Substituição ao debate
Economia, meio-ambiente, ministros e mais: como foi a entrevista de Bolsonaro a SBT e CNN
Por
Gabriel Sestrem


Com a ausência de Lula, o debate inicialmente marcado entre os dois candidatos à Presidência foi convertido em entrevista de uma hora com Jair Bolsonaro.| Foto: Reprodução

O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, concedeu entrevista ao pool de veículos formado por SBT, CNN Estadão e outros na noite desta sexta-feira (21). Inicialmente estava agendado para essa data e horário um debate entre Bolsonaro e o também candidato à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Lula, no entanto, decidiu não comparecer ao debate alegando incompatibilidade de agenda. Segundo as regras acordadas entre pool de veículos e representantes das campanhas, caso um dos candidatos decidissem se ausentar, seria dedicado tempo de uma hora para entrevista ao candidato participante.

Na entrevista, o atual presidente falou sobre temas como economia, relação entre poderes, possível aumento de ministérios e meio-ambiente e evitou centralizar em críticas ao seu oponente, Lula.

Veja a seguir os principais pontos da entrevista:

Economia
Indagado sobre quais seriam os pilares do plano econômico de seu eventual novo governo, Bolsonaro inicialmente destacou que todos os atuais ministros permanecerão em caso de sua reeleição. Sobre o ministério da Economia, disse que os temas econômicos estão vinculados a Paulo Guedes, mas nas “questões mais estratégicas”, a palavra final é sua.

O presidente enfatizou os impactos econômicos da pandemia da Covid-19 e da guerra na Ucrânia no país e valorizou feitos na área econômica durante sua gestão, sobretudo durante a pandemia.

“Nós arrumamos, agora, a Economia. Como Paulo Guedes bem conversou comigo hoje, o Brasil está pronto, arrumado, para voar a partir do ano que vem; o que era deveria ser feito por nós em 2020 caso não houvesse a pandemia. A liberdade econômica, o livre comércio, a diminuição do peso do Estado, entre outras medidas, é que fazem parte do atual e futuro plano econômico do nosso governo”.

Suprema Corte e TSE
Questionado sobre eventual apoio a movimento de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro destacou que já entrou, anteriormente, com pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, mas que não deve protocolar novo pedido.

Disse também que não pretende apoiar o projeto de lei que trata do aumento do número de ministros do STF, porém fez referência ao que considera excessos por parte da Corte. “O que a gente vê acontecendo no Brasil é uma crescente de críticas ao Supremo. Faz algum tempo que eu já vinha falando sobre a palavra liberdade, que nós deveríamos nos preocupar com isso. Fiquei isolado por muito tempo falando essa palavra como num deserto. Hoje nós estamos vendo que isso tornou-se quase que uma ordem do dia”.

Bolsonaro aproveitou o momento para fazer críticas ao Partido dos Trabalhadores – que ingressou com processos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para censurar veículos de comunicação –, em especial à proposta do candidato Lula, de regulamentar os meios de comunicação. “Acho que a preocupação maior, antes até do que o TSE, tem que ser com o sr. Luiz Inácio Lula da Silva, que pretende calar a mídia brasileira”.

Governabilidade e “orçamento secreto”
Em relação à governabilidade em eventual reeleição sem recorrer ao chamado “toma-lá-dá-cá”, Bolsonaro disse que “o Congresso perdeu poderes comigo porque não entreguei ministérios – entregar ministérios, entenda parte do orçamento. Também não entreguei estatais”.

O chamado “orçamento secreto” seria, segundo Bolsonaro, a forma que o Legislativo encontrou para “participar do orçamento”. O atual presidente também negou que o mecanismo tenha sido criado por parte do governo, e afirmou que foi uma iniciativa do Congresso Nacional.

