Eleições 2022

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Isabella Mayer de Moura – Gazeta do Povo

Candidatos que tentam se viabilizar como uma via alternativa às candidaturas de Lula e Bolsonaro: Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Sergio Moro (Podemos), Rodrigo Pacheco (PSD) e João Doria (PSDB)| Foto: Marcos Lopes/ALMT; Divulgação/MDB; Saulo Rolim/Podemos; Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil; Governo do Estado de S. Paulo

A terceira via vai entrar em 2022 “congestionada”. São ao menos sete pré-candidaturas alternativas às do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – que, neste momento, são os protagonistas da corrida eleitoral. Sergio Moro (Podemos), Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB), Rodrigo Pacheco (PSD), Simone Tebet (MDB), Alessandro Vieira (Cidadania), Felipe D’Ávila (Novo) e André Janones (Avante) colocaram seus nomes à disposição para disputar a Presidência no ano que vem.

A tendência é que nem todos eles continuem sendo uma opção de voto em 2 de outubro, dia da eleição. Mas, ao menos neste fim de 2021 e começo de 2022, são baixas as chances de que haja uma candidatura única de terceira via para fazer frente à polarização entre Bolsonaro e Lula. Ciro, Doria e Moro, os três principais nomes da chamada terceira via, não parecem estar dispostos a abrir mão de concorrer à Presidência da República.

Porém, especialistas ressalvam que muitos fatores podem mudar o cenário nos próximos dez meses e que, em se tratando de política, nada pode ser descartado. Como disseram Felipe D’Ávila e Alessandro Vieira recentemente: “a maratona está apenas começando”.

Ciro nega desistência 

Ciro Gomes e o presidente do PDT, Carlos Lupi, sustentam que a candidatura do pedetista está de pé, contrariando especulações de que Ciro possa desistir ou até mesmo se unir ao PT na corrida eleitoral.

Essas hipóteses ganharam fôlego depois que Sergio Moro oficializou sua entrada na política e teve resultado melhor do que o cearense, segundo pesquisa eleitoral de dezembro da Genial/Quaest (o ex-juiz apareceu com 10% das intenções de voto e Ciro com 5%).

Por causa da estagnação do pré-candidato do PDT, uma ala do partido acha melhor que Ciro desista, por receio de que o partido fique isolado nas eleições de 2022 e que isso acabe prejudicando candidaturas de parlamentares, especialmente no Nordeste, onde a popularidade de Lula é maior.

À Gazeta do Povo, Lupi negou que a candidatura de Ciro Gomes esteja fragilizada. Quanto às pesquisas eleitorais, disse que “não há com o que se preocupar neste momento” e, em relação aos questionamentos internos sobre a candidatura de Ciro, ele foi taxativo: “Ciro vai resistir. O PDT vai resistir. Para aqueles que pensam diferente, a porta aberta é a serventia da casa. Serve para entrar os convictos e para sair aqueles que não têm as suas convicções entrosadas com a do partido”.

O presidente do PDT disse também que quem tem que se preocupar com a entrada do ex-juiz da Lava Jato na disputa eleitoral é Bolsonaro. “Bolsonaro é a matriz e Moro é a filial, Então quem tem que se preocupar é a matriz. A gente não disputa a mesma parcela do eleitorado”.

Apesar da aparente serenidade em relação à pré-candidatura de Moro, Ciro passou a criticar o ex-ministro de Bolsonaro com mais frequência. “Sergio Moro é um ex-juiz politiqueiro, que botou Lula na cadeia e depois foi ser ministro do outro [Bolsonaro], que se elegeu porque tirou os direitos políticos do outro [Lula]. Virou ministro porque passou a mão, acobertou a ladroeira de Bolsonaro, da família do Bolsonaro, deixou o Coaf ser desmoralizado para proteger Bolsonaro”, afirmou Ciro em entrevista à BandNews no começo de dezembro. Ele também já convidou Moro para o debate. “Eu vou tirar a sua máscara”, disse a Moro durante entrevista ao apresentador da Band TV José Luiz Datena.

Lupi também descarta uma união com o PT, ao menos no primeiro turno. “A etapa do Lula no governo já foi ultrapassada. Nós temos que olhar o futuro do Brasil de uma nova maneira”, disse o presidente do PDT em entrevista recente ao jornalista Luis Nassif, quando perguntado sobre a possibilidade de uma chapa com Lula e Ciro.

Mesmo após ser alvo de uma operação da Polícia Federal em dezembro, em uma investigação que apura um suposto esquema de corrupção envolvendo as reformas da Arena Castelão, em Fortaleza (CE), Ciro reiterou sua disposição em concorrer ao mais alto cargo Executivo do país. Ele se defendeu dizendo que a operação foi abusiva e que o objetivo da operação foi criar danos à sua candidatura presidencial.

A ideia do partido para ampliar as chances de Ciro nas eleições de 2022 é aumentar o diálogo com a sociedade. “Estar cada vez mais na rua, ter interlocução com a sociedade, visitar comunidades carentes, apresentando nosso projeto. Só se encontra caminhos caminhando”, disse Lupi à Gazeta do Povo.


