetivo era explorar a tecnologia, mostrando que ela é frágil”, ressaltou, lamentando que o vídeo tenha sido envolvido em questões relacionadas a política: “Mas eu fui infeliz de tocar num tema que acabou sendo usado para outros fins. Não é o meu foco. Não trato de questões políticas”, concluiu o cientista.
Principais diferenças da urna real e da fake
Após a repercussão do vídeo, o TSE emitiu uma nota pontuando as diferenças das urnas reais, confira abaixo alguns destes pontos:
- A urna real não é “tão simples e desprotegida como aquela apresentada no vídeo”.
- A principal delas é que os códigos-fonte dos softwares usados na urna são abertos à consulta durante seis meses durante as eleições.
- Também são realizados testes públicos de segurança – em que se verifica possíveis fragilidades antes mesmo do período eleitoral ter início.
- Segundo TSE, a verdadeira urna não pode ser clonada, já que o aparelho utiliza uma tecnologia que identifica o aparelho como sendo pertencente da Justiça Eleitoral. A tecnologia, segundo a entidade, é verificada antes e depois das eleições.
- “De forma diferente dos computadores comuns, a urna eletrônica conta com uma cadeia de confiança iniciada pelo computador do perímetro criptográfico, que verifica as autenticidades e integridades de cada um dos componentes dessa cadeia”, disse o TSE.
Procedimentos de segurança
Segundo informações divulgadas pelo TSE em nota, a cada “voto adicionado a essa estrutura de dados, os votos são embaralhados e cifrados, impedindo que alguém interrompa e recupere alguma informação sigilosa”, garantindo a veracidade dos votos e a impossibilidade de uma urna ser fraudada.
A entidade ainda ressaltou que para que uma urna seja considerada no resultado final, o equipamento tem de ser validado antes e ter sua identidade reconhecida pelo próprio TSE com uma tecnologia exclusiva.
O TSE ainda garantiu que há a possibilidade de fazer uma auditoria e fiscalização na própria urna, verificando não só a integridade dos sistemas – realizada antes da votação oficial –, como também realizar um processo chamado de Auditoria de Funcionamento das Urnas Eletrônicas, chamado de “votação paralela”, em que as urnas passam por uma votação simulada em que os participantes votam na urna e em um papel e posteriormente os resultados são comparados para garantir a integridade das urnas.
Segundo o TSE, esta etapa é acompanhada pelo Tribunal de Contas da União, pelos partidos e por uma empresa contratada através de uma licitação. Essa informação também foi verificada pelo Aos Fatos.
Conteúdo de fact-checking do PaiPee.