Pentágono afirmou que testou o míssil balístico intercontinental Minuteman III, considerado um dos mais tecnológicos do mundo. O destino do teste não foi divulgado pelo Departamento de Defesa dos EUA, mas a intenção do exercício militar é passar um recado à China por conta do tensionamento entre Pequim e Taiwan.

Tudo começou com a visita de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, ao país. A parlamentar que lidera o partido de Joe Biden na casa baixa da legislatura estadunidense participou de solenidades em Taipei, quebrando a política de ‘Uma Só China’, adotada por Washington desde os anos 1970.

© Yuri FerreiraO que o míssil intercontinental testado pelos EUA tem a ver com China e Taiwan

Minuteman III foi criado no auge da Guerra Fria e tem capacidade de atingir praticamente qualquer ponto do planeta terra com ogivas nucleares

A viagem foi lida por Pequim como uma grande provocação e acendeu os ânimos entre o Partido Comunista Chinês (PCCh) – que reclama a soberania sobre a ilha de Taiwan – e os EUA, que mantém uma diplomacia confusa, reconhecendo Pequim como a “verdadeira” China, mas apoiando o separatismo taiwanês.

Após a viagem de Pelosi a Taiwan, o governo do PCCh ordenou uma série de exercícios militares ao redor da ilha, para demonstrar poderio militar frente ao Taipé. Além disso, a China também anunciou um embargo econômico de diversos setores da economia taiwanesa, que depende de Pequim para garantir seu abastecimento.

Agora, os EUA – que desde 2003, no governo George W. Bush, sustentam a ideia de defesa armada de Taiwan contra a China – testam o míssil balístico intercontinental Minuteman III, criado no auge da Guerra Fria.

Este lançador de mísseis de capacidade nuclear tem alcance de quase dez mil quilômetros e pode viajar a uma velocidade de 24 mil quilômetros por hora, ou seja, chega em seu destino mais distante em cerca de 25 minutos.

Basicamente, todo o planeta está sob alcance dos Minuteman III, com exceção de algumas regiões costeiras do Oceano Índico.

Em comunicado, os EUA afirmam que o teste demonstra “a prontidão das forças nucleares dos Estados Undidos e fornece confiança na letalidade e eficácia do poderio nuclear do país”.

© Yuri FerreiraReservists Of PLA Attend Ceremony In Nanjing

China possui maior exército do planeta em número de ativos; país planeja unificação com Taiwan de forma pacífica, mas recentes tensionamentos podem desencadear reação militar para anexação de ilha nos próximos anos

A China tem criticado veementemente a postura de Washington frente à questão de Taipei. “Associar-se aos separatistas em Taiwan e tentar desafiar o princípio de Uma Só China é um erro de julgamento e não levará a lugar nenhum esse pequeno número de políticos norte-americanos”, disse Wang Wenbin, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China.O governo de Xi Jinping tem aumentado seus investimentos em gastos militares nos próximos anos. O país possui o maior exército do mundo em número de pessoas, com mais de 2 milhões de soldados na ativa das Forças Armadas. Além disso, a China possui algumas ogivas nucleares. Contudo, é válido ressaltar que os EUA possuem o maior investimento militar do mundo e possuem o segundo maior arsenal atômico do planeta.

China, Taiwan e EUA: motivos da tensão, interesses envolvidos; e o que isso tem a ver com a Rússia

Redação HypenessAcreditamos no poder da INSPIRAÇÃO. Uma boa fotografia, uma grande história, uma mega iniciativa ou mesmo uma pequena invenção. Todas elas podem transformar o seu jeito de enxergar o mundo.

Nesta terça-feira (2), a Presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, pousou em Taiwan. A líder do Partido Democrata no parlamento estadunidense e aliada de Joe Biden fez sua primeira visita ao país. O fato causou intensa revolta na China.

A visita de Pelosi a Taiwan representa uma grave ameaça a Pequim e reacende o debate sobre uma possível guerra de nível global no mundo todo. Mas, por que Taiwan, um país relativamente pequeno, causa tanto debate entre os especialistas em geopolítica? Para entender isso, devemos voltar ao passado.

Taiwan e China: um conflito complexo, brevemente resumido

Em 1912, a China passou por uma guerra civil que acabou derrubando a Dinastia Qing. Para a derrubada do imperador, os comunistas (PCCh) e os nacionalistas (Kuomintang) formaram uma aliança, mas apenas os nacionalistas chegaram ao poder. Eles instauraram uma ditadura aos moldes capitalistas. A partir de 1927, o PCCh inicia uma guerrilha contra a ditadura do Kuonmintang, liderada por Chiang Kai-Shek.

Chang Kai-Shek, líder do Kuonmitang e ex-ditador de Taiwan, é venerado como libertador da República da China

Vale lembrar que Kuonmitang e o Partido Nazista – aliado do Japão na Guerra – tinham relações muito próximas e foram parceiros políticos e comerciais até 1941. A parceria só acaba quando Hitler decide apoiar o Japão em sua tomada da Manchúria, território na China que ficou em disputa entre soviéticos e nipônicos.

Ao longo destes 30 anos, o país vivia em pobreza extrema, com grandes problemas fundiários, alta desigualdade, fomes constantes e enriquecimento das elites econômicas. Sob a égide dos japoneses, a miséria dos chineses aumentou ainda mais.