Campanha de Doria acredita em união da terceira via de centro
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), começará o ano eleitoral com poucas intenções de voto, segundo as pesquisas de dezembro da Genial/Quaest e do Datafolha (2% e 4%, respectivamente). Ainda assim, é um candidato que não pode ser subestimado, seja pela capilaridade do PSDB ou da capacidade política para reverter cenários desfavoráveis que ele apresentou em eleições anteriores.

Em 2016, nas eleições para a prefeitura de São Paulo, Doria tinha apenas 5% das intenções de voto dois meses antes das eleições, segundo o Datafolha – naquele ano, o tucano venceu a disputa no primeiro turno. Apesar disso, impulsionar a campanha nacional promete ser mais difícil, pois Doria já é um político bastante conhecido no Brasil e não conta mais com o fator “novidade”.

Para alavancar sua candidatura, economia e vacina serão os temas estratégicos de Doria em 2022. Wilson Pedroso, coordenador da campanha do governador paulista, disse à Gazeta do Povo que, nessas áreas, Doria tem bons resultados nos três anos em que esteve no comando do Palácio Bandeirantes. Ele citou o crescimento do PIB paulista em 2020, apesar da pandemia de Covid-19, e o fato de Doria ter articulado a parceria com o laboratório chinês Sinovac, que possibilitou a fabricação da Coronavac no estado de São Paulo. Doria também já apresentou a equipe econômica que o acompanhará durante a campanha: os economistas Henrique Meirelles, Ana Carla Abrão, Vanessa Rahal Canado e Zeina Latif.

Pedroso também considera que a realização das prévias tucanas, que escolheram Doria o candidato a presidente pelo PSDB, também darão uma vantagem competitiva ao pré-candidato. O processo, segundo ele, deu à campanha a oportunidade de se organizar, conversar com lideranças partidárias e empresariais, e conhecer as necessidades locais. Ele nega que haja uma divisão do partido e diz que mantém contato com o governador gaúcho, Eduardo Leite, que disputou as prévias com Doria.

Enquanto lida com divergências internas e os impactos midiáticos negativos da saída de Geraldo Alckmin, um de seus fundadores, o PSDB busca apoio de outros partidos e não descarta a união de siglas de centro e centro-direita nas eleições presidenciais do ano que vem, com União Brasil, MDB, entre outros. “Este é um momento de diálogo e estamos em contato com todos da terceira via. É possível e é o ideal [que haja apenas uma candidatura da centro-direita em 2022]”, afirmou Pedroso.

Um recente encontro entre Doria e Sergio Moro (Podemos) alimentou especulações sobre uma possível aliança entre os pré-candidatos do Podemos e do PSDB em 2022. O paulista avaliou a reunião como positiva “para construção de uma base de centro-liberal com sentimento de proteção do Brasil e dos brasileiros”. O presidente do PSDB, Bruno Araújo, chegou a declarar que Moro seria um ótimo vice de Doria. Mas o principal empecilho para isso, neste momento, é que a candidatura do ex-juiz mostra mais viabilidade eleitoral do que a do tucano, considerando as duas pesquisas eleitorais citadas anteriormente (Moro tinha 10%, segundo a Genial/Quaest, e 9%, de acordo com o Datafolha).

Ainda é muito cedo para dizer se um dos dois desistirá de concorrer à Presidência para apoiar o outro ainda no primeiro turno. Uma decisão só será tomada no ano que vem, mais perto do prazo limite da Justiça Eleitoral para definição das candidaturas, em agosto.

Podemos aposta que Moro terá voto útil da terceira via
Sergio Moro é a opção de terceira via mais bem posicionada, segundo as pesquisas mais recentes do Datafolha e Genial/Quaest. Por isso, líderes do Podemos estão convictos de que o ex-juiz é o candidato da terceira via com mais chances terá de chegar ao segundo turno.

“Os números das pesquisas são muito bons. Foi um crescimento rápido desde a filiação. E, por incrível que pareça, ainda existe um grau de desconhecimento da candidatura dele. Naturalmente, com o processo da campanha andando e as pessoas sabendo que ele é candidato e entendendo que ele é a única via com possibilidades, a tendência é que ele tenha inclusive o voto útil da terceira via”, disse a presidente do Podemos, Renata Abreu.

A estratégia do partido para que Moro cresça nas pesquisas será mostrar que o ex-juiz representa “muito mais do que o combate à corrupção” e que é uma pessoa com capacidade de trazer estabilidade política e institucional para o Brasil, fugindo de “radicalismos”.

A deputada Renata Abreu também afirmou à Gazeta do Povo que a sigla está conversando com todos os partidos de centro de forma permanente e que os recentes encontros de Moro com outros pré-candidatos, como Doria e Felipe D’Ávila, têm o objetivo de consolidar um pacto de não agressão entre esses pré-candidatos.

