Eleições 2022
Por
Wesley Oliveira – Gazeta do Povo
Brasília
João Amoêdo (Novo), Alessandro Vieira (Cidadania), Simone Tebet (MDB) e Luiz Henrique Mandetta (DEM) nos atos do último domingo (12): representantes da terceira via discutem alternativas à polarização entre Bolsonaro e Lula nas eleições de 2022.| Foto: Reprodução/Twitter
Apesar da baixa adesão de público nas manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) do último final de semana, políticos envolvidos na construção de uma candidatura da chamada terceira via avaliam positivamente a exposição tida nos atos. Durante os protestos, diversos pré-candidatos discursaram e defenderam uma alternativa à polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições do próximo ano.
“A corrupção no Brasil não começou com o PT e ela não começou com o Bolsonaro. A corrupção está enraizada no Brasil há muito tempo. Todo o trabalho que muita gente de bem fez para combater esse mal foi jogado fora por Jair Bolsonaro. Ele jogou fora a Lava Jato e jogou fogo em todos aqueles que colocaram a cabeça a risco. A gente não está condenado a viver escolhendo entre o corrupto da esquerda e o corrupto da direita “, discursou e o senador Alessandro Vieira (SE), pré-candidato ao Palácio do Planalto pelo Cidadania.
Na última quarta-feira (15), o partido de Vieira e o PV, também envolvido nas articulações da terceira via, se juntaram aos partidos de esquerda para articular novas manifestações contra Bolsonaro. Outras legendas como PSD, MDB, PSDB e Novo também foram convidadas, mas não estiveram presentes. A expectativa, no entanto, é que pré-candidatos destes partidos participem dos próximos atos contra o governo, que devem ocorrer nos dias 2 de outubro e 15 de novembro. Os representantes desses partidos avaliam que a exposição e o envolvimento na organização das manifestações podem beneficiar os pré-candidatos do grupo.
Responsável pela articulação do DEM, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta afirma que a manifestação foi um primeiro passo para a movimentos contrários ao governo Bolsonaro. Apesar da presença e dos discursos dos pré-candidatos envolvidos na articulação da terceira via, Mandetta não viu os atos como um movimento eleitoral. “A maioria que vi foi de forma espontânea. Ali não havia convocação de partido e não tinha a máquina na organização prévia”, afirma o ex-ministro.
Convocadas desde julho por movimentos como Vem Pra Rua, Livres e Movimento Brasil Livre (MBL), as manifestações contra o governo Bolsonaro tiveram a adesão de políticos, partidos e algumas centrais sindicais fechada poucos dias antes da data para os protestos. Na ocasião, apenas partidos como PT e PSol se negaram a participar dos movimentos em razão de divergências políticas passadas.
Para os próximos meses, Mandetta, que vem sendo testado como pré-candidato, afirma que irá manter a mobilização e os encontros com lideranças políticas e outros representantes políticos, com o ex-ministro Sergio Moro, por exemplo.
Você acredita na viabilidade eleitoral de um candidato que possa fazer frente a Lula e Bolsonaro em 2022?
Sim. Se houver unificação da terceira via em um candidato, é póssível que ele chegue ao segundo turno.
Gostaria de acreditar que sim, mas acho que o voto da terceira via será pulverizado em vários candidatos.
Não. As eleições presidenciais serão cada vez mais polarizadas entre Bolsonaro e Lula.
“As pessoas têm que entender que estamos vivendo 2021. Estamos fazendo reuniões semanais e discutindo os problemas do Brasil de acordo com os temas. Nesta semana vamos discutir propostas para a parte de energia, que está sendo um grande problema agora com essa crise. Já fizemos cinco temas e estamos construindo um programa de governo. Essa coisa da candidatura e de um nome em si ela vai se clarear no primeiro semestre do ano que vem. Política se faz assim, um passo de cada vez”, afirmou Mandetta.
Também envolvido nas articulações, o presidente do Cidadania, Roberto Freire, descarta que as manifestações do último final de semana tiveram como base testar a viabilidade da terceira via. De acordo com ele, os partidos estão focados em resolver as divisões internas para posteriormente chegarem a um consenso do nome mais viável.
