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Agências de classificação de risco e economistas avaliam que a Rússia ficará inadimplente com seus credores em breve. O motivo são as severas sanções econômicas contra Moscou.Decreto de Putin autorizou governo russo a pagar sua dívida em rublos ao invés de em moeda estrangeira© Andrei Gorshkov/Sputnik/AP/picture alliance Decreto de Putin autorizou governo russo a pagar sua dívida em rublos ao invés de em moeda estrangeira

Os mercados de títulos de dívida estão ficando caóticos no que diz respeito à Rússia. “Nunca vi nada parecido”, diz Arthur Brunner, negociador de títulos. Ele trabalha há alguns anos em Frankfurt no banco de investimentos ICF Kursmakler. “Nos anos 90, a Rússia também estava sob enorme pressão. A própria Rússia comprou títulos no mercado a preços de banana. Hoje, apenas o pagamento já é, em si, um problema.”

Isso porque as sanções impostas à Rússia pelos países do Ocidente cortaram de forma significativa o acesso de Moscou aos mercados financeiros internacionais. É por isso que a agência de classificação de riscos Fitch baixou a classificação de crédito da Rússia de B para C na terça-feira. Isso significa que os títulos do governo russo afundaram ainda mais na faixa de junk bond. A Fitch fala agora que uma moratória russa é “iminente”.

Tesouro tem reservas

Nas últimas semanas, outras agências de classificação de risco rebaixaram os títulos russos. A Fitch justificou sua decisão pelos “desenvolvimentos que prejudicaram ainda mais a disposição da Rússia em pagar a sua dívida soberana”. A agência se referia a um decreto presidencial em vigor há alguns dias, que permite que o país pague sua dívida em rublos ao invés de em moeda estrangeira.

Em tese, a Rússia poderia pagar todos os seus vencimentos. Os cofres do Estado estão cheios, também por causa do aumento dos preços da energia no mercado mundial nos últimos meses. A agência de notícias financeiras Bloomberg estima o passivo da Rússia com credores estrangeiros em apenas 50 bilhões de dólares. “O Estado russo tem uma dívida externa bastante baixa”, diz à DW Marcel Fratzscher, presidente do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW), em Berlim.

Ao exportar petróleo e gás, afirma, a Rússia obteve altos excedentes na balança comercial e conseguiu reduzir sua dívida nos últimos anos. As reservas do Banco Central russo, por exemplo, estão em 640 bilhões de dólares. Mas uma grande parte dessas reservas de divisas no exterior foi congelada pelas sanções. Como resultado, Fratzscher também acredita que a Rússia entrará em inadimplência nos próximos meses.

Risco delimitado de contágio

É verdade que uma moratória da Rússia provavelmente teria pouco impacto sobre o sistema financeiro internacional, devido à sua dívida externa comparativamente baixa. A Rússia poderia, contudo, tentar criar incerteza seletiva, fazendo, por exemplo, ataques hackers ou transações em mercados cambiais. “Receio uma expansão do conflito para o sistema financeiro global, no qual a Rússia e seus parceiros tentarão causar distorções a fim de prejudicar a economia do Ocidente”, diz Fratzscher.

Isso poderia ocorrer já na próxima semana, para quando são devidos pagamentos de juros no valor de 100 milhões de dólares. No início de abril, um título de cerca de 2 bilhões de dólares estará pendente. “Vemos a inadimplência como o cenário mais provável”, escreveu o banco de investimentos americano Morgan Stanley a seus clientes no início desta semana.

Se a Rússia não puder mais cumprir suas obrigações, investidores na Alemanha também seriam afetados, pois bancos alemães também possuem títulos do governo russo. No entanto, os valores são administráveis, diz Fratzscher, que não vê um problema para o sistema bancário no caso de uma moratória da Rússia.

De qualquer forma, os órgãos monetários em Moscou estão tentando tomar contramedidas. Nesta semana, o Banco Central russo impôs restrições drásticas ao comércio de moedas. Por exemplo, os russos não estão autorizados a retirar mais de 10 mil dólares das contas em moeda estrangeira até setembro. Os bancos russos também estão proibidos de vender moedas estrangeiras.

Se a primeira inadimplência russa ocorrer na próxima semana, isso ainda não significará a falência do país. Após uma inadimplência inicial, há um período de carência de 30 dias, portanto uma inadimplência formal não estaria configurada até meados de abril. Por outro lado, como a Rússia tem reservas suficientes de moeda estrangeira, mas não pode recorrer a elas por causa das sanções, seria considerada uma inadimplência formal ou técnica.

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By valeon