Ponte para o futuro

Por
Bruna Frascolla – Gazeta do Povo

Ponte chinesa que supostamente ligará Salvador a Itaparica.| Foto: Divulgação

É humano descartar em bloco as afirmações de quem se provou antiético. Afinal, as pessoas falam muitas coisas e sair analisando uma a uma dá trabalho demais. Por isso lidamos no cotidiano com a ideia de poço envenenado: não acreditamos em ladrões, em mentirosos, em incompetentes ou em insensatos, porque a vida é curta e preferimos gastar nosso tempo com pessoas sensatas e honestas.

No entanto, às vezes as pessoas sensatas e honestas, justamente por serem sensatas e honestas, não têm contato com uma parte importante da realidade em que se praticam crimes e insanidades. Por isso existem coisas tais como delação premiada, em que o bandido tem de convencer os investigadores de estar falando a verdade.

Fora das delegacias, quando o país está todo imerso em crime e insanidade, convém voltarmos as orelhas aos loucos e malfeitores. Em especial agora que tratamos de concentração de poder. Segundo a esquerda nacional-desenvolvimentista, a Lava Jato foi uma operação para desmantelar o empresariado nacional.

Uma dose de razão aos nacional-desenvolvimentistas?
No calor da Lava Jato, não dávamos ouvidos ao esperneio dos petistas e muito menos aos nacional-desenvolvimentistas, responsáveis por políticas econômicas que levaram o país àquela que, mesmo após a pandemia, continua sendo a pior crise econômica registrada na sua história.

Voltemos àquela época. O Brasil já acompanhava placar de votação do Supremo e já sabia a escalação dos ministros. E mais: o STF não estava, como hoje, desmoralizado in bloco. Havia os ministros tidos por simpáticos à causa da Lava Jato. Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, ambos indicados por Dilma, eram dois deles. Até pelo menos 2018, Barroso estava nos Estados Unidos dando declarações favoráveis à Lava Jato. Foi também em 2018 que ele chamou Gilmar Mendes de “pessoa horrível, mistura do mal com atraso e pitadas de psicopatia”. Outros tempos. Não havia sombra do atual corporativismo no STF.

Se Dilma não aprovasse o instituto da delação premiada, não tinha Lava Jato. Poderia ser mera burrice inexplicável, mas depois saberíamos, por Palocci, que a intenção de Dilma era derrubar Lula e se tornar mais poderosa do que ele. Lula foi preso; Dilma terminou solta e elegível. Cunha foi preso, Geddel foi preso. Dilma terminou solta e elegível. Que há algo estranho aí, há; e não tenho a pretensão de saber a explicação disso agora.

Dando razão aos nacional-desenvolvimentistas, cabe notar que Lula foi solto, Cunha foi solto, Geddel foi inocentado e Marcelo Odebrecht continua preso.

Hipótese
Tenho a seguinte hipótese: existiu durante a Lava Jato uma cisão entre a velha esquerda nacionalista, que desejava um Brasil grande, com empresariado nacional se expandindo pelo terceiro mundo, e a nova esquerda, globalista (em direitês) ou entreguista (em esquerdês), que quer entregar o controle do Brasil a um punhado de ONGs bancadas por monopolistas europeus ou norte-americanos atualmente aliados à China. A nova esquerda era instrumentalmente favorável à Lava Jato.

O verdadeiro alvo da Lava Jato, para estes, era a Odebrecht. Ela era o gigante brasileiro que recolonizava Angola e Moçambique. Sabemos que a China hoje coloniza a África. Assim, a queda da Odebrecht significaria um ganho geopolítico para a China.

Outro alvo – perspectiva baiana
A Odebrecht era um gigante nacional criminoso. O agronegócio é outro gigante nacional a ser domado. Em geral, ele não pode ser domado com a descoberta dos seus crimes.

Na Bahia petista, as obras faraônicas deixaram de ser feitas pela Odebrecht para serem feitas pela China. E no extremo-oeste baiano, na área de cerrado, o agronegócio vai de vento em popa. Não cresceu, porém, sem cometer alguns crimes. A Operação Faroeste pegou uma porção de peixe graúdo do judiciário baiano por venda de sentenças. A história é enrolada (envolve até falso cônsul da Guiné), mas fato é que o judiciário baiano há muito não goza de boa reputação, e apenas com o agronegócio. Enquanto isso, os negócios com os chineses, responsáveis pela construção da ilha de Itaparica, são muito falados e pouco investigados. Fala-se em construção de uma cidade chinesa no Recôncavo baiano num esquema com terras de Daniel Dantas. Você pode ler sobre isto num tom ameno de coluna social neste jornal baiano.

Ao que parece, o judiciário é um rottweiler com os brasileiros e um poodle com a China e as ONGs. (E falo em ONGs tendo em mente a Bahia também. Interessados podem pesquisar a sorte dos criadores baianos de jegue perseguidos pela ONG Save The Donkeys. Na última vez que olhei, os abatedouros de brasileiros foram fechados e os jegues foram vendidos a abatedouros de chineses, que a ONG não processou.)

O outro alvo – perspectiva nacional
Que fazer para acabar com os fazendeiros brasileiros corretos, que não grilaram as terras nem desrespeitaram as mais draconianas legislações ambientais? Tomar as terras. Para isso, basta uma decisão do Supremo Tribunal Federal, que é a do Marco Temporal.

Se o STF decidir contra o Marco Temporal, qualquer território brasileiro poderá ser considerado terra indígena. Os “índios” (ou ongueiros de iPhone que se dizem índios) podem invadir um terreno que está há décadas nas mãos do proprietário e reivindicar que ele vire uma reserva indígena. Os proprietários nem receberiam indenização – do jeitinho que foi com os arrozeiros da Raposa Serra do Sol.

O relator, Edson Fachin, já votou contra. A quem quiser se inteirar mais do tema, recomendo este texto de um antropólogo da FUNAI bastante diferente dos seus colegas que entraram na era petista.


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