Estratégia Eleitoral
Por
Wesley Oliveira
Brasília
Pré-candidatos a presidente Lula (PT) e Bolsonaro (PL) definem estratégias de campanha, com foco na economia| Foto: CHRISTOPHE PETIT TESSON/EFE; Joédson Alves/EFE
Faltando cerca de um mês para o início da campanha eleitoral deste ano, os articuladores dos principais nomes da disputa presidencial deste ano já traçam narrativas que pretendem emplacar ao longo da disputa. Até o momento, pautas da agenda econômica dão o tom dos discursos do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
De olho no cenário econômico, o núcleo de campanha do presidente Bolsonaro aposta na aprovação da PEC dos benefícios sociais para ampliar a popularidade do governo. Levantamento do instituto Quaest desta quarta-feira (6), mostrou que 44% eleitores acreditam que o principal problema do Brasil neste momento é a economia.
Na avaliação do entorno de Bolsonaro, se o governo for bem-sucedido na concessão do reajuste do Auxílio Brasil e do vale-gás e na criação do “voucher caminhoneiro”, o presidente deve chegar com mais musculatura para o segundo turno. Nos cálculos, a medida terá impacto, principalmente, sobre o eleitorado do Nordeste, considerado um dos principais redutos do PT.
Para o analista André César, da Hold Assessoria Política, a campanha de Bolsonaro está se movimentando para dar mais destaque à agenda econômica. Na avaliação dele, a pauta de costumes e a agenda anticorrupção não serão tão priorizadas como na disputa de 2018.
“O tema economia volta a ser preponderante. Isso explica a pressão que o governo está fazendo pra aprovar a PEC Kamikaze [PEC dos Benefícios]. No cálculo do governo e dos aliados, essa aprovação vai ter um peso no eleitorado. Esse é um ponto diferencial de 2018, onde Bolsonaro conseguiu emplacar a narrativa do combate à corrupção”, explica César.
Ainda de acordo com o analista, a campanha de Bolsonaro também precisa explorar a falta de planos do PT. “Campanha é isso. Bolsonaro precisa mostrar que o adversário, que no caso é o Lula, não tem proposta. O plano de econômico do PT é uma incógnita. A campanha deveria emplacar a narrativa de que a volta do Lula não seria uma solução, mas sim [que a solução seria] a continuidade do atual governo por mais quatro anos”, completa.
Campanha de Lula investe na “nostalgia” para tentar emplacar narrativa
A campanha do PT também vai investir nos discursos da recuperação econômica para se contrapor ao governo Bolsonaro. No entorno de Lula, a avaliação é de que o ex-presidente deve focar seus discursos para os mais pobres e na promessa de recuperação de renda lembrando números dos governos petistas.
Entre as estratégias para recuperar o eleitorado pela “memória”, a campanha de Lula regravou o jingle “sem medo de ser feliz” da campanha de 1989. O slogan “Lula lá”, criado pelo marqueteiro Paulo de Tarso, vem sendo utilizado pelos petistas no intuito de emplacar o discurso de que a campanha deste ano será de “retomada” após o governo Bolsonaro.
“Parece que agora a campanha do Lula encontrou a invocadora, que é o termo técnico que chamamos na campanha de ‘fez e fará’. A lógica da campanha do Lula é: eu já fiz, você me conhece, vou fazer de novo. Ele vem fazendo esse apelo emocional no intuito de construir unidade. Não tem como o PT fazer essa campanha sem um apelo emocional”, destaca Paulo de Tarso.
Ainda de acordo com o ex-marqueteiro do PT, essa estratégia traz uma carga emocional que pode reverberar em votos. “Isso traz uma carga de emocional que o PT teve junto aos eleitores. Ele é um ativo que emocional. Em 1989 nós conseguimos uma mobilização de emoção e vejo que eles estão tentando resgatar agora”, completou o marqueteiro.
Ciro e Tebet enfrentam dificuldades para emplacar narrativa junto ao eleitorado
Na contramão de Lula e de Bolsonaro, as campanhas do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e da senadora Simone Tebet (MDB) ainda enfrentam dificuldades para dialogarem com o eleitorado. Na avaliação de Paulo de Tarso, as duas candidaturas não conseguiram emplacar uma narrativa contra a polarização eleitoral.
“A minha avaliação é de que a terceira via é uma invenção política sem demanda popular. Existe uma parcela da sociedade que se opõe aos dois principais candidatos, mas no momento atual não existe uma demanda fora do campo da esquerda ou da direita. Eu fiz a campanha da Marina [Silva] em 2014, e lá tivemos 20% dos votos. Hoje eu não vejo essa demanda. Houve todo um processo de exploração da terceira via, mas o eleitorado não comprou essa narrativa”, defende Tarso.
Para o analista André César, as pesquisas sempre mostraram que o eleitor já tinha optado pela polarização entre Bolsonaro e Lula. “As pesquisas sempre apontaram que a terceira via nunca se mostrou uma alternativa viável. Eram muitos candidatos, mais nomes e egos do que propostas. Ela [terceira via] não encantou o eleitor. O eleitorado optou pela polarização e vai escolher Bolsonaro ou Lula”, explica.
Para marqueteiros, rejeição vai definir o segundo turno entre Bolsonaro e Lula
De acordo com a Quaest, o ex-presidente teria 54%, ante 34% do atual presidente em um eventual segundo turno. Nos cálculos dos marqueteiros ouvidos pela Gazeta do Povo, a rejeição, no entanto, deve pautar a agenda entre os dois candidatos.
Ainda de acordo com o levantamento da Quaest, a rejeição ao presidente Bolsonaro chega a 59% dos entrevistados, enquanto 41% rejeitam o ex-presidente Lula. Para André César, o índice de rejeição será determinante para definir o próximo presidente.
“O índice de rejeição sempre é importante. Se o candidato que aquele eleitor votou não for para o segundo turno, ele vai escolher aquele que considera menos pior. Na média geral das pesquisas, os índices de rejeição estão muito próximos. Dada essa escala, se o Bolsonaro crescer nas próximas semanas e se aproximar do Lula, nós teremos um segundo turno resolvido por quem tiver a menor rejeição”, explica o analista.
Na mesma linha, Maurício Moura, fundador do instituto Ideia, avalia que essa eleição é o que ele chama de “batalha de rejeições”. “Tanto a rejeição ao PT quanto ao presidente Bolsonaro. Nesse momento, a rejeição ao governo maior proporciona a liderança do Lula, mas quem chegar com uma rejeição menor em outubro será o vencedor”, diz.
Para o marqueteiro Marcelo Senise, CEO da agência Social Play, todos esses movimentos reforçam que a eleição ainda está aberta. “Isso mostra que gente ainda está com uma eleição completamente indefinida. Essa eleição vai ser muito menos ideológica que anterior, o que pode tornar a coisa mais instável, mas pode abrir um discurso mais interessante para as narrativas das campanhas”, afirma.
Metodologia de pesquisa citada na reportagem
A pesquisa Quaest, encomendada pelo banco Genial, ouviu 2 mil eleitores entre os dias 29 de junho e 2 de julho. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. O levantamento foi registrado no TSE sob o número BR-01763/2022.
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