“As manifestações não tiveram foco na terceira via, até porque se fizer isso, divide o que não pode ser divido. Estamos dando os primeiros passos para a construção de uma grande frente ampla que derrote o fascista Bolsonaro. Sobre terceira via e 2022 a gente conversa entre os envolvidos”, diz Freire.
Temer recua da possibilidade de terceira via
Envolvido na construção da carta à nação divulgada pelo presidente Jair Bolsonaro na última semana, o ex-presidente Michel Temer recuou das articulações do MDB por uma terceira via. Ao jornal Correio Braziliense, o emedebista disse que acha difícil que os pré-candidatos se unam.
“Com toda a franqueza, estou achando complicada essa história. Não acho fácil que os principais cotados da terceira via, em um dado momento, abram mão da candidatura, priorizando só um candidato (…) você veja que se houver muitos candidatos, ganha com isso aqueles que polarizaram”, disse Temer.
A declaração ocorre menos de um mês depois que o ex-presidente desembarcou em Brasília para o lançamento de um manifesto do MDB que iria nortear as negociações da ala do partido que defende uma candidatura de terceira via. Esse grupo tentava frear as negociações de caciques do MDB que se aproximaram de Lula, como o ex-senador Romero Jucá e o ex-presidente José Sarney.
Os aliados de Temer chegaram a cotar a senadora Simone Tebet (MS) como possível pré-candidata do partido. No entanto, Temer afirmou que não acredita que o partido seguirá com essa posição. “Conheço o MDB há muito tempo, né? E sempre foi assim… Sempre quis lançar candidato e muitas vezes acaba não lançando. Hoje, tem uma bela pré-candidata, a Simone Tebet, mas não sei se o partido vai com essa posição até o final”, afirmou.
Apesar disso, a senadora tem sinalizado que irá se manter envolvida nas articulações para construção de uma candidatura alternativa a Bolsonaro e a Lula. Aos seus interlocutores, a emedebista tem afirmado que a busca tem que ser por alguém que consiga tirar o presidente Bolsonaro da disputa do segundo turno.
A disputa do DEM e do PSD pelo presidente do Senado
Nesta semana, os presidentes do PSD, Gilberto Kassab, e do DEM, ACM Neto, participaram de um evento virtual com investidores onde debateram o cenário eleitoral para 2022. No entanto, nenhum deles cravou qual será o nome que irão lançar no ano que vem.
Um dos impasses está na articulação de Kassab para tirar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, do DEM e filiá-lo ao PSD. No debate, Kassab diz confiar que conseguirá atrair o senador mineiro ao PSD para brigar pelo Palácio do Planalto. Já ACM Neto tem outra alternativa caso o ex-ministro Mandetta não se viabilize politicamente.
“Acredito que no segundo turno possa estar o presidente Lula com a terceira via na disputa”, declarou Kassab. De acordo com o presidente do PSD, não existe “nenhum problema” entre ele e ACM Neto pela disputa por Pacheco.
Além de uma eventual candidatura de Mandetta, ACM Neto confirmou pela primeira vez que o DEM caminha para uma fusão com o PSL. O ex-prefeito de Salvador negocia com Luciano Bivar, presidente do PSL, uma união que poderia transformar o novo partido no maior da Câmara e, com isso, receber a maior fatia dos fundos partidário e eleitoral. “Os próximos 15 dias serão decisivos, e vamos ter uma ideia se essa fusão irá adiante ou não”, afirmou ACM Neto sem dar mais detalhes.
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PSDB pode abrir mão de cabeça de chapa
No mesmo encontro, o presidente do PSDB, Bruno Araújo (PSDB), não descartou retirar o lançamento de um nome como cabeça de chapa para apoiar alguém com maiores chances de vitória em 2022. O partido passa por um processo de prévias internas para escolha do candidato presidencial, que deve ser definido somente em novembro. Os governadores Eduardo Leite (RS) e João Doria (PSDB); o senador Tasso Jereissati; e o ex-senador Arthur Virgílio (AM) disputam a vaga.
“Claro que o escolhido de um processo tão vigoroso e forte como esse sai com muita força política, mas cabe a ele demonstrar que tem liderança política, pessoal, republicana, de fazer esse conjunto de forças entender que ele é o melhor nome, ou ter a humildade suficiente de entender que surgiu uma outra força política”, disse Araújo.
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