Larga com críticas, contragolpe de Infantino e recepção amistosa

Foto: Anne-Christine POUJOULAT / AFP

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Por Ricardo Magatti – Jornal Estadão

Mundial começa com duelo entre Catar e Equador, ofuscado pelas críticas sobre as condições precárias de trabalhadores imigrantes e a proibição da venda de cerveja nos estádios

ENVIADO ESPECIAL A DOHA (CATAR) – A primeira Copa do Mundo no Oriente Médio larga neste domingo, 20, com o duelo entre o anfitrião Catar e o Equador. Pouco se fala, porém, sobre a partida no país-sede do Mundial, dono de uma das maiores reservas de petróleo do mundo e da terceira maior de gás natural. Horas antes de a bola rolar, o debate era centralizado nas críticas por acusações do Catar de violar direitos humanos e questionamentos dos torcedores a respeito da proibição da venda de bebida alcoólica nos estádios.

Os torcedores estão empolgados com o torneio nas ruas de Doha, capital do Catar, uma pequena nação situada às margens do Golfo Pérsico, mas a Fifa e o Comitê Supremo para Entrega e Legado lidam com críticas todos esses dias que antecederam o pontapé inicial da competição.

Homens tocam instrumentos musicais na abertura do Fifa Fan Festival, em Doha, no Catar.
Homens tocam instrumentos musicais na abertura do Fifa Fan Festival, em Doha, no Catar. Foto: REUTERS/Marko Djurica

Existem denúncias relacionadas à condição precária de trabalhadores imigrantes nas obras do Mundial e acusações de que o país viola direitos humanos e também cerceia direitos das mulheres e da população LGBT+.

O código penal do país muçulmano, que se tornou uma potência econômica a partir da descoberta do petróleo, em 1940, proíbe o casamento e relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo, que podem ser punidas com até sete anos de prisão e também não tolera manifestações afetivas em público.

As cobranças fizeram Gianni Infantino, presidente da Fifa, contra-atacar. A fim de rebater os críticos, ele disse se sentir catariano, árabe, africano, gay, deficiente e trabalhador imigrante e afirmou que não são justos os questionamentos. “O que está acontecendo agora é profundamente injusto”, rebateu o dirigente, que voltou à sua infância na Suíça para contar ter sido discriminado.

O presidente da Fifa, Gianni Infantino, rebateu as críticas à organização da Copa do Mundo no Catar.
O presidente da Fifa, Gianni Infantino, rebateu as críticas à organização da Copa do Mundo no Catar. 

Quando criança, fui discriminado porque era ruivo, tinha sardas, eu era italiano, falava mal alemão

“Não sou tudo o que mencionei antes, e não sou realmente um trabalhador estrangeiro, mas me sinto assim porque sei o que é ser discriminado”.

O presidente da Fifa garantiu que as condições dos trabalhadores, quase todos imigrantes, melhoraram desde que as obras começaram. “Quando cheguei em Doha, vim para ver os alojamentos dos trabalhadores e disse que as condições não eram boas e deveriam mudar, e, assim como a Suíça mudou, o Catar também melhorou”.

Ele fez uma provocação ao dizer que os torcedores podem “sobreviver” sem consumir cerveja durante os jogos. A bebida será vendida apenas nas “fan fests” oficiais e com limitação de quatro copos por torcedor.

Recepção amistosa

Oito estádios vão receber jogos da Copa do Mundo do Catar.
Oito estádios vão receber jogos da Copa do Mundo do Catar. Foto: REUTERS/John Sibley

As críticas a respeito das condições sofríveis dos colaboradores que trabalharam nas obras dos oito estádios contrastam com as palavras de alguns desses trabalhadores, incluindo também voluntários. O queniano Francis é um deles. Ele deixou seu país há oito anos para tentar uma vida melhor no Catar e se aplicou para ser voluntário durante a realização do Mundial.

“Trabalhei na construção dos estádios e não tive problemas”, relatou o queniano ao Estadão, um dos que ajudou a erguer o Al Bayt, estádio que será palco da abertura da competição neste domingo. “Eles (organizadores) têm sido gentis comigo”.

Francis agora é um dos voluntários destacados para trabalhar no Grand Hamad Stadium, centro de treinamento da seleção brasileira durante toda a Copa do Mundo e casa do clube Al Arabi. O local é pequeno, mas bem cuidado e as condições dos gramado são boas. “Eu estou aqui justamente por causa do Brasil”, diz o queniano, fã da seleção brasileira, para quem torcerá no Catar, além de Gana. O clube do qual é fã é o Manchester United. “Gosto do Casemiro e do Fred”.

São muitos os imigrantes no Catar. Eles vêm, no geral, de países pobres da África e da Ásia, como Nepal e Bangladesh. Trabalham como motoristas, seguranças, garçons e em outras funções similares. De Bangladesh veio o jornalista Arafat Zubaear. Ele e seu colega passaram parte da visita ao CT em que treinará a seleção brasileira entrevistando jornalistas brasileiros. “Gosto muito do Brasil. Vou torcer pela seleção brasileira”, diz ele.

A Copa do Mundo do Catar é considerada uma das edições mais controversas da história do torneio.
A Copa do Mundo do Catar é considerada uma das edições mais controversas da história do torneio. Foto: EFE/EPA/ABIR SULTAN

Em seu país, sobretudo na capital Daca, há uma polarização na torcida. Metade apoia a seleção brasileira e a outra metade, a Argentina.

É possível notar, andando pelas ruas, instalações do Mundial e outros lugares no Catar que existe um esforço da nação árabe para ser gentil e afável na recepção aos torcedores estrangeiros. A estimativa é de que mais de 1 milhão de turistas tenham viajado ao país para assistir às partidas da Copa.

No aeroporto, a entrada dos turistas tem sido rápida. Ainda que centenas de voos tenham chegado ao Catar, o processo é célere, uma vez que, na imigração, são poucas as perguntas. É checado o número do passaporte e do Hayya Card. Na saída do aeroporto, os funcionários das operadoras ligadas à organização do Mundial entregam um chip de celular gratuito por dois ou três dias. Depois disso, o turista tem de fazer uma recarga para continuar usando o serviço.

Um problema, no entanto, tem sido o funcionamento do Hayya Card, espécie de visto obrigatório para entrar no país. Há relatos de que o documento digital, que guarda os dados do visitante, seja torcedor, jornalista ou da organização, muitas vezes apresenta falhas e fica sob revisão.

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