“Nós temos uma convergência de que qualquer um desse espectro que entre é melhor para o Brasil, então a nossa ideia é não fazer um trabalho destrutivo”. Sobre a perspectiva de que haja apenas um candidato da terceira via de centro, Renata disse que a “ideia é trabalhar por isso”. “Acho que a população vai cobrar isso dos candidatos.”

Tebet, D’Ávila e Vieira têm alguns meses para mostrar viabilidade
Os demais postulantes da terceira via terão que provar que têm potencial para subir nas pesquisas ao longo do primeiro semestre do ano que vem. Caso contrário, a tendência é que retirem suas pré-candidaturas e apoiem outros nomes.

No caso da senadora Simone Tebet, a cúpula do MDB pretende viabilizar a candidatura dela até março. A seu favor, há o fato de ser a única mulher na disputa, ter baixa rejeição e contar com o suporte de um dos maiores partidos do país. Contudo, até mesmo pelo tamanho da sigla, seu nome não é consenso interno. No Nordeste, por exemplo, lideranças emedebistas são a favor de uma composição com o PT, aproveitando a popularidade de Lula na região.

D’Ávila (Novo) também está disposto a abrir mão da candidatura à Presidência, mas salienta que este é um momento em que os pré-candidatos estão apresentando propostas e que é preciso “dar tempo ao tempo” para que as ideias sejam debatidas. “Por enquanto estamos na fase de apresentar os rostos. Mas, daqui para frente, é preciso cobrar o debate de propostas. É isso que vai fazer com que haja união lá na frente, porque se as propostas forem completamente dissonantes, não haverá união”, afirmou D’Ávila em entrevista recente ao site Poder 360.

“É uma maratona de 41 quilômetros e estamos apenas no quilômetro um. As coisas mudam muito na política. São muito dinâmicas. Tem muito chão até a definição das candidaturas em julho do próximo ano”, continuou. “Não adianta antecipar essa união, porque ela não vai acontecer antes desse período.”

Em outra entrevista, ao jornal mineiro O Tempo, ele disse acreditar que até maio ou junho, a chamada terceira via terá “dois ou três nomes competitivos”. “Evidentemente, ao longo do próximo ano, até maio e junho, a terceira via, que tem muita gente hoje, provavelmente vai ter ou três nomes só, competitivos. Aí que precisa estudar se há a possibilidade de real união, que acho que existe, mas que tem que ser embasada nas propostas, não em torno de pessoas ou partidos”, pondera.

Já a respeito do senador Alessandro Vieira, a informação de bastidor é que ele tende a desistir de sua candidatura presidencial nos próximos meses. Membros do Cidadania inclusive se reuniram com Moro e uma aliança com o Podemos em 2022 já foi cogitada. Apesar disso, o partido sustenta que continua apoiando a pré-candidatura de Vieira.

Pacheco será candidato, garante Kassab

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, reafirmou recentemente que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, será o candidato ao Planalto pelo partido. Segundo Kassab, Pacheco é alguém que representa “a mais importante expressão da renovação na política”.

Sobre os baixos percentuais de intenção de voto em pesquisas eleitorais, Kassab argumenta que a tendência é que esse resultado permaneça até abril ou maio do ano que vem devido ao desconhecimento de seu nome e de sua candidatura, até porque Pacheco nunca foi candidato no plano nacional.

Na avaliação do presidente do PSD, além de Pacheco, são viáveis as candidaturas de Lula, Bolsonaro, Sergio Moro, Ciro Gomes e João Doria. Ele considera ainda ser possível uma união entre Doria e Moro e não descarta a saída de Ciro da corrida eleitoral.

Contudo, uma união do PSD com com o PT é cogitada nos bastidores. O ex-tucano Geraldo Alckmin poderia ingressar no partido para compor a chapa da presidência com Lula.


Veja os resultados de todas as pesquisas eleitorais para Presidência da República divulgadas até o momento
Metodologia das pesquisas citadas na reportagem
A pesquisa Genial/Quest citada na reportagem teve o seguinte resultado: Lula (PT), com 46%; Jair Bolsonaro (PL), 23%; Sergio Moro (Podemos), 10%; Ciro Gomes (PDT), 5%; João Doria (PSDB), 2%; Rodrigo Pacheco (PSD), 1%; Felipe D’Ávila (Novo), 1%. Branco/nulo somaram 7% e indecisos, 4%.

A pesquisa da Genial/Quaest foi realizada entre os dias 2 e 5 de dezembro, com 2.037 pessoas com 16 anos ou mais. A coleta dos dados foi realizada por meio de entrevistas face-a-face, por meio da aplicação de questionários. O nível de confiança do levantamento é de 95% e a margem de erro estimada é de 2,2 pontos percentuais, para mais ou para menos.

Já o Datafolha entrevistou 3.666 eleitores com 16 anos ou mais, entre 13 e 16 de dezembro, em 191 municípios brasileiros. As entrevistas foram presenciais. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.


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