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Mao Tsé-Tung, líder comunista, conseguiu angariar um maior exército para combater os capitalistas e os estrangeiros, através da Grande Marcha e outras formas de agitação. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, com a queda do Japão devido ao avanço soviético na Manchúria, a Guerra Civil Chinesa ainda não tinha acabado.

Foi só em 1949, após 22 anos de conflito, que o Partido Comunista Chinês conseguiu vencer o Kuonmintang na Guerra Civil, cujo marco do fim é justamente o surgimento de Taiwan. Chiang Kai-Shek foge para a então Ilha de Formosa junto de seus apoiadores e outros exilados. Lá, ele implanta uma ditadura militar capitalista com apoio dos EUA.

Nunca um tratado de paz foi assinado ou reconhecido. E aí começa a política de “Uma Só China”.

Uma só China

O nome oficial de Taiwan é República da China (RDC). O nome oficial da China é República Popular da China (RPC). Se você é um país, só pode ter relações diplomáticas com um dos dois. Na teoria, Taiwan reclama que detém domínio sobre todo o território da atual RPC. Já Pequim afirma que a Ilha de Formosa é controlada por um governo rebelde que deve ser derrotado.

EUA foram os primeiros apoiadores da República da China de Taipé; entre 1954 e 1979, Washington manteve uma base militar no território com armas apontadas para Pequim

Na prática, Taiwan atua como um estado independente. E até os anos 1970, tinha relações diplomáticas com a maior parte do Ocidente. Porém, com a morte de Mao Tsé-Tung, a China Comunista passou a ser mais interessante para o Ocidente. Pequim oferecia milhões de potenciais novos consumidores, uma economia crescente e bombas nucleares.

Então, o mundo passou a reconhecer Pequim como capital da China e não Taipé. Atualmente, somente Belize, Eswatini, Guatemala, Haiti, Vaticano, Honduras, Ilhas Marshall, Nauru, Palau, Paraguay, Santa Lúcia, São Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas e Tuvalu reconhecem Taiwan como a “China Verdadeira”.

Contudo, desde 2016, Taiwan tem considerado abandonar completamente essa política. O país vem indicado o desejo de declarar independência e deixar de tentar disputar com a China pela autoridade sobre a região.

Contudo, isso é inaceitável para Pequim.

Os interesses dos EUA em Taiwan

O maior parceiro comercial de Taiwan é a China. Sério. Mesmo com relações inconciliáveis, Taiwan depende economicamente da China, país que mais importa e exporta produtos da ilha. Mas o que Taipé produz? Então… é aí que está a grande questão: o mundo todo depende deles.

Manifestantes protestam contra a visita de Nancy Pelosi em Taiwan e defendem paz para o país

É na Ilha de Formosa que todos os microchips do mundo são feitos. Na prática, eles possuem a tecnologia mais avançada em nanotecnologia do planeta. Nem os EUA, nem a China possuem alguma forma de tentar replicar o avanço de Taiwan nessa área. Nos últimos anos, o governo de Pequim tem tentado incessantemente promover uma “fuga de cérebros”, isto é, contratar engenheiros de ponta de Taiwan para conseguir importar a tecnologia para o continente. Mas o processo é extremamente lento.

Além disso, Taiwan é uma pedra no sapato – e seria uma pedra no sapato ainda maior caso independente – para a exploração marítima na região. As fronteiras que definem as Zonas Econômicas Exclusivas de cada país não são bem definidas em toda a costa chinesa, que disputa com Vietnam, Brunei, Indonésia, Malásia, Japão e Taiwan o direito de pesca e mineração no fundo do mar.

A China é a principal rival dos EUA no que se refere à diplomacia e economia. Os dois países têm uma relação de morde e assopra há alguns anos, mas isso se intensificou durante a ‘Era Trump’ e segue sendo a retórica do governo do Democrata Joe Biden.

A visita de Pelosi é uma provocação

Com a aproximação de Pelosi de Taiwan – que indica um flerte dos EUA em favor da independência de Taiwan -, os Estados Unidos provocam um estremecimento nas relações entre Washington e Pequim.

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Em 2001, o presidente George W. Bush – um Republicano – disse à imprensa estadunidense que os EUA fariam “tudo que fosse necessário para defender Taiwan”.

Taiwaneses assistem declarações de Nancy Pelosi em meio ao Xiaoye, costume do país de fazer refeições a meia-noite

Com a invasão russa ao território da Ucrânia, os EUA observam que sua hegemonia militar chegou ao fim e que é necessário expandir sua esfera de influência. Enfraquecer a economia russa e a economia chinesa passou a se tornar um objetivo dos estadunidenses.

Criar a instabilidade e expandir seus interesses militares em Taiwan é mexer no calo da China. “Os Estados Unidos carregarão a responsabilidade e pagarão o preço por minar a soberania e a segurança da China”, disse à imprensa a porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying.

A Rússia também aproveitou para se pronunciar. Vale lembrar que as relações entre Moscou e Kiev esfriaram por conta da aproximação dos políticos ucranianos aos interesses da Organização pelo Tratado do Atlântico Norte (OTAN), liderada pelos EUA.

“Washington desestabiliza o mundo. Nem um único conflito solucionado nas últimas décadas, mas muitos provocados”, afirmou a porta-voz do ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, em comunicado nas redes sociais.

A China não deve avançar militarmente contra Taiwan nos próximos meses. Ao contrário de Moscou, Pequim nunca se envolveu em um conflito militar direto após sua independência e seu exército também não é tão bem preparado como o russo. Mas não é possível prever os próximos anos. Seguimos em tensão.


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By valeon