Com pandemia, sites de venda de produtos estrangeiros ganham espaço

Sem viagens internacionais, brasileiro foi em busca de preços mais baixos em sites como AliExpress e Americanas Mundo; conhecido como ‘e-commerce cross border’, segmento investe para reduzir prazo de entrega e oferecer parcelamento

Márcia De Chiara, O Estado de S.Paulo

Privados das viagens internacionais e em busca de preços baixos, os brasileiros durante a pandemia foram com forte apetite às compras pela internet de produtos estrangeiros. O maior interesse por esse segmento, conhecido como e-commerce cross border, obrigou empresas tanto nacionais quanto internacionais a investir pesado. Primeiro, para reduzir o prazo de entrega, mas também para oferecer condições de venda mais adequadas ao gosto do consumidor, como parcelamento, frete grátis e até devolução da compra sem ônus.

Americanas Mundo, braço de cross border da Americanas.com, única grande empresa nacional que atua nesse segmento, fechou acordo com três transportadoras para cortar pela metade o prazo de entrega de importados de oito países. Antes da parceria, explica Raoni Lapagesse, diretor de Relações Institucionais da B2W, o prazo girava em torno de 40 dias úteis e agora é de, no máximo, 21 dias úteis. O frete é grátis para todos os produtos.

Centro de distribuição da Americanas.com Americanas Mundo fechou acordo com três transportadoras internacionais. Foto: Lojas Americanas

O executivo não revela qual é a fatia do cross border dentro do e-commerce da empresa nem os investimentos. Mas diz que é “um negócio que vem crescendo rápido”. Lançada em março de 2019, a Americanas Mundo reúne 20 milhões de itens e 200 vendedores internacionais. No terceiro trimestre de 2020, as vendas de cross border cresceram 200% ante igual período de 2019, enquanto o marketplace que vende itens nacionais, avançou 60%. “É uma nova frente que dá certo e tem potencial”, diz.

A forte aceleração de vendas no Brasil durante 2020 foi sentida também pelo AliExpress, do grupo chinês Alibaba, o maior e-commerce cross border do mundo. Há 11 anos no País, o site tem 2,5 bilhões de produtos listados, fornecidos por 8,7 milhões de fabricantes chineses.  Com a pandemia, itens relacionados com conforto da casa ampliaram vendas em mais de 130% e os ligados ao teletrabalho, como webcams, registraram avanço de 3.800%. “Em datas promocionais como Black Friday, dobramos as vendas e outros players também”, diz Yan Di, diretor geral do AliExpress Brasil. O executivo compara essa aceleração de vendas no Brasil em 2020 à pandemia de SARS na China em 2008 e diz que a mudança veio para ficar, mesmo com a vacina.

De olho nesse potencial, a partir do segundo semestre de 2020 o AliExpress freta quatro voos semanais da China para o Brasil. Com isso, reduziu o prazo de entrega para, no máximo, 30 dias corridos e, em alguns casos, chega a sete dias. O frete grátis, que valia para compras de no mínimo US$ 30, foi reduzido para US$ 15.

Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, diz que o prazo de entrega é o ponto frágil do e-commerce cross border. Pesquisa da entidade mostra que 48% dos brasileiros esperavam mais de 60 dias para receber o produto e que a grande maioria (71%) achava aceitável receber em, no máximo, 30 dias.

Segundo Terra, o e-commerce cross border tinha espaço menor por conta do prazo longo de entrega e do desconhecimento do consumidor. “De um ano para cá, esses dois obstáculos começaram a cair.” Além disso, houve avanço do cross border por meio de redes sociais.

Lacunas

Diante do potencial, os marketplaces buscaram saídas para tornar a venda mais “amigável”. “Verificamos todos os ‘gaps’”, diz Lapagesse. A companhia iniciou o parcelamento em 12 vezes sem acréscimo da compra em reais. Uma vantagem, apontada pelo executivo, é que a empresa tem uma marca nacional forte o que deixa o consumidor mais seguro em relação à aplicação do Código de Defesa do Consumidor, se houver problemas.

Nessa direção o AliExpress abriu uma central que atende o consumidor com profissionais falando português e passou a oferecer devolução grátis da compra por qualquer motivo.

A estratégia desses marketplaces tem endereço certo: conquistar uma fatia maior de um mercado que movimentou em 2018 – o último dado disponível – US$ 2,2 bilhões ou 23% da venda total do e-commerce.

Procurados, Magalu e Via Varejo, dois importantes marketplaces nacionais e que não têm cross border, não quiseram se manifestar sobre o tema.

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