Políticas contra o racismo

Questionado sobre políticas relacionadas à equidade racial, Bolsonaro afirmou que durante sua gestão houve redução de violência contra minorias, como a população negra e LGBT. “O nosso governo procura atender a todo mundo e se afastar daquela pauta de ‘nós contra eles’”. Destacou que seu governo busca tratar a todos de forma igualitária.

Aumento do salário mínimo

Questionado sobre a existência de planejamento do governo para afastar a correção do salário mínimo pela inflação a partir de 2023 em caso de sua reeleição, o que poderia reduzir o salário mínimo, Bolsonaro atribuiu isso a uma fake news criada pelo deputado federal André Janones (Avante-MG), apoiador da campanha de Lula.

Disse que nos últimos não houve reajuste do salário mínimo com ganho real, isto é, acima da inflação, devido aos impactos econômicos da pandemia. O atual presidente tem prometido que em 2023, caso reeleito, haveria aumento real do salário mínimo.

Auxílio Brasil
Sobre o financiamento do Auxílio-Brasil, repetiu que a proposta de taxação de lucros e dividendos para quem ganha acima de R$ 400 mil seria suficiente para manter o valor de R$600 a ser pago a partir de 2023. “Caso não seja possível, junto com o Parlamento, a exemplo dessa PEC que aprovamos, faremos o mesmo para prorrogar esse benefício para o ano que vem”.

Meio-ambiente
Em relação ao meio-ambiente, mais especificamente ao aumento do desmatamento na Amazônia Legal durante seu mandato, Bolsonaro defendeu ações do governo federal nessa temática. Argumentou que em eventual novo mandato buscaria aprovar a regularização fundiária – mapeamento por satélite das propriedades para identificar os responsáveis pelas áreas em que há queimadas. “Podemos diminuir muito isso [queimadas e desmatamento] responsabilizando diretamente, no CPF, aquela pessoa causadora desse dano ambiental”.

Reforma administrativa
Questionado sobre a reforma administrativa, inicialmente valorizou feitos do seu governo em relação ao enxugamento da máquina pública, como a eliminação de 30 mil cargos comissionados no governo e a redução de concursos apenas para cargos “essenciais”.

“Não pretendo mexer na estabilidade do servidor público. Isso é um direito garantido para eles, previsto na Constituição. Poderia discutir para os futuros servidores públicos. Para os atuais, não”.

Educação

Perguntado sobre cortes na Educação e recuperação do aprendizado pós-pandemia, o atual presidente enfatizou feitos do seu governo, como a criação da Secretaria de Alfabetização, dentro do MEC, e do programa do Executivo específico para a recuperação de aprendizagem.

Bolsonaro apontou também que o foco prioritário do governo permanecerá sendo a educação básica em detrimento do ensino superior. “Por aí, criando uma boa base, podemos esperar, daqui a muitos anos, e não poucos anos, colher algo que nós queremos dos cursos superiores, que é formar um bom profissional, um bom patrão, um bom empregado ou um bom trabalhador liberal”.

Possível aumento de ministérios no governo
A respeito do número de ministérios em seu eventual novo mandato, afirmou que há a possibilidade da criação de mais três (atualmente  há 23): Indústria, Comércio e Serviços; Pesca; e Esporte. “Isso tudo é muito produtivo no Brasil, e o ministério daria mais força para que nós pudéssemos implementar essas outras políticas”.

Sergio Moro
A respeito da reaproximação com o ex-juiz e ex-ministro de Sergio Moro e possível convite para ser ministro em eventual reeleição, disse: “Não existe qualquer convite da minha parte, e nem ele [interesse] em querer voltar a ser ministro. Nós resolvemos nos aproximar. Nós resolvemos que para o bem do Brasil, qualquer equívoco ou rusga do passado vamos deixar de lado (…) Ele bem conhece o que aconteceu ao longo desses 14 anos de PT. Foi o homem que conduziu o inquérito e mostrou para o Brasil e para o mundo quão entranhada estava a corrupção no Brasil. Nós não queremos a volta disso”, declarou”.


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