A resposta a Bolsonaro
Secretário da Agricultura de São Paulo refutou todas as bobagens ditas sobre a Ceagesp
Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
Um dia depois da enxurrada de bobagens que o presidente Jair Bolsonaro pronunciou sobre o futuro da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), descartando a possibilidade de sua privatização, classificando-a como um “ninho de ratos” e afirmando que a empresa “continuará onde está”, o secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, Gustavo Diniz Junqueira, refutou todas essas críticas com objetividade, prudência e argumentos técnicos.
Em entrevista ao jornal Valor, Junqueira afirmou que, além do complexo situado na Vila Leopoldina, próximo ao Rio Pinheiros, na região oeste da capital, a Ceagesp administra outras 12 centrais de abastecimento e comercialização de produtos de hortifruticultura no interior. E, como nos últimos quatro anos a empresa só acumulou prejuízos, por causa de passivos trabalhistas e ambientais, esse modelo de negócio vem sendo repensado desde então, disse Junqueira. Além disso, como a União é a principal acionista da Ceagesp, caberá a ela, e não ao governo do Estado de São Paulo, decidir se a empresa será vendida ou, então, fechada. “A não ser que o governo federal tire dinheiro do Tesouro Nacional para colocar na empresa, ela não tem como se sustentar”, afirmou o secretário.
Dias Junqueira também lembrou que a privatização da Ceagesp consta do Plano de Desestatização do Governo Federal, assinado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro em outubro do ano passado. Informou, ainda, que o Ministério da Economia contratou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para fazer uma avaliação da empresa e propor um destino para todos os seus ativos, inclusive os entrepostos situados no interior paulista. Por fim, afirmou que, em 2019, no primeiro ano de mandato de Bolsonaro, a Secretaria Especial de Desestatização do governo federal assinou um acordo com o governo do Estado de São Paulo, prevendo a transferência do entreposto da capital para um terreno próximo do Rodoanel Mário Covas. Desse modo, com base em documentos, pareceres e dados factuais, o secretário da Agricultura deixou claro que Bolsonaro mentiu ou, então, não tem a menor ideia dos decretos que assina e dos projetos de seu governo.
Junqueira classificou como “leviana” a ideia de manter a unidade da Ceagesp na Vila Leopoldina, defendida por Bolsonaro sem qualquer fundamento técnico. Nos estudos elaborados pelo governo federal sobre o futuro da empresa e no acordo firmado com o governo paulista, ficou evidenciado que a melhor estratégia para a distribuição e abastecimento de frutas, verduras, legumes e flores na maior cidade do País é a criação de unidades próximas dos consumidores, nas diferentes regiões da capital. Elaborado em 2004 pelo Laboratório de Planejamento e Operação de Transportes da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), um desses estudos mostra que a descentralização do abastecimento seria decisiva para o desafogamento do tráfego de caminhões pesados pela cidade. “O bairro de Vila Leopoldina não tem capacidade de absorver o tráfego de veículos no entreposto, com o impacto ambiental e os problemas de segurança que o movimento gera”, disse o secretário.
Mais importante ainda, explicou Junqueira, é que a permanência do entreposto da Ceagesp na Vila Leopoldina comprometerá um projeto vital para o futuro do País, num período em que a economia mundial já opera com base na Revolução Industrial 4.0. Como o terreno da Ceagesp fica próximo das principais escolas da USP, a ideia é instalar nele um polo tecnológico em parceria com grandes empresas. Esse é o modelo que prevalece nos Estados Unidos, onde grandes conglomerados mantêm sedes ao lado de universidades de ponta, como Stanford, Berkeley, MIT e Harvard.